quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O fim do mundo


João Paulo não era a mais querida das pessoas. Declarava-se único. Não só no sentido de que se sobressaía, ou era importante, diferente, mas no sentido mais bruto da palavra. João Paulo alegava que somente ele existia. Todo o resto era fantasia de sua mente. Não existia nada além dele e do vazio, e tudo o que ele sentia era falso. Ele apenas achava que sentia. Nenhuma informação saía do cérebro; tudo se processava ali dentro mesmo: as sensações, sentimentos, impressões... Até as outras pessoas. Só havia João Paulo. Isso lentamente o tornava inescrupuloso e insensível - nas opiniões alheias, claro, para as quais não ligava. Vivia em função de si - e somente de si. Uma noite ele fechou os olhos para dormir. O mundo parou e não voltou a girar mais. João Paulo nunca mais abriu os olhos. Ninguém nunca lhe disse se estivera errado.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Concepção


O que é um clipe (ou o que são clips)? Um clipe é muito mais que ele mesmo. Um clipe é a concepção de clipe. Um clipe é a própria idéia de clipe. Não é só uma coisa que serve pra prender papel, limpar unhas imundas e abrir portas em Hollywood. O desocupado que concebeu o clipe em seu berço de criatividade está milionário. Porque as coisas são assim. É de idéias que gira o mundo.

Presentes


Era uma vez uma menina que ganhava tudo o que queria. Era só pensar que já estava praticamente na sua frente. E era uma menina que queria bastante: já nasceu, por escolha própria, num berço de ouro, isso de fato.

Todos adoravam concender seus desejos, dar-lhe presentes. Brinquedos, dos mais variados. Bonecas. Roupas logo depois. Brincos, anéis, pulseiras... E festas, muitas festas. Pedia e já acontecia. Todo mundo lhe dava tudo.

Estava na flor da idade e dos presentes que recebia quando recebeu dum médico a notícia de que ganhara uma poderosíssima doença degenerativa cerebral e que tinha apenas alguns minutos de vida.

(Que é? Se pode a vida, por que não poderia a morte presentear?)

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Machado



Filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira, o menino não tinha acesso à educação. Mas sua mãe, prezando pela educação que não tivera, tomava emprestado livros que paravam nas mãos brutas da criança. Pegava os livros, punha-os de cabeça pra baixo, de um lado, de outro, procurava o que fazer com eles. Até que as letras começaram a fazer sentido, e as palavras, frases, e, daí, a mágica, a se formar.


O menino vendia doces na rua para se alimentar - o que, posto dessa maneira, não deixa de ter seu quê de ironia. Ter aquele nível de pigmentação melanínica naquela época era estar condenado a ter as mãos sempre brutas. Não aquele menino, não no sonho dele. Ele não queria ter as mãos toscas para sempre. Queria criar, queria inventar palavras, palavras que encantassem - e, mais, que transcendessem, assim como ele, o tempo em que se encontravam.


Arranjou uma madrinha que cuidou dele. Levou-o para sua padaria, onde, conversando com o padeiro francês, aprendeu nova língua. O agora jovem viu necessidade de deixar aquele lugar que não mais lhe servia. Foi para um jornal. Escreveu até que adquirisse certa fama.


Saiu do jornal, abriu uma loja naquela cidade em crescimento. Vendeu e cresceu. Abriu mais lojas que quebravam as outras menores. Comprou, só para responder ao ego, o antigo jornal onde trabalhava. E uma editora. E livros, muitos livros. Não lia, só os comprava.


Ascendeu socialmente. Comprou a liberdade de alguns homens, fez alguns contratos com alguns homens livres demais e terminou com a mão mais tosca das mãos. O agora senhor matara agora o menino que levava nas costas e queria reinventar o mundo com sua pesada arma de guerra.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Relógio do braço direito


Cinco e quarenta. Eu acho. Olho para o relógio no braço direito. Cinco e quarenta e um. Olho para o da mesa de cabeceira. Cinco e trinta e nove. É, fazendo a média dá cinco e quarenta mesmo. (Meu relógio biológico está bom como sempre).

Levanto, encaro-me no espelho a primeira vez. Lavo as mãos. Cinco e cinqüenta. Tomo um lento banho quente. Seis e um. Olho-me de novo no espelho enquanto tento arrumar o pouco cabelo que me resta. Seis e um e meio. Sigo para o quarto. Visto a cueca, as meias, a camisa, abotôo a camisa, gravata, calça, cinto. Celular. Não gosto dele. Meu braço direito diz que é seis e seis e o celular diz que é seis e sete. Obviamente está errado.

Desço as escadas. Lavo as mãos, frito ovos, como pão integral, bebo suco de caixa e ainda levo uma barrinha de cereais para o trabalho. Seis e vinte. Isso! Bom tempo.

Entro no carro. Seis e vinte e um. Hoje não vou para o trabalho.

Saio do carro, já são seis e cinqüenta e um. É por isso que saio cedo de casa. A rua sempre me atrasa. Odeio atrasos. Cumprimento os funcionários cordialmente. Seu José, sempre bem animado. Seis e cinqüenta e nove. É gente demais com quem falar. Chego na sala. Sete em ponto. Gosto de chegar na hora, nem que seja uma hora mais cedo. Vou lavar as mãos. Tenho tempo, e tudo aqui é muito sujo mesmo.

É minha primeira visita ao psicólogo, pensei. Não sei porque estou aqui, pensei. Tá, eu só venho aqui essa vez. Vim mesmo só pra agradar à velha, lá, que vive insistindo para que eu venha. Assim eu a acalmo. É. Oito e um. A psicóloga não chegou. Odeio atrasos.Vou lavar as mãos.

Folheio a Caras, IstoÉ, Contigo, Veja, Época, Discutindo Literatura, uma revista anarquista de produção local independente, a playboy do mês (depois tive que lavar as mãos)... Oito e dez. Droga.

Depois de cinco intermináveis minutos a pomposa senhora entra com aquele ar angelical de quem não comete pecados. E era assim mesmo que eu pensava. Alguém que trabalha examinando as burradas dos outros e tentando corrigi-las não pode cometer essas coisas, né? Bem, a secretária veio me chamar. Oito e dezesseis. Lavo as mãos e vou.


***


Nove e quarenta e sete. Volto pra casa revoltado. Paguei pra uma puta me dizer por uma hora que eu tenho TOC.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

A noite /1

Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravassada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosseembora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.


(Eduardo Galeano; in: O Livro dos Abraços, p. 90)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Alvarenga Peixoto


Renomado político presenteado com o mesmo nome da figura histórica, também era poeta. Casara-se com Bárbara, mas sentia-se mais amarrado às formas clássicas.
Fazia o que achava melhor para ser um bom marido. Levava sempre Bárbara às suas viagens ao Velho Mundo e ensinava-lhe coisas diversas. Como bom apreciador, recitava diversas poesias. Sempre tinha uma na ponta da língua.
Alvarenga Peixoto, como bom político, ia a diversas reuniões. E, como era bom para sua imagem, levava consigo Bárbara, para quem fazia questão de pagar as maiores belezas - jóias, roupas, cuidados diversos. E ia Bárbara, linda, incomparável, de braços dados a Alvarenga Peixoto. Escutava, paciente, todas aquelas conversas chatas sobre temas que não lhe interessam e que, pensava Alvarenga Peixoto, ela não devia entender mesmo. Mas era a mais lady das ladies onde quer que fosse.
Um dia, aparentemente do nada, Bárbara chegou à sala, encarou Alvarenga Peixoto, que coçava seu oblíquo bigode, por alguns segundos - e disse, com seu jeito sempre delicado:
- Querido, você é um urubu.
E foi só então que Alvarenga Peixoto entedeu poesia.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tempo


- Estão vendo aqui, meus queridos? Essa era a foto de vovô no primário. Esses aqui eram meus coleguinhas. Perdi contato com eles logo que saí de lá. Fui pra outro colégio. Esse aqui, ó. Aqui já sou eu no ginásio. Eu e a turma da pelada. Tem umas das meninas ali atrás também. Apesar de jogarmos sempre juntos, nunca nos demos muito bem, não. É que eu era meio introvertido nessa época, sabe? Bem, aqui eu já tou mais velho. Olha como meu palitó era bonito. Meu avô que me deu. Já pensou, meus filhos, meu avô? O avô do avô de vocês? Pois é. Já era um homem bem velhinho... Mas gostava tanto de mim... Assim como eu gosto de vocês, claro. Continuando... Esses aqui eram meus colegas de turma do científico. É... Ninguém gostava de mim. Essa aqui eu já tava na faculdade. Eram gente boa. Mas desatinados, sabe como é? Eu não andava muito com eles. Mamãe não deixava... Na verdade, eu é que não queria mesmo. É... Não, essa não. Pula essa. Tou feio nela. Ah, essa aqui. Eu e o pessoal do escritório. ... Todos me odiavam. Depois de um tempo, eu que assumi a chefia de lá. Ah, bons tempos. Booons tempos. Bem, agora vão, meus filhos, que a mãe de vocês tá chamando. É... Muito tempo se passou. Juntei muitos inimigos e fiz muitas inimizades desnecessariamente. Pensando bem, tudo o que me resta fazer agora é descobrir os telefones deles e ligar pra saber se eles já morreram.

Urubus e sabiás


"Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa , e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.


— Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

— Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.

E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...

MORAL: Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."


("Estórias de quem gosta de ensinar — O fim dos Vestibulares", editora Ars Poetica — São Paulo, 1995, pág. 81.)

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Pizza e os Modos de Produção

Tenhamos um texto didático, uma aula dinâmica, até mesmo interdisciplinar. Envolvamos a perfeita química da pizza aos modos de produção mais comuns aplicados ou pensados ao longo da história do homem.


Comunismo Primitivo

Nessa época, os machos corriam atrás das pizzazinhas, das maiores às menores, enquanto as mulheres cuidavam do cultivo dos condimentos. Quando as pizzazinhas acabavam, eles migravam para outra região que continha mais delas. Eram todas divididas igualmente pelo grupo. Isso quando um não lutava com outro por sua fatia, e o vencedor, de quebra, ainda virava o chefe da tribo. Essa divisão de poder terminou gerando uma maior desigualdede de poder, o que levou ao...

Escravismo

Muito utilizado na Grécia e na Roma Antiga. Aqui eu sou dono de tudo. A pizza, o ingrediente, a terra, você que produz... E eu ainda como a pizza. Não é bom? Os escravos não acharam. Uma série de transformações históricas nos levou ao...


Feudalismo










Não, aqui eu não sou mais dono de tudo. Apenas da terra, do que é produzido nela e da pizza. Você não é dono de nada, embora more numa terrinha qualquer e esteja preso a ela. Você tem direito a comer um pouco da pizza, mas uma vez por semana é você quem vai fazê-la pra mim. Ninguém gostou disso também. Todo mundo queria muita coisa pra si, e foi aí que surgiu o...



Capitalismo






Aqui você pode ter onde morar. Eu não ligo mais. Agora o fato é que você vai trabalhar na minha terra, na minha fábrica ou na minha loja. Seja colhendo os ingredientes, seja fabricando a massa ou vendendo a pizza pronta. Eu quero a pizza toda pra mim, e quando mais pizza eu tiver, mais pizza eu comerei. Pizza, pizza, pizza. Naturalmente, é o mais falho dos sistemas, mas é o que está aparentando ser mais sustentável graças à propaganda. Os comedores de pizza alegam que todos comem pizza, e mesmo você não comendo pizza e reconhecendo isso, não faz nada a respeito. Em resposta a ele, surgiram outros, mais avançados.



Anarquismo



Alguém fez a pizza. OBA! Vamos atrás do cara bater nele e pegar o que conseguirmos!




Socialismo







Todos produzem a pizza e entregam que eu devolvo pra todo mundo. (He-he).




Neoliberalismo




Ok, não é bem um modo de produção. Mas que inverte valores, ah, isso inverte.



...




Considerações a parte, isso só me faz pensar que o ser humano é o único inseto que inventa seu próprio inseticida. Inventou a roda, foi atropelado por ela. Inventou a bomba, foi explodido por ela. Inventou a sociedade, foi esmagado por ela. Inventou a pizza... Bem...


domingo, 25 de novembro de 2007

Homem da sacola

Praia do Futuro – há uns, talvez, vinte dias. Não sei. Hoje não tenho mais a noção do tempo que passa. Morava sozinho, e gostava de esporadicamente ir a praias – ia sozinho mesmo. Levava sempre sua sacola com os pertences nessas ocasiões. Odiava o apelido que ganhara por isso. Era o homem da sacola para os pivetes que, ousadamente, ainda me pediam trocados.
A última dessas idas não tinha sido diferente neste aspecto; tudo corria absurdamente comum até quando reencontrou um de seus amigos ainda dos tempos da faculdade, o que considerava o melhor deles, com quem perdera contato – e que assimilara o hábito de aproveitar o vasto litoral. Estavam ambos sozinhos, e passaram o dia juntos, relembrando os bons tempos.
Hora da fome, trocaram de roupa e sentaram para comer numa daquelas barracas adjacentes. Beberam aos bons tempos. E às mulheres. Ah – as mulheres daquele tempo. (E os bons tempos com as mulheres daquele tempo). Dona Rosa, Jasmim, Violeta, Margarida... O jardim inteiro.
Despediram-se e cada um seguiu seu caminho. O homem da sacola chegou em casa e deu-se conta: esquecera sua sacola. A crise que rapidamente lhe abateu fez com que desesperadamente fosse à procura de sua sacola, mesmo não contendo nada de grandes valores: apenas calção, toalha e um óculos de sol velho.
Metódico que era, refez todo o percurso do dia. Foi das águas da praia já enegrecidas pela pouca contribuição da lua ao lugar onde bateram bola, até que chegou ao boteco. A garçonete lembrou-se do peculiar homem ainda em traje de praia, apesar da tarde hora. Sorriu. Percebi que o senhor tinha esquecido e guardei aqui, pode pegar. Obrigado. Sorriu de volta. Segurou as alças – agora recuperara sua identidade, e voltou contente pra casa.
Chegado em casa ia guardar os itens que há pouco recobrara. Desfez o nó usual. Ia já retirar o conteúdo quando deparou-se com um bilhete. Me desculpe pelo roubo. Me ligue. O número estava logo embaixo, mas não dera muita atenção. Retirou os itens. A toalha. Os óculos. A sunga não estava lá. Puxou o último item: a peça de baixo de um biquíni.
Eu sentia sono agora. Ia deitar-me. Me ligue...

domingo, 11 de novembro de 2007

Como o seio...

Ai, que mau teórico eu sou! Não admira que rigorosos professores de pós-graduação freqüentemente repreendam seus orientandos por incluir citações minhas nos seus projetos de tese! “Rubem Alves não é cientista. Ele é um escritor!” Eles estão cobertos de razão. Não sou cientista. A ciência pensa através de conceitos abstratos. Eu penso através de imagens. São imagens que me fazem pensar. Mais do que isso: é através das imagens que tento ensinar. E ao convocar minhas idéias para escrever esse artigo foram imagens que acudiram ao meu pedido de socorro.

Eu me vi viajando com meus filhos pequenos de 8 e 6 anos de idade. Do lado de fora do carro cenários deslumbrantes, uma festa para os olhos. Eu, pai educador, queria contribuir para a educação dos sentidos dos meus meninos. Mostrava-lhes os cenários. Queria que eles aprendessem a alegria de ver. Mas eles não viam. Não demonstravam o menor interesse pelas longínquas montanhas que me tiravam o fôlego. Para me apaziguar e para que eu não os chateasse mais, talvez dissessem: “Que legal!” Mas era da boca para fora. Logo voltavam ao seu foco de interesse: o espaço apertado do banco de trás do carro onde se encontravam. E ali ficavam absortos, brincando com seus carrinhos de plástico. Custou-me tempo para compreender que as crianças vêem com as mãos. O puro “ver” não lhes é suficiente. O “ver” só lhes interessa como meio para se tocar um objeto. Pegar para ver.

É o tato que dá sentido à vista. O nenezinho vê, estende seus braços, pega o objeto e o leva à boca. A boca uma dupla função. Primeira, ela suga o leite do seio da mãe. Função prática. O seio como objeto da “caixa de ferramentas”. Segunda, a boca sente a maciez deliciosa do seio. Prazer tátil. O seio como objeto da “caixa de brinquedos”. Mesmo depois que o seio seca, cessando assim sua função prática de alimentar, a criança quer continuar a sugar. Por que esse gesto inútil? Porque a sensação tátil é gostosa. Essa relação primitiva boca-seio contém toda uma teoria metafísica: o mundo é comida. Mais do que comida; o mundo é macio. É por isso que aquele que ama deseja beijar o seio da mulher amada. Parodiando Santo Agostinho: “O que é que beijo quando beijo o seio da mulher amada?” Rilke via, no rosto da amada, estrelas e constelações tranqüilas. Beijo o seio, sim, mas também uma outra coisa: um mundo que deve ter a maciez do seio. Os ursinhos de pelúcia que as crianças abraçam – e os travesseiros macios e perfumados que abraçamos – não contém eles uma lição de metafísica semelhante, uma teoria de como o mundo deveria ser?

Bachelard chama a nossa atenção para a “obsessão ótica” da nossa tradição científica. A palavras “teoria” vem do Grego “theoria”, que quer dizer “contemplar”, “olhar”. Mas, para se ver, é preciso que o objeto esteja distante dos olhos e, portanto, do corpo. Nossa tradição separou a visão do toque. As crianças se recusam a esse corte. Nas lojas de brinquedos os pais conscientes dizem aos filhos pequenos: “Mãozinha para trás...” Eles sabem que, nas crianças, a visão quer tocar. Bachelard nos pergunta, então, se a matéria não tem uma realidade que só pode ser conhecida pelo tato. O jeito de cumprimentar, de abraçar, não dá a conhecer uma pessoa? Aquele “toque” no braço de Fernando Pessoa ( artigo “ Tato” ) o levou a uma experiência de mundo. É assim que ele termina o seu poema: “Assim a brisa nos ramos diz uma imprecisa coisa feliz...” Não é o toque apenas pelo prazer. É o toque para aprender.

Veja os livros, por exemplo. Todos sabem que os livros são para ser lidos. Eles são dados à visão. Mas antes de gozar a sua leitura, eu gozo um livro como objeto tatil. Eu o seguro nas minhas mãos, sinto a textura da capa, das folhas. Nós os conhecemos primeiro com as mãos. Há livros que pedem para serem acariciados, alisados. Minha mão alisando um livro: essa experiência pode provocar meu desejo de lê-lo, ou não.

O tato contém um saber. Talvez, uma provocação ao saber. Faz-nos pensar. Teríamos então de pensar o tato como uma das experiências essenciais que devem acontecer no espaço escolar. O tato incita a inteligência. Há muitos pensamentos que brotam das mãos. Uma mão ferida pensa um martelo. Por que haveria o cérebro de pensar o martelo se a mão não estivesse ferida? Uma mão que segura um cassetete tem, necessariamente, de fazer o cérebro pensar em golpes, da mesma forma como um revólver não mão, ainda que sem balas, nos obriga a fazer pontaria. A ostra constrói a pérola por causa do tato. O grão de areia a faz sofrer. Seu corpo então pensa uma coisa lisa que não a faça sofrer...

Nunca li nada sobre a relação entre o tato e a inteligência. Essas são minhas primeiras idéias. Não sei como ligá-las ao espaço escolar. Mas sei que o espaço escolar deve ser como o seio. Deve dar leite e deve ser macio. Como o seio da Da. Clotilde...


(Rubem Alves)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

(em) Minutos




Estava, naquele dia, junto à janela. Não era o costumeiro - queria experimentar novos ares. O passeio ia bem. Regular, na verdade. A mesma velha cidade.
Também não costumava observar os que entravam e saíam. Dessa vez, entretanto, não era uma das mesmas velhas pessoas que entrava. Exalava primaveras e violetas. Sentou-se na minha frente.
Seria indelicadeza não notar que traços suaves - até finos - tinha. Formatos bem calculados, simétricos. Madeixas escarlates, fazendo incendiar até ao mais desavisado. Um quase imperceptível cordão dourado que se perdia em sua candura angelical.
Pensei em tocar-lhe. Dizer-lhe o quanto lhe queria. Não, pensei, não gostaria que me perturbassem, fosse eu.
Era o divino, eu, o profano. Este não ousa aproximar-se daquele. Um teme sua pureza. Sua perfeição. O outro, seu desprezo. Mas como um ímã, atraem-se. Temem-se e vivem em profunda conjunção carnal. Completam-se, enfim.
Assim éramos. Embora provavelmente só eu o percebesse. Pensava em como éramos iguais. Em como pensávamos iguais. Mesmas crenças - ou descrenças, amores, ódios, medos e modos. Em como nos beijaríamos, apaixonados, ao final de uma comédia romântica. Mas essa era minha tragédia grega. Eu estava a ser castigado por um crime que não cometera. Diria Sófocles ter algo a ver com males cometidos pelos meus antepassados. Pois saiba que, naquele momento, sem hesitação, trocaria todos os antigos espíritos que, biologicamente falando, permitiram minha existência por um momento nosso a sós.
Tornar a amar fez-me bem. Amar profundamente; tão profundamente que o ato de fazê-lo torna-se o real adorado; amar o fato de amar. Ou só o poder amar.
Amei, sonhei e pensei o mundo em instantes. Também em instantes o ônibus parou, ela desceu, e me dei conta de ter me apaixonado, sofrido, matado e morrido em tão breve espaço de tempo. O ônibus retomou seu trajeto logo em seguida e levou todo o amor que poderia ter sido - e que não foi.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Os 100 maiores gênios vivos


"O primeiro colocado na lista dos top 100 da empresa Synectics ficou o químico suíço Albert Hofmann, inventor do LSD, empatado com o britânico Timothy John Berners-Lee, criador do domínio WWW (World Wide Web).

Entre outros, a lista tem ainda o líder da al-Qaeda, Osama Bin Laden, e Bill Gates, criador da Microsfot, ambos na 43ª colocação. Aparecem ainda os cineastas Steven Spielberg (25º) e Quentin Tarantino (100º), o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov (20º), o cantor Stevie Wonder (49º), e a criadora de Harry Potter, J.K. Rowling (83º).

Niemeyer, que fará 100 anos dia 15 de dezembro próximo, criou Brasília, o Memorial da América Latina (São Paulo), o MAC (Niterói) e o conjunto da Pampulha (Belo Horizonte), entre outras obras."
(...)

"Segundo explicação da Synectics, a definição de gênio é uma combinação de vários fatores.

Nas palavras da empresa que criou o ranking:

"É muito difícil achar uma definição para o conceito. A maioria das pessoas seria capaz de nomear algumas pessoas que julgam qualificadas para ser gênios. Mas elas talvez achem mais difícil chegar a um acordo entre elas quando comparando listas. Não é fácil quantificar genialidade. Da Vinci é um gênio? Será por causa de seu talento fenomenal? Ou será que isso tem a ver com conquistas ao longo da vida? Será que é pelo reconhecimento acumulado ao longo dos anos que se mede isso? Ou pelo impacto que isso teve no mundo. Ou algo que tenha a ver com os grandes avanços que Ele trouxe para o mundo. Avanços que fizeram do mundo inteiro um lugar diferente. A Synectics acredita que o gênio é uma combinação de todos os fatores listados acima"

Confira a lista abaixo:

Posição Nome País Atuação Pontos
1°) Albert Hoffman Suíça Químico 27
Tim Berners-Lee Grã-Bretanha Cientista da computação 27
3°) George Soros EUA Investidor e filantropia 25
4°) Matt Groening EUA Comediante 24
5°) Nelson Mandela África do Sul Político e diplomata 23
Frederick Sanger Grã-Bretanha Químico 23
7°) Dario Fo Itália Escritor 22
Steven Hawking Grã-Bretanha Físico 22
9°) OSCAR NIEMEYER BRASIL ARQUITETO 21
Philip Glass EUA Músico 21
Grigory Perelman Rússia Matemático 21
12°) Andrew Wiles Grã-Bretanha Matemático 20
Li Hongzhi China Líder espiritual 20
Ali Javan Irã Engenheiro 20
15°) Brian Eno Grã-Bretanha Músico 19
Damian Hirst Grã-Bretanha Artista 19
Daniel Tammet Grã-Bretanha Lingüista 19
18°) Nicholson Baker EUA Escritor 18
19°) Daniel Barenboim Não informado Músico 17
20°) Robert Crumb EUA Artista 16
Richard Dawkins Grã-Bretanha Biólogo e filósofo 16
Larry Page e Sergey Brin EUA Editor 16
Rupert Murdoch EUA Editor 16
Geoffrey Hill Grã-Bretanha Poeta 16
25°) Garry Kasparov Rússia Enxadrista 15
26°) Dalai Lama Tibete Líder espiritual 14
Steven Spielberg EUA Cineasta 14
Hiroshi Ishiguro Japão Cientista de robótica 14
Robert Edwards Grã-Bretanha Pioneiro no 'bebê de proveta' 14
Seamus Heanley Irlanda Poeta 14
31°) Harold Pinter Grã-Bretanha Escritor e dramaturgo 13
32°) Flossie Wong-Staal China Biotecnologista 12
33°) Bobby Fischer EUA Enxadrista 12
Prince EUA Músico 12
Henrik Gorecki Polonês Compositor 12
Avram Noam Chomski EUA Filósofo e lingüista 12
Sebastian Thrun Alemanha Cientista de robótica 12
Nima Arkani Hamed Canadá Físico 12
Margaret Turnbull EUA Astrobiólogo 12
40°) Elaine Pagels EUA Historiadora 11
Enrique Ostrea Filipinas Pediatra e neonatologista 11
Gary Becker EUA Economista 11
43°) Mohammed Ali EUA Boxeador 10
Osama Bin Laden Arábia Saudita Líder islâmico 10
Bill Gates EUA Empresário 9
Philip Roth EUA Escritor 9
James West EUA Inventor 9
Tuan Vo-Dinh Vietnã Biomédico 9
49°) Brian Wilson EUA Músico 9
Stevie Wonder EUA Músico 9
Vint Cerf EUA Cientista da computação 9
Henry Kissinger EUA Diplomata 9
Richard Branson Grã-Bretanha Publicitário 9
Pardis Sabeti Irã Biólogo 9
Jon de Mol Holandês Produtor de TV 9
Meryl Streep EUA Atriz 9
Margaret Attwood Canadá Escritor 9
58°) Placido Domingo Espanha Tenor 8
John Lasseter EUA Animador digital 8
Shunpei Yamazaki Japão Cientista da computação 8
Jane Goodall Grã-Bretanha Antropóloga 8
Kirti Narayan Chauduri Índia Historiadora 8
John Goto Grã-Bretanha Fotógrafo 8
Paul McCartney Grã-Bretanha Músico 8
Stephen King EUA Escritor 8
Leonard Cohen EUA Poeta e músico 8
67°) Aretha Franklin EUA Cantora 7
David Bowie Grã-Bretanha Músico 7
Emily Oster EUA Economista 7
Steve Wozniak EUA Co-fundador da Apple 7
Martin Cooper EUA Inventor do celular 7
72°) George Lucas EUA Cineasta 6
Niles Rogers EUA Músico 6
Hans Zimmer Alemanha Compositor 6
John Williams EUA Compositor 6
Annete Baier Nova Zelândia Filósofa 6
Dorothy Rowe Grã-Bretanha Psicóloga 6
Ivan Marchuk Ucrânia Artista e escultor 6
Robin Escovado EUA Compositor 6
Mark Dean EUA Inventor 6
Rick Rubin EUA Músico e produtor 6
Stan Lee EUA Editor 6
83°) David Warren EUA Engenheiro 5
Jon Fosse Noruega Escritor e dramaturgo 5
Gjertrud Schnackenberg EUA Poeta 5
Graham Linehan Irlanda Escritor e dramaturgo 5
J. K. Rowling Grã-Bretanha Escritora 5
Ken Russell Grã-Bretanha Cineasta 5
Mikhail T. Kalashnikov Rússia Designer de armas 5
Erich Jarvis EUA Neurobiólogo 5
91°) Chad Varah Grã-Bretanha Fundador dos Samaritanos 4
Nicolas Hayek Suiça Empresário 4
Alastair Hannay EUA Filósofo 4
94°) Patricia Bath EUA Oftalmologista 3
Thomas A. Jackson EUA Engenheiro aeroespacial 3
Dolly Parton EUA Cantora 3
Morissey Grã-Bretanha Músico 3
Michael Eavis Grã-Bretanha Organizador 3
Ranulph Fiennes Grã-Bretanha Aventureiro 3
100°) Quentin Tarantino EUA Cineasta 2 "

(...)

"O que faz um gênio ser o que é? Todo mundo, até quem não é cientista sabe que Stephen Hawking é um gênio. Mas o que é que Stephen Hawking tem para ser um gênio? Será que seu gênio pode ser comparado ao de outros? Será que ele é mais ou menos genial do que Zinedine Zidane, por exemplo? Será que Zinedine Zidane é gênio mesmo? Quem mais é um gênio? Essas são as questões examinadas neste breve artigo. Quanto mais eu pensei sobre a genialidade, mais me convenci de que ela está envolvida num grande segredo. E isso com certeza nos fascina. E, para muitos, “gênio” é a maior distinção que pode ser atribuída a uma pessoa."

Fonte e texto completo em: http://www.maratimba.com/noticias/news.php?codnot=213725

sábado, 20 de outubro de 2007

A Reforma e a Revolução na Venezuela







Chávez dá um novo impulso à revolução venezuelana apresentando 33 reformas à Constituição. O capital treme de medo e de ódio.


Chávez dá um novo impulso à revolução venezuelana apresentando33 reformas à Constituição. Os reacionários gritam que uma ditadura se instala, o que só pode provocar o riso de qualquer um que conhece a situação da Venezuela e que conhece o reino de “liberdade e democracia” imposto sob a base da corrupção e das baionetas pelos regimes “democráticos” capitalistas.
Já os sectários de direita e de ultra-esquerda no movimento operário e na pequena burguesia, incapazes de entender o processo de revolução permanente que se desenvolve, se somam à reação gritando que Chávez não faz tudo o que estes sectários sonharam que seriam uma revolução. Não entendem nem a revolução, nem a psicologia e nem as ações das massas. Sonharam com um esquema e agora estão gritando na estação enquanto parte o trem da revolução feita pelas massas.
O imperialismo sabe muito bem do que se trata. A mais prestigiosa revista econômica internacional, The Economist, escreve: “Marx, Engels y Cristo, é o que lê Chávez. E Chávez assina com ‘pátria ou morte’. Como sempre, com o senhor Chávez a retórica pode andar na frente dos fatos, ou em outras palavras, ainda não estamos lá, mas a direção da viagem parece muito clara”. E a direção da viagem é em direção à revolução proletária e a expropriação geral da burguesia.
A seguir os principais pontos da reforma proposta por Chávez:


1. A decisão de Chávez de criar a obrigatoriedade constitucional de jornada máxima de seis horas de trabalho é de uma importância histórica. O Art. 90 da Constituição da Venezuela passa a determinar: “Para que os trabalhadores disponham de tempo suficiente para o desenvolvimento integral de sua pessoa, a jornada de trabalho diurna não excederá de seis horas diárias nem de trinta e seis horas semanais e a noturna não excederá de seis horas diárias nem de trinta e quatro horas semanais. Nenhum patrão ou patroa poderá obrigar os trabalhadores, ou trabalhadoras, a trabalhar horas ou tempo extraordinário. Da mesma forma deverá programar e organizar os mecanismos para a melhor utilização do tempo livre em benefício da educação, formação integral, desenvolvimento humano, físico, espiritual, moral, cultural e técnico dos trabalhadores e trabalhadoras. Os trabalhadores e trabalhadoras têm direito ao descanso semanal e férias remuneradas nas mesmas condições que as jornadas efetivamente trabalhadas”.
Esta decisão é de uma importância extraordinária para a classe trabalhadora. E está na contramão da necessidade burguesa de impor uma super-exploração através da “redução do custo do trabalho”.O Movimento das Fábricas Ocupadas definiu a jornada de trabalho de seis horas na Cipla, em dezembro de 2006. Esta foi a primeira conquista revogada pelo interventor nomeado a pedido do governo federal, após a ocupação policial-militar da fábrica controlada pelos trabalhadores.Adotar esta medida indica com que classe social pretende Chávez aprofundar a revolução venezuelana.


2. A decisão de modificar o Art. 112, que é onde se estabelece o papel do Estado de defesa do regime da propriedade dos grandes meios de produção, é um golpe neste regime e na classe burguesa. Este artigo atualmente diz: “O Estado promoverá a iniciativa privada...”.


3. A reforma constitucional propõe: “O Estado promoverá o desenvolvimento de um Modelo Econômico Produtivo, intermediário, diversificado e independente, fundado nos valores humanísticos de cooperação e de preponderância dos interesses comuns sobre os individuais, que garanta a satisfação das necessidades sociais e materiais do povo, a maior soma de estabilidade política e social e a maior soma de felicidade possível. Desta forma incentivará e desenvolverá distintas formas de empresas e unidades econômicas de propriedade social, tanto direta ou comunal como indireta e estatal, assim como empresas e unidades econômicas de produção e ou distribuição social, podendo estas ser propriedades mistas entre o Estado, o setor privado e o poder comunal, criando as melhores condições para a construção coletiva e cooperativa de uma Economia Socialista.”
Ou seja, de promotor da propriedade privada, o Estado passa a promotor da propriedade social. Este artigo não elimina evidentemente a propriedade privada, mas lhe retira um apoio sem o qual não pode viver. Afinal, segundo o Manifesto Comunista, "O Estado moderno é o Comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa".


4. No Art. 115 que afirma: “Se garantirá o direito de propriedade”...Sem eliminar o direito à propriedade, introduz todo o conceito de primazia da propriedade social sobre a propriedade privada e conclui com o que é um enorme passo: O direito de “... sem prejuízo da faculdade dos Órgãos de Estado, de ocupar previamente, durante o processo judicial, os bens objeto de expropriação, conforme os requisitos estabelecidos na lei”. Para o movimento operário isto é, na Venezuela, um enorme avanço e instrumento de mobilização. As fábricas ocupadas passam a poder, legalmente, ser assumidas por órgãos governamentais rapidamente após a ocupação.


5. Enquanto vemos em todo o mundo os governos, inclusive o governo Lula, privatizando estradas e a Seguridade Social, Chávez reafirma no Art. 156 que “É de competência do Poder Público Nacional: ... o regime e organização da Seguridade Social...., a conservação e administração e aproveitamento das autopistas e estradas nacionais”. Além disso reafirma que é competência do Estado a exploração, industrialização e comércio das reservas de petróleo, gás e outros minerais.


6. No atual Art. 158, que é onde se “garante” que o papel do Estado é de “aprofundar a democracia”, se introduz o conceito de “Democracia Socialista”, completamente estranho ao Estado burguês: “O Estado promoverá como política nacional a participação protagônica do povo transferindo poder e criando as melhores condições para a construção de uma Democracia Socialista”.


7. No Art. 184 introduz um elemento de auto-organização das massas: “A Comunidade organizada terá como máxima autoridade a Assembléia de cidadãos que com tal virtude designa e revoga os órgãos do Poder Comunal nas comunidades, Comunas e outros entes político-territoriais que se conformemna cidade, como unidade política primária do território”. Cabe ao movimento popular e operário tomar isto ao pé da letra e estabelecer verdadeiros órgãos de poder dos oprimidos e explorados”.


8. Atualmente a Constituição da Venezuela reza o mesmo que o Brasil, os EUA, e outros países onde a eleição da democracia burguesa é apresentada como uma verdadeira democracia. O que é uma tremenda farsa, como sabem todos os socialistas.


9. O Art. 225 diz que atualmente o mandato é de seis anos e que o presidente só pode ser reeleito uma vez. Com a reforma passa a ser de sete anos e o presidente pode ser reeleito sem impedimentos para outros períodos. Imediatamente se armou uma gritaria reacionária acusando Chávez de pretender ser um ditador. A histeria é hipócrita pois não há qualquer impedimento para esta reeleição na França, Alemanha, Itália e outros países. Aliás, a eleição e, portanto, a reeleição, é produto do mandato conferido e ninguém deveria ter o direito de decidir quem o povo “não” pode eleger como seu representante. O povo deve poder eleger e revogar livremente os mandatos.
O Art. 307 passa a afirmar: “Se proíbe o latifúndio por ser contrário ao interesse social. A República determinará mediante Lei a forma na qual os latifúndios serão transferidos para a propriedade do Estado ou dos entes ou empresas públicas, cooperativas, comunidades ou organizações sociais capazes de administrar e fazer produtivas as terras”. Esta é uma medida que dará um impulso imenso à economia e salvará milhões de venezuelanos. É a Reforma Agrária que esperam milhões de brasileiros.


10. O Art. 318 atual afirma: “O objetivo fundamental do Banco Central da Venezuela é conseguir a estabilidade de preços e preservar o valor interno e externo da unidade monetária... O Banco Central da Venezuela é pessoa jurídicade direito público com autonomia para a formulação e o exercício das políticas de sua competência.


11. A reforma inverte isso: “O sistema monetário nacional deve buscar a conquista dos fins essenciais do Estado Socialista e o bem estar do povo, acima de qualquer outra consideração... O Banco Central da Venezuela é pessoa jurídica de direito público sem autonomia para a formulação e o exercício das políticas correspondentes e suas funções estão submetidas à política econômica geral e ao Plano Nacional de Desenvolvimento para alcançar os objetivos superiores do Estado Socialista e a maior soma de felicidade possível para o povo.”


12. E por fim, adota medidas que, evidentemente, não fazem parte das disposições do Estado burguês para manter a “Lei e a Ordem”. O Art. 328 atual afirma: “A Força Armada Nacional constitui uma instituição essencialmente profissional, sem militância política, organizada pelo Estado para garantir a independência e a soberania da Nação... está a serviço exclusivo da Nação e em nenhum caso de pessoa ou parcialidade política alguma. Seus pilares fundamentais são disciplina, a obediência e a subordinação”.
Ou seja, é o instrumento da reação disfarçado de “neutro”. A reforma define que “A Força Armada Bolivariana constitui um corpo essencialmente patriótico popular e antiimperialista, organizada pelo Estado para garantir a independência e a soberania da Nação, preservá-la de qualquer ataque externo ou interno e assegurar a integridade do espaço geográfico, mediante o estudo, planificação e execução da doutrina militar bolivariana, a aplicação dos princípios da defesa militar integral e a guerra popular de resistência ... No cumprimento de suas funções estará sempre a serviço do povo venezuelano em defesa de seus sagrados interesses e em nenhum caso ao da oligarquia ou poder imperial estrangeiro. Seus pilares fundamentais são esta constituição e as leis assim como a disciplina, a obediência e a subordinação. Seus pilares históricos estão no mandato de Bolívar: “libertar a pátria, empunhar a espada em defesa das garantias sociais e merecer as bênçãos do povo”.


13. E no Art. 329 constitui a “Milícia Popular Bolivariana como parte integrante da Força Armada Bolivariana” e determina que seja composta pelas “unidades e corpos da reserva militar”, que são mais de um milhão e meio de venezuelanos que foram convocados por Chávez a se alistar na Reserva Militar nos últimos anos para preparar-se para resistir a uma invasão norte-americana. A composição, portanto, da Milícia Po pular Bolivariana é essencialmente popular e nunca é demais lembrar o papel revolucionário que jogou a Guarda Nacional na Comuna de Paris. O Estado burguês na Venezuela está em desagregação acelerada nos últimos anos.


Esperamos que a adoção destas reformas, por voto popular, em dezembro de 2007, seja um elemento de aceleração desta desagregação e de construção da auto-organização da classe trabalhadora e das massas oprimidas para avançar em direção ao fim do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. O caminho apontado, e necessário, é claro: apesar das inevitáveis confusões e equívocos políticos, frutos da ausência de um verdadeiro partido revolucionário marxista, o caminho apontado vai em direção ao estabelecimentode um regime de propriedade coletiva e planificada centralmente como única saída da barbárie capitalista.
Os olhos de centenas de milhões de oprimidos de todo o mundo estão voltados para a revolução venezuelana.




do site http://www.marxismo.org.br/

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Analista de Bagé

Outra do Analista de Bagé

Existem muitas histórias sobre o analista de Bagé mas não sei se todas são verdadeiras. Seus métodos são certamente pouco ortodoxos, embora ele mesmo se descreva como "freudiano barbaridade". E parece que dão certo, pois sua clientela aumenta. Foi ele que desenvolveu a terapia do joelhaço.

Diz que quando recebe um paciente novo no seu consultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois em mulher, segundo ele, "só se bate pra descarregá energia". Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.

- Te abanca, índio velho, que tá incluído no preço.

- Ai - diz o paciente.

- Toma um mate?

- Na-não... - geme o paciente.

- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.

O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:

- Agora, qual é o causo?

- É depressão, doutor.

O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.

- Tô te ouvindo - diz.

- É uma coisa existencial, entende?

- Continua, no más.

- Começo a pensar, assim, na finitude humana em contraste com o infinito cósmico...

- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.

- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia. - Pois vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.

- O senhor vai curar a minha angústia?

- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.

- Mudar o mundo?

- Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.

- Mas... Isso é impossível!

- Ainda bem que tu reconhece, animal!

- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.

- Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice e da gorda.

- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...

- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?

- Me alimento.

- Tem casa com galpão?

- Bem... Apartamento.

- Não é veado?

- Não.

- Tá com os carnê em dia?

- Estou.

- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.

- O Freud não me diria isso.

- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?

- Não.

- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.

- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do
que tudo.

Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta:

- É pior que joelhaço?



Luis Fernando Veríssimo, no livro "Todas as histórias do analista de Bagé".

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Abraço



- Jorge!... Jorjão!
- ... Ei, rapaz! Quanto tempo!
- É verdade! Vem cá, me dá um abraço!
- Como?
- Me dá um abraço!
- Que é isso, rapaz? Tá me estranhando? Um aperto de mão tá bom.
- Como você mudou, hein? Você nunca negaria nada a um amigo, ainda mais um abraço.
- É que...
- ... me dá um abraço, homem!
- ... eu não quero.
- Por quê?
- Eu não gosto.
- O que há demais num abraço? Duas pessoas ficam juntas, uma bate nas costas da outra, relembram a infância e pronto. Abraço.
- É... Não parece ser tão ruim.
- Então!
- É, tudo bem.



- E então, foi ruim assim?
- Não. Na verdade...
- Doeu?
- Não. Na verdade...
- Olha aí, abraços não são tão ruins assim.
- É, você está certo.



- E o que fazemos agora?
- ... Hm... Que tal um beijo?

"Felicidades...!"



A palavra "felicidade" é curiosa. Certa feita me pediram para escrever uma mensagem para uma recém-nascida num livro que ela só poderia ler quando alcançasse certa idade. "Não escreva nada que vá nos envergonhar", disseram os pais. Que seja.

Quiçá eu não seja assim tão espontâneo. Quiçá não desse certo para fazer repentes mesmo. Diferentemente de outras pessoas que escrevem o que lhes sai na cabeça e agradam a gregos e troianos, eu torço, aprimoro, alteio e limo até que saia o texto cristalino, e só consigo agradar a Agamenon ou Príamo. Mas tive que escrever. E escrevi. Fui simples e fui direto. "Desde o momento em que você nasceu, pequena das bochechas mais rosadas, torci por você - e o faço e o farei desde então. Voto por sua felicidade, e todos os fatores que sejam necessários para que ela exista". Pela escassez de linhas (por que nunca pensam que poderíamos querer escrever mais?), foi isso que consegui extrair da minha mente com aquela caneta da Padaria Do Seu Manoel e o urso Pooh me encarando.

Muitos cartões de nascimento, aniversário, 15 anos, formatura, dia das mães e morte têm como 'emblema', em letras garrafais, "Felicidades!". É frase clichê, e poucos se dão ao trabalho de deixar as coisas como estão e tecem intermináveis termos elogiosos que ninguém vai ler ou acreditar. Espere. Clichê? Expressões viram clichê por algum motivo. Ou são boas ou causam impacto. Quer algo mais sublime que ser feliz? Ora, não dizem que é para sermos felizes que vivemos? Quem em sã consciência trocaria real felicidade por qualquer outra coisa? O sincero desejo de felicidades ao próximo virou clichê. Era simples, fácil, bom e impactante. Conveniente. Bem moderno. Por causa disso, todos os "felicidades!" ao redor do mundo foram perdendo a força, e agora ninguém sabe mais o que isso é. No campo etimológico, a palavra italiana “felicità”, a palavra espanhola “felicidad” e a portuguesa “felicidade”, todas vêm do latim “felix” – afortunado – e “felicitas” – sorte, fortuna.Contudo, "se queres compreender a palavra 'felicidade', indispensável se torna entendê-la como recompensa e não como fim", disse Exupéry.

Somente desejei felicidades. Entreguei minha fortuna a alguém, querendo que fosse feliz, ou que chegasse o mais próximo disso. Não agradei àqueles pais da história - espero que não os tenha envergonhado. A mensagem anterior, por outro lado, foi muito mais convincente. Dizia que era protegida por orações e deus, que era linda e que a amava. Pois eu não impus valores. Não impus crenças, direita ou esquerda, trabalho, estilo de vida, meio, dinheiro, falta dele... Quis algo muito mais simples. Dei a liberdade para que ela escolhesse seu caminho e seus valores. Quis só que, dentro do que ela pediu para si mesma, conseguisse o que fosse necessário para estampar-lhe um sorriso na face - que, espero, conserve por algum tempo as lindas bochechas róseas; um sorriso sincero deve lhes cair muito bem.

Mas eu não consegui ser tão frio. Ainda zelo por minhas palavras. Palavras são fortes e belas. Como "felicidade".

("O maior problema e o único que nos deve preocupar é vivermos felizes", disse Voltaire, embora só me tivesse lembrado disso depois).

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Eu voltarei!

No muro do cemitério ao lado do portão, com letras negras e desordenadas, estava escrito EU VOLTAREI!

Pergunto agora: será esta uma época propícia para os mortos voltarem? A cidade tão tumultuada, tanta poluição, tantas greves e os assaltos e seqüestros se multiplicando, nas penitenciárias há comandos do crime. Vulgaridade e violência num galope livre nas zonas da burguesia e da periferia onde os rios morrem e as árvores agonizam. EU VOLTAREI! aquele lá avisou, e agora me ocorre que ainda existem ameaças de guerrilhas, mas não foi suficiente tanta matança na guerra maior? Pelo visto não, porque os anos de guerra superaram e muito os tempos da pomba branca com o ramo verde no bico. Os jovens estão fugindo para outros países, sim, aqui tem aquele céu estrelado, a paisagem e o mar mas é lá longe que eles esperam realizar seus sonhos.

Um momento, eu falei no mar? Pois o mar em transe subiu e avançou enfurecido, Estou recuperando o que era meu! Vejo a natureza perdendo a paciência com o reinado do ser humano, o que fez Dom Policarpo, um santo da antiguidade, cair de joelhos lá em Smyrna e exclamar, Meu deus, em que século me fizeste nascer!

E a máquina de consumismo a todo vapor, difícil escapar da engrenagem infernal dos shoppings e das galerias, comprar, comprar, comprar... Nos intervalos, comer para voltar a comprar porque tudo é ali mesmo por perto, não perder o ritmo. Tempo é dinheiro! repete o funcionário de um banco que batizou o filho com o nome de Dólar, mas quando o Dólar está em baixa fica o apelido, Dodô.

A moda é não resistir às três palavras soberanas, Denúncia, Evento e Imperdível. A fúria das denúncias políticas cresceu tanto que elas já quase perderam a importância, o povo acabou ficando assim anestesiado, lê, escuta e esquece porque depois não acontece mesmo nada, denunciantes e denunciados afundam no buraco negro da memória nacional.

Evento é outra palavra flutuando na ventania, tudo é evento, a festa e o espetáculo, o batizado e a morte, até a morte? A morte sim, não esquecer a jovem conversando com a amiga no elevador, Hoje não vou ao cinema porque surgiu um evento, morreu meu tio e o enterro é agora.

Imperdível, eis aí outra palavra que reina na máquina publicitária, é imperdível aquele carro, qual? O carro que vem com um terapeuta embutido, o motorista entra, fecha a porta e ouve a voz que vem do painel aceso, O problema é de origem real ou existencial? Se for real, de natureza física, aperte no painel o botão vermelho.

EU VOLTAREI! ele escreveu no muro do cemitério. Pergunto agora se por acaso esse desertor é negro. Se for negro quero lembrar que ainda vigora o preconceito, disfarçado mas atuante, onde o emprego? Onde a escola? E não adianta tingir o cabelo de louro porque o preconceituoso tem olho vivo, Todo brasileiro é mestiço senão no sangue nas idéias, escreveu Silvio Romero há cem anos.

O desertor mulher também não irá encontrar um clima ideal porque os homens perderam o respeito pelo sexo considerado inferior apesar das conquistas, algumas reais e outras ilusórias. Casadas, amasiadas e solteiras andam levando bordoada por dá cá aquela palha. Repletas as delegacias da mulher com olho roxo e nariz quebrado. Tirante aquelas que não dão queixa, segundo o noticiário uma mulher no Brasil é espancada a cada quinze segundos.

Esperar pelo Natal que seria uma época ideal para essa volta anunciada? Mas o Natal já vem se misturando ao Carnaval, os viciados consumistas não podem pensar em meditação ou recolhimento com todas as lojas fazendo ofertas extraordinárias.

Um chefe de família da classe média que escapou de um recente assalto chega em casa e respira tão aliviado, a penumbra da sala com o gato cochilando na almofada com seu mistério e o cachorro sorridente e sem mistério pedindo um afago. Então o homem afunda na poltrona e sonha com uma música singela do tipo das toadas sertanejas, que não exigem maior atenção, ou quem sabe a leitura de um livro não solicitante, daqueles que a gente lê pulando as páginas sem remorso. Fecha os olhos, a trégua. Então entra a mulher aos gritos, A festa já começou e você desse jeito, já fez a barba? E vem o filho adolescente, liga a televisão no volume máximo e lembra, E o dinheiro, pai? Hoje tem balada!

EU VOLTAREI! o futuro desertor avisou no muro. Preciso ainda lembrar que um conceituado vereador já entrou com um importante projeto de lei, acabar com os cemitérios! Com tempos assim tão difíceis e esse desperdício de terra, tudo anti-higiênico e antiquado, lamenta o político interessado numa transação imobiliária. Chega de sentimentalismo! ele queixou-se a uma jornalista. Meu plano é construir nessas terras esvaziadas um espaço cultural ou estacionamento, qual a sua opinião? O jornalista sacudiu a cabeça e pensou com seus botões, Nesse andar, antes que venha a ordem de despejo é aconselhável que os falecidos comecem a sair desde já levando o próprio caixão na cabeça.

Refletindo melhor creio que vivos e mortos não devem se preocupar, afinal, são tão numerosas as pilhas de processos urgentes aguardando solução, montanhas de processos, montanhas! E esse projeto de lei é tão polêmico, certamente alguém recorrerá ao Poder Judiciário, mais tempo paralisando a papelada, e daí? Então é esperar que a montanha vá baixando, baixando e quem sabe daqui a mil anos?...

EU VOLTAREI! ameaçou o desertor mas quem passar hoje por aquele muro já não lerá mais nada.

Lygia Fagundes Telles, no livro Conspiração de Nuvens.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Prefeito de Primeira

"Uma pesquisa Instituto Brasmarket realizada em todas as capitais brasileiras elegeu o prefeito Ricardo Coutinho (PSB) como o melhor do Nordeste." (...)

"Ricardo Coutinho dividiu os prêmios com todos os pessoenses. “Primeiro, porque a população de João Pessoa tem compreendido o esforço da atual administração em mudar comportamentos e imprimir seriedade no trato com os recursos públicos, fazendo com que esses recursos contemplem as necessidades essenciais da nossa cidade. Não podemos esquecer de compartilhar este momento com toda a nossa equipe de secretários, diretores e funcionários do governo municipal onde não existe exceção no que diz respeito à seriedade na busca dos melhores procedimentos para que o objetivo final de servir ao povo e à Capital seja alcançado", destacou Ricardo Coutinho."
(...)
"Na pesquisa, foram avaliados itens como: competência dos governantes; qualidade dos serviços públicos em cada capital; equipe do prefeito; qualidade de vida e os serviços públicos essenciais; honestidade pessoal e empenho no combate à corrupção; sensibilidade social e empenho no combate à pobreza e às desigualdades sociais; competência e capacidade pessoais; empenho em promover o progresso, o desenvolvimento e combater o desemprego; energia e capacidade pessoal de comandar.
"

(Texto completo: http://www.snn.com.br/noticia/14004/18)

Ao contrário de governos que prometem muito, trabalham pouco e quase nada fazem (o espaço cultural que se segure pra não cair, pois se depender de obras do governo estadual, em breve teremos uma bela sucata), nosso atual prefeito está mostrando que pode e sabe fazer a cidade crescer! Apenas nessa gestão, João Pessoa já cresceu, em alguns aspectos, os oito anos que ficou parada de 1996 à 2004.
Só pra citar algumas melhorias:
Manutenção da pavimentação, serviços de manutenção da iluminação pública ornamental, construção de escolas e creches, praças etc.
Todo canto da cidade é uma obra.
Deixem o mago trabalhar!

terça-feira, 18 de setembro de 2007

A Inutilidade da Teologia

Autor: Richard Dawkins
Tradução: Vinicius de Abreu Waldow
Fonte: Sociedade da Terra Redonda
Original: Free Inquiry magazine, Volume 18, Número 2.



Um editorial infeliz e ingênuo do jornal britânico Independent recentemente pediu uma reconciliação entre ciência e “teologia”. Dizia que “As pessoas querem saber o tanto quanto possível sobre suas origens”. Com certeza, espero que elas queiram, mas o que diabo faz alguém pensar que a teologia tem algo de útil para dizer sobre esse assunto?

A ciência é responsável pelas seguintes informações sobre nossas origens. Nós sabemos aproximadamente quando o Universo surgiu e porque ele é, em sua maioria, de hidrogênio. Nós sabemos por que as estrelas se formam e o que acontece no interior delas para converter hidrogênio em outros elementos, dando origem à química em um mundo físico. Nós sabemos os princípios fundamentais de como um mundo químico pode se transformar em biologia através do aparecimento de moléculas auto-reprodutoras. Nós sabemos como o princípio da auto-reprodução deu origem, através da seleção darwiniana, a toda a vida, incluindo os humanos.

Foi a ciência e apenas a ciência que nos ofereceu esse conhecimento e, além disso, o ofereceu em detalhes fascinantes, preponderantes e que se confirmam mutuamente. Em cada um desses aspectos, a teologia tem mantido uma visão que se mostrou definitivamente errônea. A ciência erradicou a varíola, pode imunizar contra a maioria dos vírus e matar a maioria das bactérias que anteriormente eram mortais. A teologia não tem feito nada a não ser falar das doenças como punições para nossos pecados. A ciência pode prever quando um cometa em particular irá reaparecer e, de quebra, quando o próximo eclipse irá ocorrer. A ciência colocou o homem na Lua e lançou foguetes de reconhecimento ao redor de Saturno e Júpiter. A ciência pode lhe dizer qual a idade de um fóssil específico e que o Santo Sudário de Turim é um embuste medieval. A ciência sabe as instruções precisas no DNA de vários vírus e irá, durante a vida de muitos leitores presentes, fazer o mesmo com o genoma humano.

O que a teologia já disse que teve qualquer valor para alguém? Quando a teologia disse algo que foi demonstrado como verdadeiro e que não seja óbvio? Tenho ouvido os teólogos, lido o que escrevem, debatido com eles. Nunca ouvi algum deles dizer algo que tivesse alguma utilidade, qualquer coisa que não fosse trivialmente óbvio ou categoricamente errado. Se todas as realizações dos cientistas forem apagadas do mapa no futuro, não haverá médicos, e sim xamãs; não haverá meio de transporte mais rápido que o cavalo; não haverá computadores, nem livros impressos e, muito menos, agricultura além das culturas de subsistência. Se todas as realizações dos teólogos forem apagadas do mapa no futuro, alguém perceberia a mínima diferença? Até mesmo as realizações negativas dos cientistas, como as bombas e navios baleeiros guiados por sonar funcionam! As realizações dos teólogos não fazem nada, não afetam nada, não significam nada. Afinal, o que faz alguém pensar que “teologia” é um campo do conhecimento?

Richard Dawkins é professor de entendimento público da ciência na Universidade de Oxford, e autor de "O Gene Egoísta", "A Escalada do Monte Improvável" e "Desvendando o Arco-Íris".

Fonte: http://www.ateus.net/artigos/critica/a_inutilidade_da_teologia.php

Free variation






Free variation in linguistics is the phenomenon of two (or more) sounds or forms appearing in the same environment without a change in meaning and without being considered incorrect by native speakers. Examples from English include:

• the word economics may be pronounced with /i/ or /ɛ/ in the first syllable; although individual speakers may prefer one or the other, and although one may be more common in some dialects than others, both forms are encountered within a single dialect and sometimes even within a single idiolect;

• the comparative of many disyllabic adjectives can be formed either with the word more or with the suffix -er, for example more stupid or stupider.

When phonemes are in free variation, speakers are strongly aware of the fact, and will note, for example, that tomato is pronounced differently in British and American English, or that either has two pronunciations which are fairly randomly distributed, but only a very small proportion of English words show such variations.

However, we still have the case of the allophones. In phonetics, an allophone is a phenomenon of several similar phones that belong to the same phoneme. A phone is a sound that has a definite shape as a sound wave, while a phoneme is a basic group of sounds that can distinguish words (e.g. changing one phoneme in a word can produce another word); speakers of a particular language perceive a phoneme as a single distinctive sound in that language. Thus an allophone is a phone considered as a member of one phoneme.

We may distinguish complementary allophones, which are distributed regularly within the idiolect of the same speaker according to phonetic environment, from free variants, which are a matter of personal habit or regional accent.

For example, [pʰ] as in pin and [p] as in spin are allophones for the phoneme /p/ in the English language because they occur in complementary distribution. English speakers generally treat these as the same sound, but they are different; the first is aspirated and the second is unaspirated (plain).

In the case of allophones, free variation is exceedingly common and along with differing intonation patterns is the most important single feature in the characterizing of regional accents.

When about other language acquisitions, free variation plays a quite considerable part. Free variation is itself highly variable from one learner to another. To some extent it may indicate different learning styles and communicative strategies. Learners that favor high-risk communicative strategies and have an other-directed cognitive style are more likely to show substantial free variation, as they experiment freely with different forms.

To exemplify, here it goes a song by Ella Fitzgerald and Louis Armstrong, 'Let's call the whole thing off'. Follow the lyrics.



Things have come to a pretty pass

Our romance is growing flat

For you like this and the other

While I go for this and that

Goodness knows what the end will be

Oh, I don't know where I'm at

It looks as if we two will never be one

Something must be done...


You say either and I say either

You say neither and I say neither

Either, either, a neither, a neither

Let's call the whole thing off


You like potato and I like potato

You like tomato and I like tomato

Potato, potato, tomato, tomato

Let's call the whole thing off


But, oh, if we call the whole thing off

Then we must part

And, oh, if we ever part

Then that might break my heart


So if you like pajamas and I like pyjamas

I'll wear pyjamas and give up pyjamas

For we know we need each other, so we

Better call the whole thing off

Let's call the whole thing off


You laughter and I say laughter

You say after and I say after

Laughter, laughter, after, after

Let's call the whole thing off


You like vanilla and I like vanilla

You saspirilla, and I sarsaparilla *

Vanilla, vanilla, oh, chocolate strawberry

Let's call the whole thing off


But, oh, if we call the whole thing off

Then we must part

And, oh, if we ever part

Then that might break my heart


So if you go for oyster and I go for oysters

I'll order oysters and cancel the oyster

For we know we need each other, so we

Better call the calling off off

Let's call the whole thing off


You say either - and you say either

You say neither - and you say neither

Either, either, a neither, a neither

Let's call the whole thing off


You like potato - and you like potato

You like tomato - and you like tomato

Potato, potato, tomato, tomato

Let's call the whole thing off


But, oh, if we call the whole thing off

Then we must part

And, oh, if we ever part

Then that might break my heart


So if you like pyjamas - I like pyjamas

I'll wear pyjamas - You've got pyjamas!

For we know we need each other, so we

Better call the whole thing off (the calliing off off)

Let's call the whole thing off

Let's call the whole thing off

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Dá-lhe, gamers!


Pokemon Yellow, StarCraft e Super Mario Bros 3 são alguns dos jogos mais bem sucedidos da história da Indústria de Entretenimento.
Confira a lista dos 20+, sua plataforma e o número de cópias vendidas (é jogo que não se acaba mais), feito pela GunSlot e divulgada pela Game Guardian:

1. Pokémon Red, Blue and Green - Gameboy - 20.08 milhões de cópias vendidas
2. Super Mario Bros. 3 - Nintendo - 18 milhões de cópias vendidas
3. The Sims - PC - 16 milhões de cópias vendidas
4. Nintendogs - Nintendo DS - 14.75 milhões de cópias vendidas
5. Pokémon Gold and Silver - Gameboy - 14.1 milhões de cópias vendidas
6. Super Mario Land - Gameboy - 14 milhões de cópias vendidas
7. Grand Theft Auto: Vice City - Playstation 2 - 13 milhões de cópias vendidas
- Pokémon Ruby and Sapphire - Game Boy Advance - 13 milhões de cópias vendidas
- The Sims2 - PC - 13 milhões de cópias vendidas
8. Grand Theft Auto: San Andreas - Playstation 2 - 12 milhões de cópias vendidas
9. Super Mario 64 - Nintendo 64 - 11 milhões de cópias vendidas
- Gran Turismo 3 - Playstation 2 - 11 milhões de cópias vendidas
- Grand Theft Auto III - Playstation 2 - 11 milhões de cópias vendidas
10. Pokémon FireRed and LeafGreen - Game Boy Advance - 10.66 milhões de cópias vendidas
11. New Super Mario Bros. - Nintendo DS - 10.52 milhões de cópias vendidas
12. Gran Turismo Playstation 1 - 10.5 milhões de cópias vendidas
13. Pokémon Diamond and Pearl - Nintendo DS - 10 milhões de cópias vendidas
- Super Mario Bros. 2 - Nintendo - 10 milhões de cópias vendidas
14. Final Fantasy VII - Playstation 1 - 9.8 milhões de cópias vendidas
15. StarCraft - PC - 9.5 milhões de cópias vendidas
16. World of Warcraft - PC - 9 milhões de cópias vendidas
17. Brain Age: Train Your Brain in Minutes a Day! - Nintendo DS - 8.61 milhões de cópias vendidas
18. Gran Turismo 2 - Playstation 1 - 8.5 milhões de cópias vendidas
19. Mario Kart 64 - Nintendo 64 - 8.47 milhões de cópias vendidas
20. Halo 2 - XBox - 8 milhões de cópias vendidas
- Donkey Kong Country - Super Nintendo - 8 milhões de cópias vendidas
- Super Mario Kart - Super Nintendo - 8 milhões de cópias vendidas
- GoldenEye 007 - Nintendo 64 - 8 milhões de cópias vendidas
- Pokémon Yellow - Game Boy - 8 milhões de cópias vendidas

Pense numa pra render! To já pensando em vender jogo! xD