Praia do Futuro – há uns, talvez, vinte dias. Não sei. Hoje não tenho mais a noção do tempo que passa. Morava sozinho, e gostava de esporadicamente ir a praias – ia sozinho mesmo. Levava sempre sua sacola com os pertences nessas ocasiões. Odiava o apelido que ganhara por isso. Era o homem da sacola para os pivetes que, ousadamente, ainda me pediam trocados.
A última dessas idas não tinha sido diferente neste aspecto; tudo corria absurdamente comum até quando reencontrou um de seus amigos ainda dos tempos da faculdade, o que considerava o melhor deles, com quem perdera contato – e que assimilara o hábito de aproveitar o vasto litoral. Estavam ambos sozinhos, e passaram o dia juntos, relembrando os bons tempos.
Hora da fome, trocaram de roupa e sentaram para comer numa daquelas barracas adjacentes. Beberam aos bons tempos. E às mulheres. Ah – as mulheres daquele tempo. (E os bons tempos com as mulheres daquele tempo). Dona Rosa, Jasmim, Violeta, Margarida... O jardim inteiro.
Despediram-se e cada um seguiu seu caminho. O homem da sacola chegou em casa e deu-se conta: esquecera sua sacola. A crise que rapidamente lhe abateu fez com que desesperadamente fosse à procura de sua sacola, mesmo não contendo nada de grandes valores: apenas calção, toalha e um óculos de sol velho.
Metódico que era, refez todo o percurso do dia. Foi das águas da praia já enegrecidas pela pouca contribuição da lua ao lugar onde bateram bola, até que chegou ao boteco. A garçonete lembrou-se do peculiar homem ainda em traje de praia, apesar da tarde hora. Sorriu. Percebi que o senhor tinha esquecido e guardei aqui, pode pegar. Obrigado. Sorriu de volta. Segurou as alças – agora recuperara sua identidade, e voltou contente pra casa.
Chegado em casa ia guardar os itens que há pouco recobrara. Desfez o nó usual. Ia já retirar o conteúdo quando deparou-se com um bilhete. Me desculpe pelo roubo. Me ligue. O número estava logo embaixo, mas não dera muita atenção. Retirou os itens. A toalha. Os óculos. A sunga não estava lá. Puxou o último item: a peça de baixo de um biquíni.
Eu sentia sono agora. Ia deitar-me. Me ligue...
domingo, 25 de novembro de 2007
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