domingo, 31 de maio de 2009

Aniversário

- Preciso de uma dica. Quero dar um presente pra uma amiga. É aniversário dela e não faço idéia do que dar.
- Não dá nada.
- Vai, ela é mulher também, me dá uma ajuda.
- Você gosta dela?
- Sim, somos amigos há muito tempo. Isso que é o problema: já dei todo tipo de presente pra ela, e não sei mais o que dar nesse ano.
- Flores?
- Já foi.
- Chocolate?
- Já.
- Roupa?
- Muitas.
- Coisas pra cama? Enfeites? Pelúcia? CD? Dvd? Livro? Cartão?
- Todos. Até cartão. E ela odiou. Foi, aliás, ano passado. Por isso que tem que ser algo bom nesse ano.
- Com homem é tão mais fácil.
- Como assim? É mais fácil dar presente?
- Não, falei de sexo. Nunca viu? Não sabe o que dar pra um homem, dá uma noite especial.
- É, já tinha acontecido, mas eu nem notei. Tou acostumado a não ganhar nada. Meu aniversário sempre passa em branco.
- Comigo também. Só os amigos mais íntimos sabem.
- Eu não sei o seu.
- É...
- Mas você também não sabe o meu.
- Então estamos quites.
- Quer trocar as datas e subir um degrau na amizade?
- Pode ser. Vou ganhar presente com isso?
- Depende. Sexo conta?
- Conta.
- Bom. Então, o meu é 6 de março. Quando é o seu?
- Toda sexta à noite. Comemoro lá em casa com uma garrafa de vinho.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Liberdades


Quando criança, muito me entretinha caçar ateus convictos e enchê-los de perguntas clichês sobre suas convicções. Gostava disso primeiro porque às vezes provocava irritação, imagino que, em parte, por vir de alguém tão jovem, e isso os levava a não responder. Às vezes divagavam com algum comentário engraçado, nem sempre inteligente, às vezes respondiam com ignorância. Tinha dois terços de chance de me divertir com a reação. Das perguntas que fazia, a que mais provocava reações adversas era o "então, por que não matar?".

Mais que pela brincadeira, realmente queria saber o que os impedia de, numa situação adversa, potencializada por um acesso de raiva maior que o comum, desferisse um golpe letal contra seu oponente. Talvez por esperar por uma resposta grandiosa, era a única que não conseguia ser respondida. Algumas reações como as acima já eram esperadas e se repetiam. Em outros casos, a conversa tendia a rumar para "não são os ateus que matam, e sim os religiosos fanáticos". Mas nunca recebia nada a contento. E isso tudo me intrigava. Essa liberdade que eles tinham - e eu não.

O tempo me trouxe amadurecimento e consciência, e, com eles, essa liberdade de que hoje gozo. E o que fazer dela? Uso? Num mundo onde é possível eliminar fisicamente o adversário, fazê-lo? Não. Até poderia; se quisesse, teceria para mim mesmo um conjunto de preceitos morais que mo permitisse fazer. Mas, mais uma vez, não. Ninguém escala ao cume de uma montanha para respirar o ar doce, puro - e rarefeito - e dela se atirar em direção ao chão. É a liberdade; e o melhor uso que se faz dela é reconhecê-la e facultá-la, para, assim, senti-la.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Orgia filmada por padre resulta em cooperação bilateral

O padre, que exercia suas atividades no interior do Estado da Paraíba, gravou dois vídeos em que aparecia a fornicar com um casal do seu círculo de amizade.
O menàge teria sido disponibilizado no blog pessoal do padre.


Depois de 49 minutos de exibição pornô contínua e muitas visualizações anônimas da comunidade cristã da região, interessada em averiguar a integridade moral do sa, os vídeos teriam sido retirados do site da morsa.
A arquidiocese local manifestou publicamente, ao lançar um texto num jornal que abrange todo o estado, dizendo-se embaraçada com o fato.

A questão, entretanto, atravessou fronteiras.
Fontes mais recentes* afirmam que no jogo de xadrez da política sulamericana (o Peão, a Dama, o Cavalo...), o Bispo, presidente paraguaio Fernando Lugo, teria feito uma ligação e se comunicado diretamente com o sacerdote brasileiro.


Entrando em contato com a arquidiocese local, teria conseguido concluir a remoção do padre para assumir uma arquidiocese no Paraguai. Depois, já se fala em um acordo proposto pelo presidente paraguaio para, com ajuda do padre paraibano, incentivar a construção de escolas para meninas que desejam ingressar na vida religiosa. Com gosto.



* Fontes: Times New Romans e Comic Sans (12).

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Interferência

Notícias

Dia 1
Pandemia de gripe suína mata 100 no mundo todo

Dia 2
Gripe suína faz 10 vítimas

Dia 3
O Brasil está preparado para a gripe suína, que mata mais 5.

Dia 4
Não há necessidade para temer a gripe suína.

Dia 5
Gripe A diminui no mundo. Pacientes têm alta.

Dia 6
Comprovado que a gripe A não se relaciona com carne de porco.

Dia 7
Cresce venda de carne suína.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Relato cotidiano

Seguiu a direção dos cartazes, adentrou com majestade o recinto e seguiu a um homenzinho encarregado da recepção.
- É aqui que tem vacina pra raiva?
- É sim.
- Tá aqui minha carteira de vacinação. Pode me dar umas três logo de uma vez aí.
- Mas, senhor, aqui só vacinamos animais!
Boatos das fontes mais confiáveis confirmam que o homem, incomumente peludo, ostentando espessa barba, levantou-se, e, desferindo contra a mesa um único golpe, partiu-a em dois. Em seguida, teria pulado sobre o funcionário que o atendia e quebrado todos os seus membros. Diminuiu o ritmo quando um enfermeiro aplicou-lhe uma injeção. Só parou de vez na sexta.
Com a boca espumando, prostrou-se, a se contorcer, chamando a gritos pelo nome “Lola”. Como não sabendo o que fazer, os presentes à cena encaminharam-no a um canil, onde fez questão de terminar seus dias.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Seção "Sempre turista"

Com câmeras rolleiflex às mãos - potentes como na canção "Desafinado"-, os pensadores do Sarau saem às ruas das cidades onde moram.
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É no reconhecendo o sentimento de não-pertinência a nenhum lugar que surge a idéia do sempre turista; andar por ruas que, por mais que sobre pegadas relativas ao formato do seus pés, não se parecem as suas; passar pelos mesmos caminhos, mas, neles, enxergar novas formas a cada dia. E, como todo bom turista, registrar.
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Não são fotos melhores que as outras. Nem necessariamente - ou provavelmente não - mais bonitas. Vai ver é certo que também não escrevemos melhor que os outros. Mas a inquietude de sempre ser turista leva a registrar. E talvez isso seja o suficiente para tornar distinto.
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Registros fotográficos que vão além das cores e pixels certamente serão acompanhados de pequenos comentários sobre o que se pretende mostrar. De certa forma, a idéia já fora inaugurada no texto Contramão (clique aqui). Mas, como esse deveria ser o post inaugural, uma vez que é o que explicita e explica, vai uma primeira imagem.
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Foto tirada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, hoje, há não muitos instantes. Criança arma rede em duas árvores no centro da capital brasileira; ao lado, formação de lixo. Ao fundo, via que liga os dois lados da Esplanada, por onde transitam ambos carros e ônibus. Ainda, duas pessoas, uma deficiente, pedindo esmola. Tudo isso a poucos metros do Congresso nacional, dos Ministérios, do STF e da Presidência. Mas, enquanto não vier nenhuma Comissão avaliar a cidade como concorrente para as Olimpíadas, essas pessoas não precisam dar um passeiozinho de ônibus.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Partir

Colocou os pertences que carregava na esteira e seguiu adiante, atravessando o detector de metais. Soa o apito. Volta um passo. Esquecera uma chave no bolso. Passa a chave por uma caixinha e torna a tentar passar. Soa o apito novamente e um guarda se aproxima. Olha logo para o cinto de fivela larga. O guarda puxa um detector manual e constata que o metal detectado pertencia ao cinto. Recolhe os pertences e lhe é dada passagem. Era de se estranhar. Podia ter sido um broche, mas sabia que não importava quantas vezes tentasse passar, o aparelho iria sempre fazer seu alarde. O peito pesava como chumbo. Trazia no coração uma faca cravada pelo destino. Mas ele haveria de retirá-la ele próprio. Disso sabia também.