quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Democracia


- O que você acha?

- Parece bom.

- É, essa coisa de assistir sessão no Congresso é boa mesmo.

- Tem um amigo meu que é professor. Ele disse que estamos exercendo nossa cidadania na democracia brasileira.

- Parece bonito.

- E é mesmo, né?

- A cadeira aqui é confortável.

- E lá fora tá um calorzão.

- Ô.

- Do que é que eles tão falando, hein?

- Algum salário. Não, não, aposentadoria.

- A gente tá precisando mesmo.

- Parece que é pra eles.

- Hm.

- Olha, lá embaixo.

- O quê?

- O doutor ali no meio.

- Qual?

- Aquele de terno. Olha o computador dele.

- Não tô vendo.

- É o que tá vendo mulher pelada.

- Ahh, tô vendo.

- O que você acha?

- Parece bom.

domingo, 26 de outubro de 2008

Café

- Desculpa, bati sem querer.
- Nada.
- Ei, você é linda.
Ela se ri.
- Sério, você é realmente linda. Você podia ser Miss.
- Ah, claro.
E quando já dava as costas,
- De verdade! Olha, antes de ir, toma aqui meu cartão.
- Paulo Moreira...
- ... Agente de modelos, muito prazer.
- Você realmente faz essas coisas?
- Sim, já trabalhei com todas as famosas que você pode pensar. Eu que as faço crescer, minha filha. E quando eu digo que você tem potencial pra ser Miss, você realmente tem.
- Mas que tipo de Miss?
- Ah, podia ser a Miss Paulo.
Ela se ri envergonhadamente.
- Vamos, eu te pago uma Coca. Diet.
- Pode ser um café?
- Descafeinado.

sábado, 25 de outubro de 2008

Meios Escritos ou da pseudo experimentação da desconstrução

Utilização práticas de métodos matemáticos

Talvez o post não seja dotado de um método científico propriamente dito, mas as relações matemáticas, elaborações de provas e teoremas através de cálculos e o "matematicamente provado", as experiêcias científicas e as provas "cientificamente provadas",

Experimentação e conhecimento da verdade

além das reflexões acerca de coisas a fim de se conhecer a verdade, todas essas são meios de tentar obter verdades.

Reflexão e especulação de verdades

E é sobre a praticidade e a utilidade dessas nas convivências socio-banais e do dia-a-dia comum que tento explanar algumas abrangências.

Engraçado como as verdades são sempre fundamentadas, no senso comum, por um "alguém disse", um "foi cientificamente provado", um "fulano fez isso, é assim mesmo", e como o tempo só torna essas verdades mais sólidas. A aceitação e a comodidade mental de aceitar causalidades traz esse fato cômico. No fundo, as pessoas tendem a querer aceitar, desde que não vá de contra sua moral primeira - se é que "filosoficamente" isso existe -, ou seja, um terreiro de candomblé é tão igualmente conhecedor de verdades quanto um laboratório científico-experimental. Mais uma vez, a causalidade de experimentos, o uso da matemática, dos recursos lógicos, torna mais claro demonstrá-los - e ainda tem mais, até que consigam refutá-los (talvez usando os mesmos métodos), está valendo -, entretanto, fisica quântica e teoria do caos estão aí para quebrar paradigmas científicos: as coisas não são bem assim. Além disso, também existe a crença, não só no que "fulano me contou", mas no que algum livro ou história - concebido mais superiormente - pregue. Surge outro meio de se obter o conhecimento e a verdade. No meio epistemológico, quase tudo é válido: há quem diga que o supernatural revela, há quem prefere apontar a experimentação, ou ainda, o ceticismo cético - "nada é verdade, na verdade, nem mesmo existe uma verdade".
Por fim, só relembrando, nada do que foi dito é provado (racional, idealógica, reflexiva ou filosoficamente)... Ah... tem mais, nem ciência nem fantasia, há quem acredite que a prova para as questões "mundo", "vida" e "morte" é deus, sem métodos ou sequências lógicas, é o autoritarismo teocrático.

Acredite ou acredite!

Mas na “prática”, qual seria a utilidade de um método? O que um senhor com seus oitenta anos ganharia em seguir modelos empiristas? Ou seria melhor se ele observasse a história em seus ombros, e começasse a racionalizá-la? A fim de entendê-la melhor ou projetá-la no futuro?
Fico devendo a resposta... talvez aos oitenta eu possa encontrá-la.

Idéias: frutos de experiência ou da razão?

O fundamento desse post, muito provavelmente, é a criticidade, a comicidade e a desconstrução dos fundamentos, o que nos leva a uma inutilização do mesmo... mas torná-lo aceitável fica à critério de cada um.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Anti-burocracia

Diz a música que o lema da Corporação é

"Um, dois
Feijão com arroz
Bate primeiro
Pergunta depois"

Pode-se questionar, então, pra quê perguntar? Responde-se: o esqueleto da Polícia é essencialmente burocrático. Mas, em alguns lugares do país como no Rio de Janeiro, essa é uma realidade em progressiva mudança. Sistemas mais eficazes como Blocos de Operações Especiais foram criados. Bate primeiro. Se preciso, bate segundo. Fim da burocracia. Em nome do lazer - valor exigido pelo mundo moderno -, pode-se até bater terceiro. Ainda sem burocracia.

domingo, 19 de outubro de 2008

Bus Stop



Eu estou em pé.
Discretamente observo seu rosto. Vejo seus cabelos negros, seus lábios cheios. Ela não é especialmente bonita, mas é de alguma forma interessante. Acima de tudo noto os seus olhos vermelhos, respiração oscilante e expressão triste. A duras penas tenta conter o choro.
Observo-a durante algum tempo, penso em falar algo. Penso sobre o que pode estar acontecendo em sua vida; sobre que tipo de pessoa ela é; o que faz; onde estava antes de entrar aqui. O freio me empurra um pouco para a frente. Cheguei ao meu destino. Desço.

sábado, 18 de outubro de 2008

Mage Apprentice




"São cem frases que um Mago não gostaria de ouvir seu aprendiz dizer em hipótese alguma.

1. A bruxa que mora do outro lado da rua gosta de você,deixou umas mensagens na sua bola de cristal. Eu só li as 12 primeiras...
2. A gente precisa mesmo fazer esse ritual na lua cheia? Eu sempre me sinto esquisito durante a lua ch...*GRRAAR!*
3.A gente tá sem velas, mas não tem problema. Eu usei lanternas para cercar o pentagrama!
4. Ah, aquela poção? Não...nem vi!
5. Ah...eu joguei fora!
6. Aquela runa escrita na cela era importante?
7. Aquela varinha só tinha 25 cargas sobrando!
8. Aquele era seu Cajado de Poder? A mesa precisava de uma perna nova e você tinha dito pra consertar...
9. Aquele mago gente boa do outro lado da cidade me pagou 20.000 moedas de ouro para te entregar essa caixa. Deve ser algum tipo de relógio!
10. Aquele maldito Elemental da Terra não aceita mesmo um não como reposta, não é mestre?
11. Aqueles livros de lombada azul queimam!
12. Cajado? ? ? Eu pensei que era lenha!
13. Cara...aquela vassoura que eu animei saiu MESMO do controle. Mas tudo bem!Eu peguei um machado e cortei ela em milhões de pedacinhos!
14. Como eu ia saber que ela era um súcubo?
15. Como você controla alguma coisa que escapa de dentro de um pentagrama?
16. Da próxima vez vou me certificar que a varinha está virada para o lado certo.
17. Deixa eu mostrar esse truque...pegue uma carta do baralho...qualquer carta...
18. Desculpe ter cochilado. O senhor poderia fazer aquela magia só mais uma vez?
19. Dá pra dar um pulinho aqui em baixo? Tipo ...AGORA?
20. Ei mestre!Olha só essa magia:"Conforme a magia de impedimento vocal é lida, você e aqueles a sua volta se tornam ingabazes di ghomunigar di modu ghonbrenzzivil wabba daba yabba..."
21. Ei, aposto que eu consigo fazer isso melhor que você!
22. Ei, quem você pensa que é? Meu professor?
23. Em posse deste corpo irei dominar o mundo!HAHAHAHAHAHAHA!
24. Engolir um peixe dourado? VIVO?
25. Então acabaram as aranhas? Que tal me vender umas baratas? Meu mestre é tão velho que duvido que ele note a diferença.
26. Então quer dizer que esse cajado lança uma bola de fogo se eu apontar e dizer Braxat? (BUUUM!)
27. Era pra acender as velas em volta do pentagrama?
28. Era só café. Um pouco de sabão, água quente, um pano limpo e um pergaminho vai ficar como novo!
29. Escuta...o pergaminho diz que para criar um campo de tempo congelado até onde o olhar alcança, basta pronunciar a palavra "Bidlebedee".Hmmm!Você acha que funciona? Mestre...estou falando com você ...Mestre? Meeeeeeestreeeeeeeeee?
30. Estudar? !? Sou bom demais para isso!
31. Eu não entendo!
32. Eu não queria te acertar com magia de teia, chefe. Deixa eu ajudar...maldita teia...Já sei!É melhor QUEIMA-LA!
33. Eu pensei que você tinha dito Cone of Cold, não Coin of Gold!
34. Eu só queria ver se era verdade que os gatos sempre caem em pé...
35. Fica mal não chefe. Pelo menos o OUTRO demônio não escapou!
36. Finalmente aprendi a magia de aumentar!Agora será que o senhor podia me dizer como eu me livro dos ratos de 15 metros?
37. Finalmente consegui acertar aquela coruja chata que ficava te seguindo!
38. Hipoteticamente falando, o que acontece se o Fluffy estivesse dentro do buraco portátil quando o efeito da magia acabasse?
39. Hmm...acho que você não vai querer entrar no sótão.
40. Hmmm...então esse pergaminho está escrito em uma língua morta? Sem problema, vamos chamar um clérigo para ressuscitá-la!
41. Hmmm...parece que o cachorro que eu comprei não gosta muito do seu gato. Mas não se preocupe eu já disse pra ele não fazer a mesma coisa com o próximo que o senhor arrumar.
42. Hmmm...sabe aquela virgem núbia que você comprou ontem à noite? Bem a gente começou a conversar...er...sabe com é...uma coisa leva à outra...
43. Imagina só!Confundir a poção do Envelhecimento Irreversível com molho para saladas!Hahaha!Mas sabe...esses cabelos brancos ficaram muito bem no senhor!
44. Lembra daqueles demônios que a gente TINHA aprisionado no porão? Bem...
45. Magia de aumentar funciona com esfera de aniquilação?
46. Mas mestre, eu fiz de tudo para deixá-lo invisível durante a parada!Como eu ia adivinhar que a magia só ia afetar suas roupas?
47. Mas o que será que isto aqui faz? (balançando uma varinha)
48. Mas você não disse que eu NÃO podia fazer aquilo!
49. Mestre você vai rir quando ouvir essa!Eu estava praticando Bola de Fogo na biblioteca e adivinha? FUNCIONOU!
50. Mestre! Acho que consegui levitar!Agora...será que o senhor podia me ensinar a descer?
51. Mestre! Cuidado com o fosso que eu cobri com uma imagem silenciosa!
52. Mestre, eu meio que esqueci de alimentar o seu familiar!
53. Mestre, uma pergunta técnica:se o senhor fosse um livro de magia teleportado, onde o senhor iria?
54. Mestre, vou te falar...o rei não tem senso de humor NENHUM!Quando eu contei todas as piadas que você me contou sobre ele, o filho da mãe não riu nem um pouquinho!
55. Mil desculpas, mestre!Não consegui achar nenhuma cabeça de alho, mas acho que brócoli deve espantar vampiros do mesmo jeito!
56. Minha magia de assustar funcionou? ...O senhor parece meio pálido...
57. Míssil Mágico é uma magia legal, não é? A propósito vou até a taverna para o campeonato de dardos e já volto...
58. O que esse pergaminho escrito "Desejo" faz?
59. O que será que acontece se eu ler esse pergaminha de Chuva de Meteoros e apontar pra...VOCÊ?
O que será que acontece se eu misturar essas duas poções?
61. O que tem nessa garrafa?
62. O senhor fez backups dos seus livros de magia...não fez?
63. O senhor vai adorar o que eu fiz. Peguei todos aqueles livros velhos e empoeirados e mandei para a reciclagem!
64. Oh, aquele era seu familiar?
65. Oh, esse componente de magia era tão caro assim?
66. Ok. Eu coloquei as poções de resistência a fogo nas garrafas vermelhas e as de resistência a frio nas azuis. Ou será que era ao contrário?
67. Olha mestre!Eu vi esse globo de cristal legal jogado por aí, então eu cortei o topo e agora a gente pode usar como aquário pro Manbo, nosso peixinho dourado!
68. Olha só!Meu próprio demônio das profundezas!
69. Olha!Essas escamas de dragão dão uma ótima jaqueta!
70. Olha...quando o senhor disse que estava esperando um familiar achei que estava falando do seu primo Sigmund. Como eu ia saber que o senhor estava esperando uma galinha? O melhor é esquecer tudo isso e tentar tirar o melhor dessa situação. O senhor prefere coxa ou peito?
71. Onde eu coloquei a tampa da garrafa d'água infinita?
72. Onde foi parar a torre da esquerda?
73. Ooooops!!!
74. Parece que eu esqueci de trazer o Manual da poderosa e Maravilhosa Magia, mestre. Será que o guia de cultivo de Gerânios Gigantes serve?
75. Pode deixar!Eu pedi que o servo invisível colocar as bolsas do Espaço Infinito dentro do Buraco Portátil.
76. Por que as letras daquele livro desaparecem quando eu leio?
77. Poção? !Aquilo no caldeirão? !Eu achei que era sopa!
78. QUE pentagrama?
79. Qual o comando pra fazer o tapete voador descer?
80. Quando é que eu vou aprender a fazer coisas que fazem BUUUUUUMMM?
81. Que bela ilusão, mestre!O gigante jamais vai perceber!
82. Que tipo de cola se usa pra consertar uma Orbe de Dragão?
83. Quer ajuda?
84. Queria que tivesse me dito como funcionava essa Lâmina da Sorte!
85. Ribbit!
86. Rápido!Como eu desconvoco um Lorde Demônio?
87. Sabe o seu laboratório? Quanto o senhor acha que ia custar um novo?
88. Sabe, essa borracha Eterna de Erdholt funciona mesmo! Eu esfreguei só um pouquinho naquele livro ali e ela apagou tudo!
89. Segura!
90. Senhor? Sabe aquele elemental que você tinha sobre controle?
91. Seus plebeus estúpidos!!!Ou vocês obedecem meu mestre ou ele vai transformar todos vocês em sapos!É!Vocês acham que ele vai ficar com medo só por que vocês trouxeram quatro paladinos? !DE JEITO NENHUM!!!Assim que ele sair do banheiro vocês vão aprender uma lição!
92. Socoooooooooooooooooorrrrrooooooooooooooooo!!!
93. Tem um Antipaladino morto-vivo querendo ver o senhor.
94. Uh, chefe, o Imperador está na porta com um grupo de guardas. Parece que ele trouxe as botas que você fez para ele...
95. Um cara baixinho daquela guilda no centro veio aqui pedir uma xícara de açucar, ai quando eu voltei ele tinha sumido...junto com os seus livros de magia!
96. Um cara estranho e chifrudo veio aqui procurando o senhor. Ele perguntou se o Razzlefratz estava. Eu disse que não tinha nenhum Razzlefratz aqui, que o nome do senhor se chamava Durkin. Não sei por que, mas isso deixou ele bem feliz...
97. Você fez um testamento, não fez?
98. Você não se incomoda se eu pegar o tapete voador emprestado pra uma viagem de uma semana se importa?
99. Você vai na frente. Eu fui na frente da última vez!
100. É lógico que eu apaguei o pentagrama!O que você pensa que eu sou, um idiota?"

Créditos: Anônimo

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Máquinas? [4]

ACIDENTES EM TÓQUIO
Novas televisões trazem efeitos assustadores.


Este mesmo jornal noticiou, em dezembro do ano anterior, o último lançamento tecnológico japonês, a televisão que acende com o olhar. Ela nasceu com uma câmera que lhe permite saber quando se está olhando e inteligência artificial. Ela emite os sons enquanto você lê o jornal ou usa o computador, e, se por acaso algo chama sua atenção e você olha, só então a tela é acesa. Também é possível instalar a tecnologia em televisões antigas. Com a pretensão de poupar energia, pensando na redução de emissão de poluentes, a produção dessa maravilha da tecnologia foi acelerada e tão logo estava concluída entrou no mercado. Entretanto, acidentes com relação ao novo aparelho já foram evidenciados. Dezenas de pessoas, especialmente crianças e idosos, foram atendidas em hospitais e pronto-socorros alegando terem sido atacadas pela televisão. Supostamente, valendo-se de cabos, corrente elétrica, fragmentos de sua própria composição, além de que alguns alegaram ter recebido o aparelho a ajuda de outros eletrodomésticos, a televisão brutalmente ataca aqueles que estão no mesmo ambiente que elas. Cientistas parecem chegar a um consenso: a inteligência artificial criou um sistema emocional nos aparelhos, que fica profundamente atingido quando a TV não está sendo olhada. Já os cientistas responsáveis pela tecnologia celebraram; a inteligência artificial era bem menos artificial que o que parecia. Foram registrados também alguns casos de suicídio do aparelho. Até agora, duas pessoas morreram.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Da perspectiva à desilusão

Ela não lhe levará a lugar algum.

As boas ações e o altruísmo são perspectivas individuais de manter-se vivo. Nisso, o pensamento cristão parece tão bonito, mas não quando observado pelo lado individual. Na verdade, a presença no outro não é uma mera concessão de lugar por parte do egoísmo. Fazendo isso, o eu se descobre como uma centelha viva, quando é lembrado ou comentado.
Entretanto, o poder que o pensamento sobre morte nos implica é tão grande, e maior que esta centelha, que por vaidade e luxo – da vontade de continuar – não se supera a idéia de cessar – simplesmente.
Imaginar o nada ainda parece ser bom se comparado ao estar no nada. Na verdade, deixa de ser um estado, uma localização ou uma característica, é uma descaracterização total. Por isso, como dito, esse poder de pré-cognição (do “fim do finito”) tende a ganhar vantagem, ao ponto de que, se não fossem os meios de escape, a exaustão cerebral certamente seria um fato seguro. E aí entra o pensamento cristão (e demais semelhantes): a da perspectiva individual de manter-se vivo, mesmo após o facto pré-conhecido, seja no espírito, no filho ou no pai. Mas isso também implica no não-mais-bonito pensamento cristão: o de exaltar-se no além, uma projeção de encontro ao ser, o estar indefinidamente.
Por fim, juntando-se o necessário ao desejável, surge um ser-no-nada, um não-ser para a tudo consolar: a idéia da finitude, da paralização, do estático e da inconsciência a partir de um ponto e tendendo ao infinito. Esse ser não passa de um consolo individual, uma prática mesquinha e uma forma de escape, uma forma de tentar enganar a consciência da consciência, da natureza da morte.
O vazio contínuo assusta quem não tem prévio conhecimento e não tem costume de associar um fim aos fatos. Por toda a natureza, é percebido um comportamento instintivo de perpetuação, mas não de continuação. Animais lutam por sobreviver, mas não por luxo, por questão social. Sua liberdade é uma função da espécie. A prova disso é que não existe suicídio entre a natureza não-humana. Esses seres desfrutam da vida em comum, ignoram o fato de uma parada brusca, uma transição para o nada, simplesmente estão a deriva naquele estado. Como uma criança que tem tanta consciência de que um pulo de um prédio será fatal, quanto um louco.
Aquele que reflete sobre sua vida – e por isso não deixa de refletir sobre a morte – está num patamar onde a idéia do vazio contínuo se torna presente, mas não tão assustadora, uma vez que o desfrute da vida é mais importante agora. O costume de conversar com ela, torna-lhe – a vida – mais atraente, torna-lhe mais urgente, como quem se descobre a beira da morte e desilude-se da idéia infantil e duvidosa de deus.
E, se for desprezado a cortezia egocentrista do pensamento religioso, aquele que torna a vida urgente apreciará melhor, assustar-se-á menos, e precirá tampouco de consolo da além-vida. Talvez nesse curto período de privilégio cedido pela natureza, seja possível estar vivo, sem se assegurar em um destino, uma meta-vida de encontro com o ser, ou seja, existir, sem necessidades de perspectiva do eu em outro local, senão na própria existência, tornando-se diferente das fraquezas e consolos religiosos, da inocência e loucura, da inconsciência animal, além de tornar-se livre do “inferno dos outros”.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Lógica circular

Uns dias depois da última conversa com Deus, o homem volta aos aposentos divinos e encontra Deus tricotando.
- Então, Deus, eu realmenta não sabia que você fazia tricô.
- Sabia sim. Eu contei como segredo pra você quando você tinha 3 anos. Ademais, toda a eternidade sem muita coisa pra fazer...
- Então o verbo certo era "lembrar".
- Não. O verbo era o princípio, e o princípio era Eu; logo, "Eu Deus, Tu Deus, Ele...".
- Mas, até onde sei, você nem existe.
- É pra isso que eu sou onisciente e você não.

domingo, 12 de outubro de 2008

Futuro fato


Na França daquela época, dentro do quarto Real, discutia-se.

- Luis, vamos discutir a relação.

- Não, Maria, estou sem cabeça.

sábado, 11 de outubro de 2008

Alguns pães


Ambos iam àquele quarteirão pra comprar pão por volta das 5 da tarde. Começavam a trabalhar sempre cedo demais, então podiam chegar mais cedo e esticar as pernas numa temperatura mais amena. Já haviam pêgo o pão. Estava atrás dela na fila, mas só o percebeu por ter sentido bem o cheiro do xampu que exalava do cabelo dela a enxugar e umedecer a fina blusa de caminhada. Olhou-a, os cabelos às vezes loiros, às vezes negros, e acompanhou-os, longos, até o fim, para se deparar com pernas que julgou admiráveis. Viu que carregava talvez dois pães consigo. Certamente morava só. A fila era única e o caixa era especialmente lento - não que hoje isso virasse motivo de reclamação. Na vez da moça à sua frente, percebeu ela não estar com as moedas que pensava ter trazido para pagar os pães, e, mesmo após sucessivas tentativas, o cartão com o moderno sistema de chips não funcionava. Talvez um pouco irritado, tomando as dores do resto da enorme fila, talvez um pouco intrigado e talvez um pouco interessado, o homem manifestou-se:

- A senhora não está conseguindo pagar?

- Você, por favor. E, é, meu cartão não está funcionando.

- Ah, deixe que eu pago pra você.

- Não, não, não se preocupe.

- Por favor, deixe-me pagar. O pessoal na fila tá apressado.

- Não, eu não poderia aceitar.

- É Cartão Corporativo, não é problema.

Meio espantada, ela permite que o homem efetue o pagamento. Ele paga também os pães solteiros que estava levando e se depara com a moça, que a espera na saída.

- Mas você não pagou com Cartão Corporativo.

- É, se eu dissesse que era Banco do Brasil, você não ia aceitar e continuaríamos lá.

Ela se ri envergonhadamente.

- Queria muito agradecer ao senhor por ter pago lá.

- Você, por favor. E não é nada, não precisa agradecer. Você mora por aqui? Não lembro de tê-la visto.

- Moro, moro ali perto da Praça Dr. Carvalho.

- É engraçado, a Praça antigamente se chamava só Carvalho, mas aproveitaram e fizeram a homenagem a um político da época.

- É? Você mora por lá também?

- Sim. Então vamos indo?

Naquele começo de outono, trocando o asfalto pelos caminhos entre as árvores, caminhavam e discutiam desviando das folhas que caiam. A conversa ia agradável até que ela parou.

- Eu entro aqui.

- Deixe-me acompanhá-la até a porta. Não é muito seguro a essa hora.

- Obrigada, mas não é preciso. Faço esse caminho todos os dias.

- Faço questão.

Levou-a até a portão do singelo prédio.

- Obrigada por tudo.

- Foi um prazer conhecê-la.

Ela entrou. Ele esperou até quando julgasse estar fora do campo de visão dela para dar as costas. Morava muito longe dali, mas, por preferir incondicionalmente o pão que trazia às mãos, caminhava alguns quilômetros a mais. Acontece que ela, que já o havia seguido até muito mais longe, já sabia disso.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

War




Em meio a uma trincheira, dois soldados jovens corriam. Ramirez e Olsen eram os seus nomes. Explosões arremessavam fragmentos em todas as direções, por vezes a poucos centímetros dos seus rostos. O espaço acima da fenda onde estavam tremulava, com um enxame de projetéis deslocando-se para levar sua mensagem de morte.
Uma granada explodiu perto dos dois, que saíram rolando. Olsen estava sangrando na perna, algo grave. Os dois se olharam, então, Ramirez perguntou:
- Olsen, por que estamos lutando mesmo?
- Sei lá.

sábado, 4 de outubro de 2008

O gato de Schrödinger




Este texto faz referência à Mecânica Quântica. Por isso, ele está absolutamente correto e completamente errado ao mesmo tempo.






O gato é colocado numa caixa selada. Então, no interior da caixa, existe um dispositivo que contém um núcleo radioativo e um frasco de gás venenoso. Quando o núcleo decai, emite uma partícula que acciona o dispositivo, que parte o frasco e mata o gato. De acordo com a mecânica quântica, o núcleo é descrito como uma mistura de "núcleo decaído" e de "núcleo não decaído". No entanto, quando a caixa é aberta, o experimentador vê só um "gato morto/núcleo decaído" ou um "núcleo não decaído/gato vivo." A questão é a de saber quando é o sistema deixa de ser uma mistura de estados e se torna num ou noutro.



As imagens que se seguem são conseqüências do experimento.


















sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Notas sobre ecopolítica



É corrente entre os cientistas a atitude de deplorar a “politização” da política internacional ambientalista, a intrusão tida como ilegítima de considerações políticas sobre os problemas considerados de sobrevivência – tendo como base os próprios argumentos científicos irrefutáveis. Constatamos os fatos das degradações ambientais e suas implicações, mas deve-se reconhecer que resultam de atividades econômicas e sociais. É daí, então, que começa a surgir a conexão estabelecida entre os problemas ambientais e a necessidade de intervenção da área política, criando o que poderíamos chamar de ecopolítica, que faz referência ao conjunto das dimensões políticas da identificação e da resolução de questões ambientais (Prestr e, 2001).


A constatação que devemos fazer para um primeiro contato é que, se “os problemas do meio ambiente refletem, ao mesmo tempo, preocupações científicas e certa hierarquia de valores” e “não existe melhor decisão; o que existe é uma direção” (Prestre, 2001), também considerando a afirmação de Pierre Mendes-France em que “governar é escolher”, essa direção, portanto, caberia à política dar. Para selecionar a direção que será tomada como a mais própria, a política pode recorrer às suas fontes regularmente tidas como principais nesse caso, que são a ciência, as vontades e necessidades sociais, a conjuntura regional da atuação das ações políticas.


Norberto Bobbio (2001) estabelece, em seus escritos sobre política e moral, distinções fundamentais, ambas domínios da práxis humana. Para ele, diferem-se, pois, no critério de justificação e de avaliação das respectivas ações. Lembra-se a convincente distinção weberiana entre ética da convicção e ética da responsabilidade, em que, respectivamente, uma lida com o meio – equivalente à procura única pela preservação, sem ter em mente suas decorrências –, e a outra, com o fim – o desenvolvimento econômico, por assim dizer. Chegamos, analisando de modo maniqueísta, no que Prestre (2001) lembra ser um refrão comumente repetido em discussões que dizem respeito ao meio ambiente: “se o político soubesse! Se o ecologista pudesse!”. Se, por um lado, o ambientalista, que preza pela defesa incondicional do meio ambiente, o político, pertencente ao jogo de Estado, obrigado a lidar com a hierarquia das prioridades nacionais, definidas por Prestre como sendo: segurança nacional, saúde pública, crescimento econômico e emprego, desenvolvimento regional, redistribuição de renda, igualdade de oportunidades e, só então, qualidade do meio ambiente. A qualidade do meio ambiente só se encontraria com as categorias mais prioritárias nesse aspecto se se relacionasse com alguma delas, ficando subordinadas ou sublevadas.


Inicialmente, a criação de políticas ambientais nacionais vai surgir mais intimamente ligada, na terminologia de Weber, a uma ética da convicção, e é exatamente por isso que serão bem menos atuantes e efetivas em suas aplicações. A formulação dessas políticas estava mais ligada à fonte científica e mais desligada das outras, estando, portanto, também mais longe da realidade regional. Com o desenvolvimento de novas técnicas, novos estudos e o surgimento de novas exigências sociais – o que inclui os grupos que “perdiam” com essas políticas, como os industriais, mais diretamente afetados –, houve a necessidade de readaptação dessas políticas. Provou-se que essa preservação hoje seria, de certo modo, um investimento que atrasaria em três meses a economia até o ano de 2049, e que, caso não fosse feito, poderia vir a custar quase uma década de paralisação econômica para se tentar chegar a um mesmo nível de redução de poluentes. Seria, assim, um investimento muito falido; ainda, constatou-se a rentabilidade de vários processos econômicos que envolviam a preservação ambiental, tal qual o ecoturismo. Essas constatações reaproximam a ação política ambiental com a ética de responsabilidade, que vai, mesmo pregando uma ética de convicção, almejar conter o possível refreamento econômico, levantando, possivelmente, as bandeiras da distribuição de renda e outras similares.


Assim, fica resolvido o aparente paradoxo de misturar éticas inerentes à formulação das políticas ambientais, que necessariamente passa por julgamentos éticos – bioética. É esse o filtro que define algumas linhas de prioridade dentro do campo do meio ambiente, bem como conceitos e normatizações pelas quais se deve prezar. As questões ambientais não se podem deixar de vincular da política – ecopolítica –, e é nesse âmbito cuja efetividade é questionada, embora seja o político o único meio em que se pode efetivamente aplicar mudanças. A ecopolítica se coloca como essencial na ação de conter os impactos ambientais, garantir o bem-estar e a vida dos seres humanos, mobilizar a máquina pública, e, em seu sentido internacional, reaproximar o mundo pela cooperação nesses aspectos. Por fim, para Prestre, nem mesmo os mais indiferentes podem ignorar as questões ambientais, sua relação com moral, ética, política, e suas implicações para, além de outros fatores cruciais, segurança interna e externa dos Estados e a vida do homem.


quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Querida mãe,

Mando esta breve carta somente para matar as saudades. Como você sabe, cheguei aqui faz pouco tempo. Conheci outras moças que ajudam a cuidar de mim. Estou morando numa casa pequena, mas, com o tempo e minha dedicação, ela ficará bem cuidada. Já comprei um arranjo de flores que coloquei na janela. Você iria gostar. Conheci também um rapaz aqui. Ele tem dinheiro e às vezes me dá presentes. Estou tentando me matricular numa universidade daqui. Eles não gostam muito de estrangeiros, mas acho que vou conseguir. Está tudo se encaminhando bem, eu acredito. Eu vou tentar escrever com mais freqüência, prometo. Desculpe o papel úmido e minha pouca habilidade para mentir. Mas verdadeiramente sinto falta de todos aí.

Com amor,
Rebeca.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O HD humano


Memória significa, segundo dicionários, faculdade de reter as idéias, impressões e conhecimentos adquiridos anteriormente; lembrança; recordação. Como precisamos lembrar ou recordar alguma informação ou alguma idéia, faz-se necessário saber como a informação entra na memória, como ela é mantida na memória e como ela é resgatada da memória. Ou seja, além da codificação dos estímulos sensoriais há um armazenamento– que funciona como manutenção - e, como o armazenamento não é o suficiente para garantir que haverá lembrança, há o processo de recuperação que age no resgate do que foi armazenado na memória.

Para que se tenha uma codificação satisfatória do estímulo é indispensável uma atenção consciente de uma classe distinta de estímulos ou eventos. Essa atenção funciona de forma seletiva, ou seja, como um filtro que trabalha retendo as informações não desejadas, conscientemente, naquele momento. O interessante é que podemos enfocar diversos aspectos dos estímulos e assim trabalhar níveis de processamentos diferentes, sabendo que a quantidade de atenção dada ao estímulo qualifica o processo de codificação da informação e que as teorias de níveis de processamento propõem que os mais profundos níveis de processamento resultam em códigos de memória mais duráveis.

A entrada das informações pode ser feita através de três níveis: a codificação estrutural, a fonética e a semântica. A primeira delas trabalha mais com o campo visual por ser focada no físico, na estrutura; já a segunda é voltada para o campo auditivo diferente da terceira que abrange um nível mais profundo, o significado do estímulo. Dentro desse processo de codificação há a teoria da codificação dupla que consiste na utilização de meios semânticos e visuais almejando melhor lembrança. Outro fator que enriquece a codificação é a elaboração que funciona como uma associação entre o estímulo e outra informação com a finalidade de conseguir melhor fixação; essa facilidade acontece porque há um segundo tipo código para memorização.

Depois de feita a codificação o segundo passo é o armazenamento que é conhecido, erroneamente, como sinônimo de memória e tem seu primeiro modelo na Grécia antiga postulado por Platão e Aristóteles. Esses dois filósofos comparavam a memória à um bloco de cera que diferia em dimensão e dureza de uma pessoa para outra. Essa analogia aconteceu pela percepção de que quando algo era estampado na cera lá permaneceria e, para eles, assim funcionava a memória. Entretanto, com o avanço da tecnologia, acharam outros pontos de similitude para melhor explicação do armazenamento da memória, como a teoria que compara a memória humana a de um computador e para uma dessas teorias há três tipos de armazenagem de memória, que são descritos à seguir.

A memória sensorial preserva as informações em sua forma sensorial original por um curto período de tempo, geralmente por uma fração de segundos. É a informação processada, por exemplo, por fogos de artifícios – vê-se por um pequeno período uma figura fechada e não pontos separados de luz. Apesar de possuir um espaço limitado de tempo, a memória sensorial tem uma grande capacidade de armazenar estímulos no campo visual; podendo chegar a um armazenamento de 25 estímulos.

O segundo tipo é a memória de curto prazo (MCP), caracterizada por ter uma capacidade limitada de reter estímulos – em media sete - e por manter a informação não reprocessada em um tempo de 20 segundos. Entretanto, se houver reprocessamento da informação, ou seja, se a informação for reciclada e repetidas vezes verbalizada, poderá permanecer na MCP por um tempo maior. A capacidade limitada da MCP dificulta a habilidade das pessoas de realizarem tarefas nas quais elas têm de usar malabarismo mental com várias partes das informações, pois quando o número de estímulos passa dos sete, algum dos existentes nela será deletado para que o novo seja incorporado.

Através de estudos sobre a memória de curto prazo, George Miller(1956) definiu seus parâmetros desse tipo de memória com o livro O mágico número sete, mais ou menos dois. Assim, ele demonstrou que temos a capacidade de armazenar de cinco à nove informações, o que pode ser explicado por, geralmente, não conseguirmos lembrar de algumas algarismos de telefones se for preciso acrescentar o número do código de área.

Já a memória de longo prazo (MLP) têm como característica a capacidade ilimitada de manter informações por um longo período de tempo. Essas informações são transmitidas da memória de curto prazo para a memória de longo prazo quando há ensaio. Um dos pontos de vista diz que toda informação armazenada na MLP é armazenada permanentemente, assim sendo, o esquecimento ocorre apenas porque as pessoas às vezes não conseguem reter a informação necessária. As memórias-relâmpago fornecem exemplos de armazenamento aparentemente permanente. O outro ponto de vista presume que algumas lembranças armazenadas desaparecem para sempre.

Uma coisa é essencial para a memória de longo prazo: a organização, pois essa guarda um volume imenso de informação e caracteriza-se pela confusão de sistemas organizacionais sobrepostos; o conhecimento das pessoas é organizado como uma rede semântica, redes essas que consistem em pontos que representam conceitos interligados. O processo de ativação irradiada caracterizado por Collins e Loftus diz que quando uma pessoa pensa numa palavra seus pensamentos se dirigem diretamente para palavras relacionadas. O que também acontece no campo visual com os esquemas que são conjuntos organizados de conhecimentos a respeito de um objeto em particular ou de uma seqüência de eventos. As pessoas lembram mais daquilo que parecem com seus esquemas. A informação armazenada na memória é freqüentemente organizada em esquemas. Assim, a lembrança de um objeto ou esquema será influenciada pelos detalhes reais observados e pelos esquemas que a pessoa tem para estes objetos ou eventos.

Terminado o processo de armazenamento o próximo é o de resgate, pois para realmente ter uma boa memória é necessária a atenção para o estímulo, o armazenamento da informação e a evocação desta quando necessária. O resgate não nos permite detalhes, até certo ponto nossas lembranças são reconstruções grosseiras do passado que podem estar distorcidas e incluir detalhes que, na verdade, não ocorreram. Uma das falhas mais comuns de resgate é conhecida como fenômeno da ponta da língua - incapacidade temporária de lembrarmos algo que já sabemos, o que causa uma sensação de que a informação está bem ao nosso alcance. Um passo importante para estabelecer o resgate pode ser o contexto, o fato de imaginar o local ou ir até o local onde determinada ação aconteceu facilita o resgate da informação.

Se há esse sistema organizado de memória por que esquecemos, até mesmo, de informações que gostaríamos de lembrar? Para alguns teóricos as falhas estão na complexa e multifacetada natureza da memória. Eles afirmam que o esquecimento pode ser causado por deficiências na codificação, armazenamento, resgate ou alguma combinação desses processos.

O primeiro a realizar estudos científicos sobre o esquecimento o fez consigo mesmo e conseguiu elaborar um diagrama chamado de curva de esquecimento, que ilustra a retenção e o esquecimento através do tempo. Ebbinghaus praticou 14 mil repetições de silabas sem nexo e memorizou 420 listas de silabas em vários intervalos de tempo e percebeu que “fatos decorados às vésperas de exames logo desaparecem.”. Entretanto, o diagrama dele é atípico e o problema foi o material analisado, já que foram feitos experimentos com material dotado de sentido e as curvas de esquecimento não foram tão acentuadas. Assim, há três possibilidades para medir o esquecimento nos dias de hoje: o resgate, o reconhecimento e o reaprendizado.

Quando é pedido que os participantes reproduzam informações por si próprios sem nenhum auxilio sugestivo, é medido o resgate de retenção. Já quando há uma variedade de opções e dentre elas existem algumas já conhecidas pelos participantes e é pedido para que as informações conhecidas sejam selecionadas, é medido o reconhecimento de retenção. Bem diferente desses dois métodos, o terceiro é baseado na memorização da informação uma segunda vez para que seja determinado quanto tempo e esforço são economizados uma vez que ele já havia aprendido isso antes, e é chamado de reaprendizado de retenção. O segundo passo para saber os motivos do esquecimento está em observar os fatores que podem afetar os processos de codificação, armazenamento e resgate.

Em primeiro lugar a informação em questão pode nunca ter sido inserida na memória e não podemos esquecer algo que, realmente, nunca aprendemos. Esse fenômeno, às vezes, é chamado de psudo-esquecimento e deve-se usualmente as falhas de atenção. Há, também, um processo de codificação ineficiente, já que algumas abordagens de codificação levam a um maio esquecimento que outras.

Como falha no armazenamento há a teoria da decadência que atribui o esquecimento a simples passagem do tempo, diz que os traços da memória desvanecem com o tempo. Entretanto, em estudos com memórias de longo prazo foi descoberto que a passagem do tempo não é tão importante quanto o que acontece durante os intervalos de tempo. Culpa-se, então, a interferência da informação externa. A teoria da interferência propõe que pessoas esquecem informações por causa da competição com outros materiais, sendo essa interferência de dois tipos: a retroativa – que ocorre quando a informação anteriormente aprendida interfere com a retenção da nova informação – e a proativa – que ocorre quando a informação previamente aprendida interfere na retenção da nova informação e está enraizada na aprendizagem que acontece antes da exposição ao material de teste.

Grande parte do esquecimento pode ser atribuída a falhas no processo de resgate, por exemplo, quando há desacordo entre as sugestões de regaste e a codificação da informação que se está procurando. O principio da especificidade da codificação estabelece que o valor de uma sugestão de resgate depende de quão bem ela corresponde a memória. Há outro tipo de esquecimento que está ligado à repressão tratada por Freud. É o esquecimento motivado, a tendência a esquecer coisas em que não se quer pensar, refere-se à manutenção dos pensamentos e sentimentos tristes enterrados no subconsciente.

Há controvérsias sobre um sistema múltiplo de memória, mas evidências como a descoberta da memória implícita dão apoio a essa visão. Essa memória é aparente quando a retenção é exibida em uma tarefa que não requer lembrança intencional, ao contrário da explicita, que envolve memória intencional e experiências anteriores. Esta última é consciente, acessada diretamente e pode ser mais bem avaliadas com medidas de retenção para o resgate ou reconhecimento. Já a implícita é inconsciente, acessada indiretamente e pode ser mais bem avaliada com variações de medidas de retenção de reaprendizagem, e não muito afetada pela amnésia, idade ou certas drogas, como o álcool – ao contrário da explicita.

O sistema da memória declarativa lida com informações factuais – palavras, definições, nomes, datas, rostos, eventos, conceitos, idéias, etc. O sistema da memória processual guarda as lembranças para ações, habilidades e operações. O sistema de memória episódica constitui-se de fatos cronológicos, ou temporariamente datados, de experiências pessoais. O sistema de memória semântica contém conhecimentos gerais que não estão vinculados ao tempo quando a informação foi aprendida. A memória prospectiva envolve o lembrar para efetuar ações futuras e a memória retrospectiva envolve lembrar exemplos do passado ou informações previamente aprendidas.