Postagem especial de Matteo Ciacchi
História original
Era uma manhã chuvosa quando o garoto cabeçudo parou para amarrar o sapato. Encontrava-se numa ladeira, de modo que quando se abaixou para alcançar os cadarços, perdeu o equilíbrio e pôs-se a rolar ladeira abaixo, até que por fim caiu numa poça d’água que havia no fim da rua. Voltou para casa ensopado e de sapatos desamarrados.
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Ctrl + I
Era uma tarde ensolarada quando uma garota de cabeça pequena sorriu contente ao ver seus sapatos devidamente amarrados. Estava perfeitamente equilibrada numa avenida plana, mas sua pequena cabeça era tão leve que ela começou a flutuar, e subiu, subiu, até que chegou tão perto do sol que ela e seus sapatos bem amarrados se ressequiram e se queimaram. Nunca mais voltou para casa.
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Inverter início e fim
Voltou para casa ensopado e de cadarços desamarrados. Pouco antes havia caído numa poça d’água, no fim de uma rua – fora rolando até lá pela ladeira que se estendia. Havia perdido o equilíbrio ao se abaixar para amarrar seus sapatos. Tudo por causa de sua imensa cabeça, apenas visível na rua naquela chuvosa manhã.
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Sem a letra “A”
O invólucro do cérebro do menino é de imenso volume. No dilúculo chuvoso, seu tênis frouxou. Inclinou-se com o intento de prendê-lo com o fio específico. Ocorre um imprevisto: desequilibrou-se e, com seu invólucro do cérebro, vê-se num tombo pelo beco íngreme onde esteve no minuto precedente, como se fosse um rolo. Seu destino, no fim, é um monte de monóxido de dihidrogênio. Voltou no edifício onde reside, embebido no monóxido e com os tênis frouxos.
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[Usar as palavras tutti-frutti; macaxeira; esfigmômetro; bússola; bidê]
Não havia esfigmômetro que pudesse medir o pulso do garoto naquele momento de aflição: com os olhos de sua cabeça monstruosamente grande, viu não uma macaxeira, mas seu sapato desamarrado. Prontamente e com a precisão de uma bússola, lançou-se a amarrar o sapato como se lançaria sobre um delicioso doce sabor tutti-frutti. Desequilibrando-se, pôs-se a rolar ladeira abaixo. No fim da rua, aterrissou numa poça d’água, e lá ficou, atordoado, sentado na poça como se fosse um bidê. Voltou para casa ensopado e de sapatos desamarrados.
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Hiperbólico
“Dilúvio!”, pensou o garoto e sua aberrante cabeçorra naquele tempestuoso crepúsculo. Tal qual Noé milênios antes, o menino fez um esforço descomunal e, num ato de puro heroísmo, foi à rua, ignorando os trovões e vendavais. Seu infortúnio e má sorte estavam apenas no início. Não foi sem uma expressão de puro horror que o garoto hidrocéfalo constatou que seus tênis – maldição! – estavam desamarrados. Espumando de raiva, o garoto se inclinou para reverter tal situação de martírio – terrível hora! O peso insuportável de seu encéfalo o atirou para frente, e despencou rolando numa queda interminável ladeira abaixo – desventura que culminou na sua queda em uma poça – mais uma lagoa! Recuperando-se do golpe terrível, levantou sua possante cabeça e tornou à sua casa, quase diluído em tanta água.
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Soneto em endecassílabos
Pesada era a chuva n’aurora do dia
Pesada era a cabeça daquele menino.
Debaixo da chuva o menino sairia
E só voltaria com o sol a pino
Com grande surpresa o menino abismado
Notou seu sapato afrouxar-se no pé
A s’abaixar viu-se o menino obrigado
E amarrou-se a bota sem muita fé
Desequilibrou-se o garoto e rolou
Rolou ladeira abaixo sem mais parar
Até que numa poça d’água parou
Criatura infeliz, levantou-se de pronto
Molhado e de sapato desamarrado
Voltou para casa só e meio tonto
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Piada
“Conhece a piada do menino do cabeção?” “Não” “Foi amarrar o sapato e saiu rolando” “Hehe.”
Um comentário:
Uaehueahae.
Gostei da do 'tutti-frutti, macaxeira, esfigmômetro, bússola e bidê'.
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