segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Uma Breve História da Religião - Parte II

Depois de abordar de modo geral as culturas que deram origem às diversas religiões, abordaremos individualmente as principais religiões atuais:

1) Judaísmo

Moisés segurando a Tábua das Leis


Das grandes religiões monoteístas existentes no mundo, o judaísmo é a de raízes mais antigas. De seu seio surgiu o cristianismo, enquanto o islamismo adotou vários elementos judaicos e reconheceu Abraão e Moisés como profetas.
Judaísmo é, em sentido restrito, a religião dos antigos hebreus, hoje chamados judeus ou israelitas, e, num sentido mais amplo, compreende todo o acervo não só de crenças religiosas, como também de costumes, cultura e estilo de vida dessa comunidade étnica, mantido com constância e flexibilidade ao longo das vicissitudes de cerca de quarenta séculos de existência.

1.1 ) História dos judeus

A Bíblia é a referência para entendermos a história deste povo. De acordo com as escrituras sagradas, por volta de 1800 AC, Abraão recebeu uma sinal de Deus para abandonar o politeísmo e para viver em Canaã (atual Palestina). Isaque, filho de Abraão, tem um filho chamado Jacó. Este luta , num certo dia, com um anjo de Deus e tem seu nome mudado para Israel. Os doze filhos de Jacó dão origem as doze tribos que formavam o povo judeu. Por volta de 1700 AC, o povo judeu migra para o Egito, porém são escravizados pelos faraós por aproximadamente 400 anos. A libertação do povo judeu ocorre por volta de 1300 AC. A fuga do Egito foi comandada por Moisés, que recebe as tábuas dos Dez Mandamentos no monte Sinai. Durante 40 anos ficam peregrinando pelo deserto, até receber um sinal de Deus para voltarem para a terra prometida, Canaã.
Jerusalém é transformada num centro religioso pelo rei Davi.

Após o reinado de Salomão, filho de Davi, as tribos dividem-se em dois reinos : Reino de Israel e Reino de Judá. Neste momento de separação, aparece a crença da vinda de um messias que iria juntar o povo de Israel e restaurar o poder de Deus sobre o mundo.

Em 721 começa a diáspora judaica com a invasão babilônica. O imperador da Babilônia após invadir o reino de Israel, destrói o templo de Jerusalém e deporta grande parte da população judaica.

No século I, os romanos invadem a Palestina e destroem o templo de Jerusalém. No século seguinte, destroem a cidade de Jerusalém, provocando a segunda diáspora judaica. Após estes episódios, os judeus espalham-se pelo mundo, mantendo a cultura e a religião. Em 1948, o povo judeu retoma o caráter de unidade após a criação do estado de Israel.

1.2) Subdivisões

Judaísmo Conservador

Esta corrente defende a idéia de que o Judaísmo resulta do desenvolvimento da cultura de um povo que podia assimilar as influências de outras civilizações, sem, no entanto, perder suas características próprias. Assim, o Judaísmo Conservador não admite modificações profundas na essência de suas liturgias e crenças, mas permite a adaptação de alguns hábitos, conforme a necessidade do fiel.

Judaísmo Ortodoxo

Corrente que se caracteriza pela observação rigorosa dos costumes e rituais em sua forma mais tradicional, segundo as regras estabelecidas pelas leis escritas e na forma oral. É a mais radical das vertentes judaicas.

Judaísmo Reformista

O Movimento Reformista defende a introdução de novos conceitos e idéias nas práticas judaicas, com o objetivo de adaptá-las ao momento atual. Para esta corrente, a missão do judeu é espiritualizar o gênero humano - a partir deste ponto de vista, torna-se obsoleto qualquer preceito que vise separar o judeu de seu próximo, independentemente de crença ou nação.


1.3) Símbolos do Judaísmo

- O Muro das Lamentações – em Jerusalém, é o que resta do templo de Herodes, destruído pelos romanos no ano 70 d.C. Aqui os hebreus vêm rezar. É o único lugar sagrado de todo o Judaísmo.

- O Candelabro dos sete braços – A "Menorah" é o símbolo do Judaísmo. O 7 é para os Judeus o número da plenitude, da perfeição.
- A Sinagoga – É o lugar de oração, de estudo e de reunião.
- O Rabino – Os hebreus não têm sacerdotes. O Rabino é só um mestre, um guia espiritual para os fiéis na interpretação da Bíblia.
- O Sábado – É o dia semanal festivo dos judeus. Começa ao pôr-do-sol de Sexta-feira e vai até ao pôr-do-sol de Sábado. É um dia dedicado à oração e ao descanso.

1.4) As festas

- O dia do perdão – «Yom Kippur
» – festa de jejum e de expiação. Cada judeu deve estender ao seu inimigo a mão da reconciliação, esquecendo as ofensas e pedindo desculpas.
- A festa da Páscoa – «Pessah» – recorda a saída do povo hebraico do Egipto, guiado por Moisés. Prolonga-se por oito dias.
- A festa do Pentecostes – «Shavuot» – recorda a Dom da Torá (Dez Mandamentos), dada por Deus a Moisés, no monte Sinai.

1.5 ) Crenças

Conceitos de vida e morte: O entendimento dos conceitos de corpo, alma e espírito no judaísmo varia conforme as épocas e as diversas seitas judaicas. O Tanakh não faz uma distinção teológica destes, usando o termo que geralmente é traduzido como alma (néfesh) para se referir à vida e o termo geralmente traduzido como espírito (ruach) para se referir à fôlego. Deste modo, as interpretações dos diversos grupos são muitas vezes conflitantes, e muitos estudiosos preferem não discorrer sobre o tema.

Ressurreição e a vida além-morte: O Tanach, excetuando alguns pontos poéticos e controversos, jamais faz referência à uma vida além da morte, nem à um céu ou inferno, pelo que os saduceus posteriormente rejeitavam estas doutrinas. Porém após o exílio em Babilônia, os judeus assimilaram as doutrinas da imortalidade da alma, da ressurreição e do juízo final, e constituiam em importante ensino por parte dos fariseus.

Nas atuais correntes do judaísmo, as afirmações sobre o que acontece após a morte são postulados e não afirmações, e varia-se a interpretação dada ao que ocorre na morte e se existe ou não ressurreição. A maioria das correntes crê em uma ressurreição no mundo vindouro (Olam Habá), incluindo os caraítas, enquanto outra parcela do judaísmo crê na reencarnação, e o sentido do que seja ressurreição ou reencarnação varia de acordo com a ramificação.

Deus: Deus é o Criador. Eterno, omnisciente, omnipotente, infinito e incorpóreo. Deus não tem género no sentido humano do termo, o pronome masculino é-Lhe atribuído apenas por convenção. Deus é único. Deus é um e não composto por diferentes personalidades.

O Bem e o Mal: Deus é o Criador de todas as coisas. O judaísmo não tem o conceito de Diabo. Enquanto em hebraico existe a palavra satan, e ela de facto é mencionada várias vezes na Bíblia Hebraica, o seu significado é completamente diferente do atribuído pelos cristãos – em hebraico satan quer dizer oponente, referido por regra no contexto da luta interior individual entre dois opostos. O “Mal” é produto exclusivo das acções, individuais e colectivas, do Homem, assumindo-se como o resultado de um processo cósmico de “causa e efeito” equiparável às teorias da física newtoniana.

Messias: A palavra hebraica moshiach (משיח - messias) não tem a mesma conotação que lhe é atribuida pelo cristianismo. No judaismo não existem homens-deus, semideuses ou filhos literais de Deus. Uma pessoa não pode tomar ou absolver os pecados de outra. Os judeus não estão à espera da vinda de alguém. O Futuro chegará através das acções do conjunto da Humanidade. Um dos sinais contidos na Bíblia Hebraica para a chegada da era messiânica é a paz universal.

Povo Eleito: A Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) refere-se poucas vezes aos judeus como “o povo eleito”, mas a expressão tem sido destorcida ao ponto de se fazer crer que os judeus se julgam intrinsecamente superiores aos não-judeus. Esta leitura é completamente falsa. Os judeus são “escolhidos” apenas enquanto portadores da Mensagem (Instrução), e seus guardiões através dos séculos. Não existe qualquer sentimento de superioridade ou inferioridade implicita.

Sacrifício e Expiação: O sacrifício não é necessário para a expiação. O propósito do sacrifício é expressar o sentimento de afinidade pessoal para com o Criador. Na ausência do sacrifício, o mesmo sentimento pode ser expresso através da oração (meditação) e correcção dos erros cometidos.

Dez Mandamentos: Os conhecidos “Dez Mandamentos” são apenas uma parte da Instrução, ainda que importante. A palavra hebraica usada significa literalmente “declaração” (“dez declarações”). No judaísmo, em vez de apenas dez, existem 613 mandamentos (mitzvot).

A Torá ou Pentateuco – De acordo com os judeus, é considerado o livro sagrado que foi revelado diretamente por Deus. Fazem parte da Torá : Gênesis, o Êxodo, o Levítico, os Números e o Deuteronômio. O Talmude é o livro que reúne muitas tradições orais e é dividido em quatro livros: Mishnah, Targumin, Midrashim e Comentários.


Um comentário:

Luciano D Pires disse...

Excelente explicação da trajetória do povo hebreu.

Obrigado,

Luciano D Pires