Filho de um pintor de paredes e de uma lavadeira, o menino não tinha acesso à educação. Mas sua mãe, prezando pela educação que não tivera, tomava emprestado livros que paravam nas mãos brutas da criança. Pegava os livros, punha-os de cabeça pra baixo, de um lado, de outro, procurava o que fazer com eles. Até que as letras começaram a fazer sentido, e as palavras, frases, e, daí, a mágica, a se formar.
O menino vendia doces na rua para se alimentar - o que, posto dessa maneira, não deixa de ter seu quê de ironia. Ter aquele nível de pigmentação melanínica naquela época era estar condenado a ter as mãos sempre brutas. Não aquele menino, não no sonho dele. Ele não queria ter as mãos toscas para sempre. Queria criar, queria inventar palavras, palavras que encantassem - e, mais, que transcendessem, assim como ele, o tempo em que se encontravam.
Arranjou uma madrinha que cuidou dele. Levou-o para sua padaria, onde, conversando com o padeiro francês, aprendeu nova língua. O agora jovem viu necessidade de deixar aquele lugar que não mais lhe servia. Foi para um jornal. Escreveu até que adquirisse certa fama.
Saiu do jornal, abriu uma loja naquela cidade em crescimento. Vendeu e cresceu. Abriu mais lojas que quebravam as outras menores. Comprou, só para responder ao ego, o antigo jornal onde trabalhava. E uma editora. E livros, muitos livros. Não lia, só os comprava.
Ascendeu socialmente. Comprou a liberdade de alguns homens, fez alguns contratos com alguns homens livres demais e terminou com a mão mais tosca das mãos. O agora senhor matara agora o menino que levava nas costas e queria reinventar o mundo com sua pesada arma de guerra.
Um comentário:
Interessante ^^
Afinal, ele comprou a liberdade de alguns homens ou vendeu a própria?
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