De todos os órgãos do corpo, a orelha é o única cuja forma ultrapassa a função. Todos os outros órgãos têm a forma adequada à sua finalidade - mais da metade das curvas e nichos da orelha são desnecessárias. São, portanto, puro exibicionismo. A complexidade interna do ouvido - seus labirintos e artelhos - se justifica. Nada justifica as viravoltas externas da orelha, as falsas entradas, os cornichos, as cavernas, desafios à logica e ao cotonete. Alguns órgãos do corpo chegam ao barroco, só a orelha dá o passo fatal, que acabou com o Renascimento, para o rococó. A orelha denuncia uma perigosa tendência latente na criação para o excesso, para a forma pela forma, para o ornamentalismo vazio. Achei que devia fazer este alerta.
Veríssimo, Luis F. - Mais comédias para se ler na escola, pág. 109
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Um comentário:
Ainda me questiono sobre o apêndice hmm...
Mas a orelha é, de fato, outro ponto interessante
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