quinta-feira, 10 de julho de 2008

Algumas linhas

Estou moribundo. Quero partir. Só agora sinto que amo; só agora sinto que sou amado. Só eu sei; meus dias estão contados. Queria dizer a ela que sei que a amo. Não consigo.
... ...
Há pouco descobri que não estou moribundo. Não quero partir. Só agora vejo que não amo; só agora vejo que não sou amado. Só eu não sei; meus dias não estão contados. Não queria dizer a ela porque não sei se a amo. Mas consigo.


***

Há muitas histórias sobre o velho dos livros. Ou o velho e os livros. Um ou outro. Sei lá. Mas algumas são histórias famosas. Nunca soube bem onde ele trabalhava, só sei que com livros; nem se está vivo de fato; as coisas que se diz sobre ele todos os dias, por outro lado... ah, essas estão.

Conta que certa feita, ele, analisando minuciosamente, já observava um cliente novo. Homem jovem, elegante. Passos indecisos, expressão facial ainda mais; as mãos perescrutavam as prateleiras parecendo sempre insatisfeitas. O que quereria ele?

Era um dia de pouco movimento. Ótimo. Pôde concentrar seu olhar crítico no rapagão. Vestia-se todo de branco. Isso dizia muito; não solicionava, entretanto, o problema. Percorreu todos os corredores - eram muitos, de se perder na imensidão mal-sinalizada e iluminada. Depois de algumas horas de olhares que levavam a pensamentos que cortavam o silêncio de enormes e o tentavam curar impondo um clima denso, o homem aparece.

Barba recém-feita, corrente dourada, dois botões da camisa abertos, seu olhar inquieto e flamejante da juventude incontrolada o traía. Trazia um exemplar d'O Pequeno Príncipe, uma edição de luxo da obra de Exupéry. Pulara a infância?

- Olha, eu...
- É, você quer levar, eu sei. Ninguém vem até aqui pra dizer que achou bonito.
- Hm, é.
- Você é estudante na área de saúde?
- Er, hm, não, não. Sou recém-formado, formado, é. Sou médico-cirurgião. Doutor...
- ... e você se acha capaz de curar alguém?

4 comentários:

Anônimo disse...

Phil,adorei os textos.No primeiro eh genial como vc conseguiu alterar a percepção da historia apenas com algumas mudanças sutis.O segundo me fez rir,diante da rudeza do velho.Enfim ambos estão otimos.Parabens e continue escrevendo tão bem,lerei sempre.Te adoro!

Ingrid B. Montenegro disse...

que cenário o da segunda parte! hehe um Doutor lendo O pequeno príncipe, é...c'est la vie.

e, quanto à primeira parte...!
hehe
preciso dizer que gostei? =D te adoro, phil.

Anônimo disse...

Coincidência ou esse velho do segundo conto foi inspirado no mesmo que atendeu carlos em uma certa livraria? O modo de atendimento é idêntico *-*.

Bem, resumindo, ótimos contos!
\o/\o/\o/

jasonbob disse...

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