- As coisas não funcionam assim, Deus.
- Já lhe pedi que me chamasse pelo primeiro nome.
- Como quiser. João, as coisas não funcionam assim.
- O que quer dizer?
- Ainda há alguns que pensam e se libertam.
- Prossiga.
- O sol.
- Hm.
- Por exemplo, o sol existe, se é que existe, e proporciona numa certa vez uma linda manhã ensolarada. Eu não devo nunca me sentir na obrigação de aproveitá-la, de forma alguma.
- Por quê?
- O sol existe para mim, não eu para ele.
- Entendo. Estranho, mas entendo. Diga-me, é isto que é ser cético?
- Vê esta parede?
- Como não!
- Um vivente qualquer olha para a parede e só vê a parede. Se alguém lhe pergunta se está pintada, para ele não faz muita diferença. O que lhe disserem que é verdade ele aceitará. Se disserem que está pintado, pois ele acreditará nisto. Um cético não. Se não notar de primeira com o olhar, ele se pergunta se já viu alguém pendurado por ali pintando. Se não, utiliza a ciência para investigar o fato. O cético compreende a parede como um conjunto de tijolos sobrepostos, e não há nada mítico nisso, que perturbe sua existência. Não importa que alguém lhe diga o contrário; o cético é o método científico aplicado a sentidos e reflexões.
- Não vejo como isso é possível.
- João, você é uma farsa.
- Eu? Por quê?
- Você é o cético supremo.
- Sou? E por que seria?
- Meus semelhantes acreditam em você, numa força superior. E você - acredita em quem?
- Eu? Ninguém. Digo, em mim, claro.
- Eu não acredito em você nem em sua divindade. Acredito em mim mesmo. Assim também sou Deus.
- Não é.
- Não?
- Sou Deus por vários motivos além desse, como por poder alterar a realidade.
- Também posso fazê-lo. Altero a minha quando quero, e é só a minha realidade que me importa, assim como a sua a você. Alterei-a significativamente quando decidi acreditar só em mim e não perder mais tempo com você.
- Blasfêmia!
- Você é a hipocrisia imberbe. Sua realidade sádica lhe apraz, não aos homens. Não minta mais para si. Acredite no que está óbvio. Você quer, é preciso sair da escuridão em que você está. Você não está sozinho. Venha, acredite em mim.
- Em você?
- É. Eu ofereço vantagens.
- Muitas?
- Muitas.
- Oba.
segunda-feira, 21 de janeiro de 2008
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2 comentários:
De fato, ele se tornou um bom escrav... er... seguidor, isso! Seguidor!
P.S.: Ótimo texto ^^
Não há Deus senão o homem!
Uma excelente historieta metafísica bem-humorada sobre o ceticismo e Deus de um ponto de vista satanista aos moldes de Anton Szandor LaVey, que atrás de sua aparente ingenuidade carrega um significado profundo de máxima importância para nós seres humanos nos entendermos como seres pensantes.
Em outras palavras
du carai boy, publica essa merda em outro canto porra. pra mais cristão fedorento ver
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