sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Onde está a liberdade tão alimentada pelo sonho humano?


"Liberdade, essa palavra

que o sonho humano alimenta

que não há ninguém que explique

e ninguém que não entenda.
"

(Cecília Meireles)

Para Bertrand Russell, filósofo e matemático inglês do séc. XX, em seus Ensaios Céticos, a liberdade é um valor que admite gradações. Como argumento, ele cita o exemplo de crianças que deixadas por conta própria, mais cedo ou mais tarde terminaram em maus caminhos, e que por isso a liberdade delas deve ser monitorada por adultos, os quais também lhes devem impor limites. Mas a grande questão levantada é: até que ponto a autoridade dos adultos sobre as crianças deve ser permitida e como deve ser imposto esse limite. Além disso, o homem também deve obedecer a certos limites ou aproveitar sua liberdade ao máximo?

Atualmente, as pessoas sentem-se ofendidas toda vez que a liberdade é colocada em risco ou sob ameaça. Esse limite sobre a liberdade infantil defendida por Russell, muitas vezes é mantido durante toda a vida, em situações “normais”, por exemplo, quando, em um condomínio, residencial ou empresarial, se criam e se aceitam leis e regras, ou um salário mínimo que um regime determina. Geralmente, um grupo de pessoas, por mais homogêneo que seja, tende a eleger um líder (como comentara Montesquieu, em suas Cartas Persas, que aos seres humanos sempre cai o jugo de serem submissos), e esse passa a exercer um cargo de autoridade, por mais democrático que seja o grupo. A autoridade é quem, geralmente, determina as regras e as leis que o grupo deve seguir, e às vezes, quando a autoridade é exercida demasiadamente, o grupo é proibido, perdendo parte de sua integridade, enquanto ser livre.

Seguindo-se essa linha, temos que a humanidade é contraditória em sua essência, pois ao passo que abole qualquer ato de escravidão (embora durante muito tempo essa tenha sido a forma mais comum de mão-de-obra), aceita pacificamente leis que, em determinadas situações são piores que a própria escravidão da Antiguidade. Por exemplo, trabalhadores assalariados que passam 12 horas numa jornada de trabalho para ganhar um salário sobrevivendo miseravelmente, e consumir o produto que eles mesmos produziram na fábrica de seu patrão – o burguês, que assume o papel de autoridade perante esse regime de escravidão travestida de liberdade.

Não só na relação de pessoas, mas também entre países, existe essa relação de senhor feudal e vassalo, em que o mais fraco sempre fica dependente do mais forte economicamente, (conseqüentemente autoritário, pois é detentor de um maior poder bélico, talvez, maior riqueza e, portanto, maior liberdade de expressão). Essa relação senhor feudal X vassalo começa entre os próprios governantes desses países e resultam em boas condições de vida (com direito a casas, carros) para os “livres”, ou mantenedores de poder opressivo – os dominadores –, e fome, desigualdade e escravidão aos segundos.

Teoricamente falando, a ética atual do ocidente descendente das três máximas da Revolução Francesa – Liberdade, Igualdade e Fraternidade –. Embora a Organização das Nações Unidas pregue que "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.”, a própria humanidade já fez questão de banir a igualdade, fechar os olhos à fraternidade e aos poucos tornar a liberdade um valor meramente figurativo, já que apenas no papel existe algo que mantenha os seres humanos livres e iguais.

Com isso, pode-se chegar à conclusão de que o homem (enquanto ser individual, mas sociável – e contraditório) certamente apóia a liberdade, mas pouco faz para manter a sua própria. À medida que é subjugado pela autoridade mais próxima, aceita que essa prevaleça e teça sobre ele limites, às vezes, tão banais, que mesmo sendo adultos e dotados de maturidade em relação às crianças, têm de aceitar, pois o poder tem a característica de corromper quem está sob e sobre o poder. Com isso, não é de se admirar que alguns países tentam, a todo custo, manter (des)informados a população de acordo com a melhor estratégia para se poder manipula-la, assim como os fazem, alguns pais quando criam seus filhos.

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