- Algum salário. Não, não, aposentadoria.
- Aquele de terno. Olha o computador dele.
- Parece bom.
Quase que diariamente, um grupo se reúne nos confins de uma sala para jantar e põe o assunto em dia: o andamento da segunda guerra, o novo albúm de Louis Armstrong, o último livro de Sartre ou até mesmo as implicações da física quântica, recém-criada, no pensamento moderno. Claro que o que importa é que eles alimentam-se com bastante requinte. Bebem arte, comem filosofia e sobra um pouco de ciência pra sobremesa. Tudo regado com algumas gotas de bom-humor e existencialismo.
É corrente entre os cientistas a atitude de deplorar a “politização” da política internacional ambientalista, a intrusão tida como ilegítima de considerações políticas sobre os problemas considerados de sobrevivência – tendo como base os próprios argumentos científicos irrefutáveis. Constatamos os fatos das degradações ambientais e suas implicações, mas deve-se reconhecer que resultam de atividades econômicas e sociais. É daí, então, que começa a surgir a conexão estabelecida entre os problemas ambientais e a necessidade de intervenção da área política, criando o que poderíamos chamar de ecopolítica, que faz referência ao conjunto das dimensões políticas da identificação e da resolução de questões ambientais (Prestr e, 2001).
A constatação que devemos fazer para um primeiro contato é que, se “os problemas do meio ambiente refletem, ao mesmo tempo, preocupações científicas e certa hierarquia de valores” e “não existe melhor decisão; o que existe é uma direção” (Prestre, 2001), também considerando a afirmação de Pierre Mendes-France em que “governar é escolher”, essa direção, portanto, caberia à política dar. Para selecionar a direção que será tomada como a mais própria, a política pode recorrer às suas fontes regularmente tidas como principais nesse caso, que são a ciência, as vontades e necessidades sociais, a conjuntura regional da atuação das ações políticas.
Norberto Bobbio (2001) estabelece, em seus escritos sobre política e moral, distinções fundamentais, ambas domínios da práxis humana. Para ele, diferem-se, pois, no critério de justificação e de avaliação das respectivas ações. Lembra-se a convincente distinção weberiana entre ética da convicção e ética da responsabilidade, em que, respectivamente, uma lida com o meio – equivalente à procura única pela preservação, sem ter em mente suas decorrências –, e a outra, com o fim – o desenvolvimento econômico, por assim dizer. Chegamos, analisando de modo maniqueísta, no que Prestre (2001) lembra ser um refrão comumente repetido em discussões que dizem respeito ao meio ambiente: “se o político soubesse! Se o ecologista pudesse!”. Se, por um lado, o ambientalista, que preza pela defesa incondicional do meio ambiente, o político, pertencente ao jogo de Estado, obrigado a lidar com a hierarquia das prioridades nacionais, definidas por Prestre como sendo: segurança nacional, saúde pública, crescimento econômico e emprego, desenvolvimento regional, redistribuição de renda, igualdade de oportunidades e, só então, qualidade do meio ambiente. A qualidade do meio ambiente só se encontraria com as categorias mais prioritárias nesse aspecto se se relacionasse com alguma delas, ficando subordinadas ou sublevadas.
Inicialmente, a criação de políticas ambientais nacionais vai surgir mais intimamente ligada, na terminologia de Weber, a uma ética da convicção, e é exatamente por isso que serão bem menos atuantes e efetivas em suas aplicações. A formulação dessas políticas estava mais ligada à fonte científica e mais desligada das outras, estando, portanto, também mais longe da realidade regional. Com o desenvolvimento de novas técnicas, novos estudos e o surgimento de novas exigências sociais – o que inclui os grupos que “perdiam” com essas políticas, como os industriais, mais diretamente afetados –, houve a necessidade de readaptação dessas políticas. Provou-se que essa preservação hoje seria, de certo modo, um investimento que atrasaria em três meses a economia até o ano de 2049, e que, caso não fosse feito, poderia vir a custar quase uma década de paralisação econômica para se tentar chegar a um mesmo nível de redução de poluentes. Seria, assim, um investimento muito falido; ainda, constatou-se a rentabilidade de vários processos econômicos que envolviam a preservação ambiental, tal qual o ecoturismo. Essas constatações reaproximam a ação política ambiental com a ética de responsabilidade, que vai, mesmo pregando uma ética de convicção, almejar conter o possível refreamento econômico, levantando, possivelmente, as bandeiras da distribuição de renda e outras similares.
Assim, fica resolvido o aparente paradoxo de misturar éticas inerentes à formulação das políticas ambientais, que necessariamente passa por julgamentos éticos – bioética. É esse o filtro que define algumas linhas de prioridade dentro do campo do meio ambiente, bem como conceitos e normatizações pelas quais se deve prezar. As questões ambientais não se podem deixar de vincular da política – ecopolítica –, e é nesse âmbito cuja efetividade é questionada, embora seja o político o único meio em que se pode efetivamente aplicar mudanças. A ecopolítica se coloca como essencial na ação de conter os impactos ambientais, garantir o bem-estar e a vida dos seres humanos, mobilizar a máquina pública, e, em seu sentido internacional, reaproximar o mundo pela cooperação nesses aspectos. Por fim, para Prestre, nem mesmo os mais indiferentes podem ignorar as questões ambientais, sua relação com moral, ética, política, e suas implicações para, além de outros fatores cruciais, segurança interna e externa dos Estados e a vida do homem.
Para que se tenha uma codificação satisfatória do estímulo é indispensável uma atenção consciente de uma classe distinta de estímulos ou eventos. Essa atenção funciona de forma seletiva, ou seja, como um filtro que trabalha retendo as informações não desejadas, conscientemente, naquele momento. O interessante é que podemos enfocar diversos aspectos dos estímulos e assim trabalhar níveis de processamentos diferentes, sabendo que a quantidade de atenção dada ao estímulo qualifica o processo de codificação da informação e que as teorias de níveis de processamento propõem que os mais profundos níveis de processamento resultam em códigos de memória mais duráveis.
A entrada das informações pode ser feita através de três níveis: a codificação estrutural, a fonética e a semântica. A primeira delas trabalha mais com o campo visual por ser focada no físico, na estrutura; já a segunda é voltada para o campo auditivo diferente da terceira que abrange um nível mais profundo, o significado do estímulo. Dentro desse processo de codificação há a teoria da codificação dupla que consiste na utilização de meios semânticos e visuais almejando melhor lembrança. Outro fator que enriquece a codificação é a elaboração que funciona como uma associação entre o estímulo e outra informação com a finalidade de conseguir melhor fixação; essa facilidade acontece porque há um segundo tipo código para memorização.
Depois de feita a codificação o segundo passo é o armazenamento que é conhecido, erroneamente, como sinônimo de memória e tem seu primeiro modelo na Grécia antiga postulado por Platão e Aristóteles. Esses dois filósofos comparavam a memória à um bloco de cera que diferia em dimensão e dureza de uma pessoa para outra. Essa analogia aconteceu pela percepção de que quando algo era estampado na cera lá permaneceria e, para eles, assim funcionava a memória. Entretanto, com o avanço da tecnologia, acharam outros pontos de similitude para melhor explicação do armazenamento da memória, como a teoria que compara a memória humana a de um computador e para uma dessas teorias há três tipos de armazenagem de memória, que são descritos à seguir.
A memória sensorial preserva as informações em sua forma sensorial original por um curto período de tempo, geralmente por uma fração de segundos. É a informação processada, por exemplo, por fogos de artifícios – vê-se por um pequeno período uma figura fechada e não pontos separados de luz. Apesar de possuir um espaço limitado de tempo, a memória sensorial tem uma grande capacidade de armazenar estímulos no campo visual; podendo chegar a um armazenamento de 25 estímulos.
O segundo tipo é a memória de curto prazo (MCP), caracterizada por ter uma capacidade limitada de reter estímulos – em media sete - e por manter a informação não reprocessada em um tempo de 20 segundos. Entretanto, se houver reprocessamento da informação, ou seja, se a informação for reciclada e repetidas vezes verbalizada, poderá permanecer na MCP por um tempo maior. A capacidade limitada da MCP dificulta a habilidade das pessoas de realizarem tarefas nas quais elas têm de usar malabarismo mental com várias partes das informações, pois quando o número de estímulos passa dos sete, algum dos existentes nela será deletado para que o novo seja incorporado.
Através de estudos sobre a memória de curto prazo, George Miller(1956) definiu seus parâmetros desse tipo de memória com o livro O mágico número sete, mais ou menos dois. Assim, ele demonstrou que temos a capacidade de armazenar de cinco à nove informações, o que pode ser explicado por, geralmente, não conseguirmos lembrar de algumas algarismos de telefones se for preciso acrescentar o número do código de área.
Já a memória de longo prazo (MLP) têm como característica a capacidade ilimitada de manter informações por um longo período de tempo. Essas informações são transmitidas da memória de curto prazo para a memória de longo prazo quando há ensaio. Um dos pontos de vista diz que toda informação armazenada na MLP é armazenada permanentemente, assim sendo, o esquecimento ocorre apenas porque as pessoas às vezes não conseguem reter a informação necessária. As memórias-relâmpago fornecem exemplos de armazenamento aparentemente permanente. O outro ponto de vista presume que algumas lembranças armazenadas desaparecem para sempre.
Uma coisa é essencial para a memória de longo prazo: a organização, pois essa guarda um volume imenso de informação e caracteriza-se pela confusão de sistemas organizacionais sobrepostos; o conhecimento das pessoas é organizado como uma rede semântica, redes essas que consistem em pontos que representam conceitos interligados. O processo de ativação irradiada caracterizado por Collins e Loftus diz que quando uma pessoa pensa numa palavra seus pensamentos se dirigem diretamente para palavras relacionadas. O que também acontece no campo visual com os esquemas que são conjuntos organizados de conhecimentos a respeito de um objeto em particular ou de uma seqüência de eventos. As pessoas lembram mais daquilo que parecem com seus esquemas. A informação armazenada na memória é freqüentemente organizada
Terminado o processo de armazenamento o próximo é o de resgate, pois para realmente ter uma boa memória é necessária a atenção para o estímulo, o armazenamento da informação e a evocação desta quando necessária. O resgate não nos permite detalhes, até certo ponto nossas lembranças são reconstruções grosseiras do passado que podem estar distorcidas e incluir detalhes que, na verdade, não ocorreram. Uma das falhas mais comuns de resgate é conhecida como fenômeno da ponta da língua - incapacidade temporária de lembrarmos algo que já sabemos, o que causa uma sensação de que a informação está bem ao nosso alcance. Um passo importante para estabelecer o resgate pode ser o contexto, o fato de imaginar o local ou ir até o local onde determinada ação aconteceu facilita o resgate da informação.
Se há esse sistema organizado de memória por que esquecemos, até mesmo, de informações que gostaríamos de lembrar? Para alguns teóricos as falhas estão na complexa e multifacetada natureza da memória. Eles afirmam que o esquecimento pode ser causado por deficiências na codificação, armazenamento, resgate ou alguma combinação desses processos.
O primeiro a realizar estudos científicos sobre o esquecimento o fez consigo mesmo e conseguiu elaborar um diagrama chamado de curva de esquecimento, que ilustra a retenção e o esquecimento através do tempo. Ebbinghaus praticou 14 mil repetições de silabas sem nexo e memorizou 420 listas de silabas em vários intervalos de tempo e percebeu que “fatos decorados às vésperas de exames logo desaparecem.”. Entretanto, o diagrama dele é atípico e o problema foi o material analisado, já que foram feitos experimentos com material dotado de sentido e as curvas de esquecimento não foram tão acentuadas. Assim, há três possibilidades para medir o esquecimento nos dias de hoje: o resgate, o reconhecimento e o reaprendizado.
Quando é pedido que os participantes reproduzam informações por si próprios sem nenhum auxilio sugestivo, é medido o resgate de retenção. Já quando há uma variedade de opções e dentre elas existem algumas já conhecidas pelos participantes e é pedido para que as informações conhecidas sejam selecionadas, é medido o reconhecimento de retenção. Bem diferente desses dois métodos, o terceiro é baseado na memorização da informação uma segunda vez para que seja determinado quanto tempo e esforço são economizados uma vez que ele já havia aprendido isso antes, e é chamado de reaprendizado de retenção. O segundo passo para saber os motivos do esquecimento está em observar os fatores que podem afetar os processos de codificação, armazenamento e resgate.
Em primeiro lugar a informação em questão pode nunca ter sido inserida na memória e não podemos esquecer algo que, realmente, nunca aprendemos. Esse fenômeno, às vezes, é chamado de psudo-esquecimento e deve-se usualmente as falhas de atenção. Há, também, um processo de codificação ineficiente, já que algumas abordagens de codificação levam a um maio esquecimento que outras.
Como falha no armazenamento há a teoria da decadência que atribui o esquecimento a simples passagem do tempo, diz que os traços da memória desvanecem com o tempo. Entretanto, em estudos com memórias de longo prazo foi descoberto que a passagem do tempo não é tão importante quanto o que acontece durante os intervalos de tempo. Culpa-se, então, a interferência da informação externa. A teoria da interferência propõe que pessoas esquecem informações por causa da competição com outros materiais, sendo essa interferência de dois tipos: a retroativa – que ocorre quando a informação anteriormente aprendida interfere com a retenção da nova informação – e a proativa – que ocorre quando a informação previamente aprendida interfere na retenção da nova informação e está enraizada na aprendizagem que acontece antes da exposição ao material de teste.
Grande parte do esquecimento pode ser atribuída a falhas no processo de resgate, por exemplo, quando há desacordo entre as sugestões de regaste e a codificação da informação que se está procurando. O principio da especificidade da codificação estabelece que o valor de uma sugestão de resgate depende de quão bem ela corresponde a memória. Há outro tipo de esquecimento que está ligado à repressão tratada por Freud. É o esquecimento motivado, a tendência a esquecer coisas em que não se quer pensar, refere-se à manutenção dos pensamentos e sentimentos tristes enterrados no subconsciente.
Há controvérsias sobre um sistema múltiplo de memória, mas evidências como a descoberta da memória implícita dão apoio a essa visão. Essa memória é aparente quando a retenção é exibida em uma tarefa que não requer lembrança intencional, ao contrário da explicita, que envolve memória intencional e experiências anteriores. Esta última é consciente, acessada diretamente e pode ser mais bem avaliadas com medidas de retenção para o resgate ou reconhecimento. Já a implícita é inconsciente, acessada indiretamente e pode ser mais bem avaliada com variações de medidas de retenção de reaprendizagem, e não muito afetada pela amnésia, idade ou certas drogas, como o álcool – ao contrário da explicita.
O sistema da memória declarativa lida com informações factuais – palavras, definições, nomes, datas, rostos, eventos, conceitos, idéias, etc. O sistema da memória processual guarda as lembranças para ações, habilidades e operações. O sistema de memória episódica constitui-se de fatos cronológicos, ou temporariamente datados, de experiências pessoais. O sistema de memória semântica contém conhecimentos gerais que não estão vinculados ao tempo quando a informação foi aprendida. A memória prospectiva envolve o lembrar para efetuar ações futuras e a memória retrospectiva envolve lembrar exemplos do passado ou informações previamente aprendidas.