terça-feira, 30 de outubro de 2007

Os 100 maiores gênios vivos


"O primeiro colocado na lista dos top 100 da empresa Synectics ficou o químico suíço Albert Hofmann, inventor do LSD, empatado com o britânico Timothy John Berners-Lee, criador do domínio WWW (World Wide Web).

Entre outros, a lista tem ainda o líder da al-Qaeda, Osama Bin Laden, e Bill Gates, criador da Microsfot, ambos na 43ª colocação. Aparecem ainda os cineastas Steven Spielberg (25º) e Quentin Tarantino (100º), o ex-campeão mundial de xadrez Garry Kasparov (20º), o cantor Stevie Wonder (49º), e a criadora de Harry Potter, J.K. Rowling (83º).

Niemeyer, que fará 100 anos dia 15 de dezembro próximo, criou Brasília, o Memorial da América Latina (São Paulo), o MAC (Niterói) e o conjunto da Pampulha (Belo Horizonte), entre outras obras."
(...)

"Segundo explicação da Synectics, a definição de gênio é uma combinação de vários fatores.

Nas palavras da empresa que criou o ranking:

"É muito difícil achar uma definição para o conceito. A maioria das pessoas seria capaz de nomear algumas pessoas que julgam qualificadas para ser gênios. Mas elas talvez achem mais difícil chegar a um acordo entre elas quando comparando listas. Não é fácil quantificar genialidade. Da Vinci é um gênio? Será por causa de seu talento fenomenal? Ou será que isso tem a ver com conquistas ao longo da vida? Será que é pelo reconhecimento acumulado ao longo dos anos que se mede isso? Ou pelo impacto que isso teve no mundo. Ou algo que tenha a ver com os grandes avanços que Ele trouxe para o mundo. Avanços que fizeram do mundo inteiro um lugar diferente. A Synectics acredita que o gênio é uma combinação de todos os fatores listados acima"

Confira a lista abaixo:

Posição Nome País Atuação Pontos
1°) Albert Hoffman Suíça Químico 27
Tim Berners-Lee Grã-Bretanha Cientista da computação 27
3°) George Soros EUA Investidor e filantropia 25
4°) Matt Groening EUA Comediante 24
5°) Nelson Mandela África do Sul Político e diplomata 23
Frederick Sanger Grã-Bretanha Químico 23
7°) Dario Fo Itália Escritor 22
Steven Hawking Grã-Bretanha Físico 22
9°) OSCAR NIEMEYER BRASIL ARQUITETO 21
Philip Glass EUA Músico 21
Grigory Perelman Rússia Matemático 21
12°) Andrew Wiles Grã-Bretanha Matemático 20
Li Hongzhi China Líder espiritual 20
Ali Javan Irã Engenheiro 20
15°) Brian Eno Grã-Bretanha Músico 19
Damian Hirst Grã-Bretanha Artista 19
Daniel Tammet Grã-Bretanha Lingüista 19
18°) Nicholson Baker EUA Escritor 18
19°) Daniel Barenboim Não informado Músico 17
20°) Robert Crumb EUA Artista 16
Richard Dawkins Grã-Bretanha Biólogo e filósofo 16
Larry Page e Sergey Brin EUA Editor 16
Rupert Murdoch EUA Editor 16
Geoffrey Hill Grã-Bretanha Poeta 16
25°) Garry Kasparov Rússia Enxadrista 15
26°) Dalai Lama Tibete Líder espiritual 14
Steven Spielberg EUA Cineasta 14
Hiroshi Ishiguro Japão Cientista de robótica 14
Robert Edwards Grã-Bretanha Pioneiro no 'bebê de proveta' 14
Seamus Heanley Irlanda Poeta 14
31°) Harold Pinter Grã-Bretanha Escritor e dramaturgo 13
32°) Flossie Wong-Staal China Biotecnologista 12
33°) Bobby Fischer EUA Enxadrista 12
Prince EUA Músico 12
Henrik Gorecki Polonês Compositor 12
Avram Noam Chomski EUA Filósofo e lingüista 12
Sebastian Thrun Alemanha Cientista de robótica 12
Nima Arkani Hamed Canadá Físico 12
Margaret Turnbull EUA Astrobiólogo 12
40°) Elaine Pagels EUA Historiadora 11
Enrique Ostrea Filipinas Pediatra e neonatologista 11
Gary Becker EUA Economista 11
43°) Mohammed Ali EUA Boxeador 10
Osama Bin Laden Arábia Saudita Líder islâmico 10
Bill Gates EUA Empresário 9
Philip Roth EUA Escritor 9
James West EUA Inventor 9
Tuan Vo-Dinh Vietnã Biomédico 9
49°) Brian Wilson EUA Músico 9
Stevie Wonder EUA Músico 9
Vint Cerf EUA Cientista da computação 9
Henry Kissinger EUA Diplomata 9
Richard Branson Grã-Bretanha Publicitário 9
Pardis Sabeti Irã Biólogo 9
Jon de Mol Holandês Produtor de TV 9
Meryl Streep EUA Atriz 9
Margaret Attwood Canadá Escritor 9
58°) Placido Domingo Espanha Tenor 8
John Lasseter EUA Animador digital 8
Shunpei Yamazaki Japão Cientista da computação 8
Jane Goodall Grã-Bretanha Antropóloga 8
Kirti Narayan Chauduri Índia Historiadora 8
John Goto Grã-Bretanha Fotógrafo 8
Paul McCartney Grã-Bretanha Músico 8
Stephen King EUA Escritor 8
Leonard Cohen EUA Poeta e músico 8
67°) Aretha Franklin EUA Cantora 7
David Bowie Grã-Bretanha Músico 7
Emily Oster EUA Economista 7
Steve Wozniak EUA Co-fundador da Apple 7
Martin Cooper EUA Inventor do celular 7
72°) George Lucas EUA Cineasta 6
Niles Rogers EUA Músico 6
Hans Zimmer Alemanha Compositor 6
John Williams EUA Compositor 6
Annete Baier Nova Zelândia Filósofa 6
Dorothy Rowe Grã-Bretanha Psicóloga 6
Ivan Marchuk Ucrânia Artista e escultor 6
Robin Escovado EUA Compositor 6
Mark Dean EUA Inventor 6
Rick Rubin EUA Músico e produtor 6
Stan Lee EUA Editor 6
83°) David Warren EUA Engenheiro 5
Jon Fosse Noruega Escritor e dramaturgo 5
Gjertrud Schnackenberg EUA Poeta 5
Graham Linehan Irlanda Escritor e dramaturgo 5
J. K. Rowling Grã-Bretanha Escritora 5
Ken Russell Grã-Bretanha Cineasta 5
Mikhail T. Kalashnikov Rússia Designer de armas 5
Erich Jarvis EUA Neurobiólogo 5
91°) Chad Varah Grã-Bretanha Fundador dos Samaritanos 4
Nicolas Hayek Suiça Empresário 4
Alastair Hannay EUA Filósofo 4
94°) Patricia Bath EUA Oftalmologista 3
Thomas A. Jackson EUA Engenheiro aeroespacial 3
Dolly Parton EUA Cantora 3
Morissey Grã-Bretanha Músico 3
Michael Eavis Grã-Bretanha Organizador 3
Ranulph Fiennes Grã-Bretanha Aventureiro 3
100°) Quentin Tarantino EUA Cineasta 2 "

(...)

"O que faz um gênio ser o que é? Todo mundo, até quem não é cientista sabe que Stephen Hawking é um gênio. Mas o que é que Stephen Hawking tem para ser um gênio? Será que seu gênio pode ser comparado ao de outros? Será que ele é mais ou menos genial do que Zinedine Zidane, por exemplo? Será que Zinedine Zidane é gênio mesmo? Quem mais é um gênio? Essas são as questões examinadas neste breve artigo. Quanto mais eu pensei sobre a genialidade, mais me convenci de que ela está envolvida num grande segredo. E isso com certeza nos fascina. E, para muitos, “gênio” é a maior distinção que pode ser atribuída a uma pessoa."

Fonte e texto completo em: http://www.maratimba.com/noticias/news.php?codnot=213725

sábado, 20 de outubro de 2007

A Reforma e a Revolução na Venezuela







Chávez dá um novo impulso à revolução venezuelana apresentando 33 reformas à Constituição. O capital treme de medo e de ódio.


Chávez dá um novo impulso à revolução venezuelana apresentando33 reformas à Constituição. Os reacionários gritam que uma ditadura se instala, o que só pode provocar o riso de qualquer um que conhece a situação da Venezuela e que conhece o reino de “liberdade e democracia” imposto sob a base da corrupção e das baionetas pelos regimes “democráticos” capitalistas.
Já os sectários de direita e de ultra-esquerda no movimento operário e na pequena burguesia, incapazes de entender o processo de revolução permanente que se desenvolve, se somam à reação gritando que Chávez não faz tudo o que estes sectários sonharam que seriam uma revolução. Não entendem nem a revolução, nem a psicologia e nem as ações das massas. Sonharam com um esquema e agora estão gritando na estação enquanto parte o trem da revolução feita pelas massas.
O imperialismo sabe muito bem do que se trata. A mais prestigiosa revista econômica internacional, The Economist, escreve: “Marx, Engels y Cristo, é o que lê Chávez. E Chávez assina com ‘pátria ou morte’. Como sempre, com o senhor Chávez a retórica pode andar na frente dos fatos, ou em outras palavras, ainda não estamos lá, mas a direção da viagem parece muito clara”. E a direção da viagem é em direção à revolução proletária e a expropriação geral da burguesia.
A seguir os principais pontos da reforma proposta por Chávez:


1. A decisão de Chávez de criar a obrigatoriedade constitucional de jornada máxima de seis horas de trabalho é de uma importância histórica. O Art. 90 da Constituição da Venezuela passa a determinar: “Para que os trabalhadores disponham de tempo suficiente para o desenvolvimento integral de sua pessoa, a jornada de trabalho diurna não excederá de seis horas diárias nem de trinta e seis horas semanais e a noturna não excederá de seis horas diárias nem de trinta e quatro horas semanais. Nenhum patrão ou patroa poderá obrigar os trabalhadores, ou trabalhadoras, a trabalhar horas ou tempo extraordinário. Da mesma forma deverá programar e organizar os mecanismos para a melhor utilização do tempo livre em benefício da educação, formação integral, desenvolvimento humano, físico, espiritual, moral, cultural e técnico dos trabalhadores e trabalhadoras. Os trabalhadores e trabalhadoras têm direito ao descanso semanal e férias remuneradas nas mesmas condições que as jornadas efetivamente trabalhadas”.
Esta decisão é de uma importância extraordinária para a classe trabalhadora. E está na contramão da necessidade burguesa de impor uma super-exploração através da “redução do custo do trabalho”.O Movimento das Fábricas Ocupadas definiu a jornada de trabalho de seis horas na Cipla, em dezembro de 2006. Esta foi a primeira conquista revogada pelo interventor nomeado a pedido do governo federal, após a ocupação policial-militar da fábrica controlada pelos trabalhadores.Adotar esta medida indica com que classe social pretende Chávez aprofundar a revolução venezuelana.


2. A decisão de modificar o Art. 112, que é onde se estabelece o papel do Estado de defesa do regime da propriedade dos grandes meios de produção, é um golpe neste regime e na classe burguesa. Este artigo atualmente diz: “O Estado promoverá a iniciativa privada...”.


3. A reforma constitucional propõe: “O Estado promoverá o desenvolvimento de um Modelo Econômico Produtivo, intermediário, diversificado e independente, fundado nos valores humanísticos de cooperação e de preponderância dos interesses comuns sobre os individuais, que garanta a satisfação das necessidades sociais e materiais do povo, a maior soma de estabilidade política e social e a maior soma de felicidade possível. Desta forma incentivará e desenvolverá distintas formas de empresas e unidades econômicas de propriedade social, tanto direta ou comunal como indireta e estatal, assim como empresas e unidades econômicas de produção e ou distribuição social, podendo estas ser propriedades mistas entre o Estado, o setor privado e o poder comunal, criando as melhores condições para a construção coletiva e cooperativa de uma Economia Socialista.”
Ou seja, de promotor da propriedade privada, o Estado passa a promotor da propriedade social. Este artigo não elimina evidentemente a propriedade privada, mas lhe retira um apoio sem o qual não pode viver. Afinal, segundo o Manifesto Comunista, "O Estado moderno é o Comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa".


4. No Art. 115 que afirma: “Se garantirá o direito de propriedade”...Sem eliminar o direito à propriedade, introduz todo o conceito de primazia da propriedade social sobre a propriedade privada e conclui com o que é um enorme passo: O direito de “... sem prejuízo da faculdade dos Órgãos de Estado, de ocupar previamente, durante o processo judicial, os bens objeto de expropriação, conforme os requisitos estabelecidos na lei”. Para o movimento operário isto é, na Venezuela, um enorme avanço e instrumento de mobilização. As fábricas ocupadas passam a poder, legalmente, ser assumidas por órgãos governamentais rapidamente após a ocupação.


5. Enquanto vemos em todo o mundo os governos, inclusive o governo Lula, privatizando estradas e a Seguridade Social, Chávez reafirma no Art. 156 que “É de competência do Poder Público Nacional: ... o regime e organização da Seguridade Social...., a conservação e administração e aproveitamento das autopistas e estradas nacionais”. Além disso reafirma que é competência do Estado a exploração, industrialização e comércio das reservas de petróleo, gás e outros minerais.


6. No atual Art. 158, que é onde se “garante” que o papel do Estado é de “aprofundar a democracia”, se introduz o conceito de “Democracia Socialista”, completamente estranho ao Estado burguês: “O Estado promoverá como política nacional a participação protagônica do povo transferindo poder e criando as melhores condições para a construção de uma Democracia Socialista”.


7. No Art. 184 introduz um elemento de auto-organização das massas: “A Comunidade organizada terá como máxima autoridade a Assembléia de cidadãos que com tal virtude designa e revoga os órgãos do Poder Comunal nas comunidades, Comunas e outros entes político-territoriais que se conformemna cidade, como unidade política primária do território”. Cabe ao movimento popular e operário tomar isto ao pé da letra e estabelecer verdadeiros órgãos de poder dos oprimidos e explorados”.


8. Atualmente a Constituição da Venezuela reza o mesmo que o Brasil, os EUA, e outros países onde a eleição da democracia burguesa é apresentada como uma verdadeira democracia. O que é uma tremenda farsa, como sabem todos os socialistas.


9. O Art. 225 diz que atualmente o mandato é de seis anos e que o presidente só pode ser reeleito uma vez. Com a reforma passa a ser de sete anos e o presidente pode ser reeleito sem impedimentos para outros períodos. Imediatamente se armou uma gritaria reacionária acusando Chávez de pretender ser um ditador. A histeria é hipócrita pois não há qualquer impedimento para esta reeleição na França, Alemanha, Itália e outros países. Aliás, a eleição e, portanto, a reeleição, é produto do mandato conferido e ninguém deveria ter o direito de decidir quem o povo “não” pode eleger como seu representante. O povo deve poder eleger e revogar livremente os mandatos.
O Art. 307 passa a afirmar: “Se proíbe o latifúndio por ser contrário ao interesse social. A República determinará mediante Lei a forma na qual os latifúndios serão transferidos para a propriedade do Estado ou dos entes ou empresas públicas, cooperativas, comunidades ou organizações sociais capazes de administrar e fazer produtivas as terras”. Esta é uma medida que dará um impulso imenso à economia e salvará milhões de venezuelanos. É a Reforma Agrária que esperam milhões de brasileiros.


10. O Art. 318 atual afirma: “O objetivo fundamental do Banco Central da Venezuela é conseguir a estabilidade de preços e preservar o valor interno e externo da unidade monetária... O Banco Central da Venezuela é pessoa jurídicade direito público com autonomia para a formulação e o exercício das políticas de sua competência.


11. A reforma inverte isso: “O sistema monetário nacional deve buscar a conquista dos fins essenciais do Estado Socialista e o bem estar do povo, acima de qualquer outra consideração... O Banco Central da Venezuela é pessoa jurídica de direito público sem autonomia para a formulação e o exercício das políticas correspondentes e suas funções estão submetidas à política econômica geral e ao Plano Nacional de Desenvolvimento para alcançar os objetivos superiores do Estado Socialista e a maior soma de felicidade possível para o povo.”


12. E por fim, adota medidas que, evidentemente, não fazem parte das disposições do Estado burguês para manter a “Lei e a Ordem”. O Art. 328 atual afirma: “A Força Armada Nacional constitui uma instituição essencialmente profissional, sem militância política, organizada pelo Estado para garantir a independência e a soberania da Nação... está a serviço exclusivo da Nação e em nenhum caso de pessoa ou parcialidade política alguma. Seus pilares fundamentais são disciplina, a obediência e a subordinação”.
Ou seja, é o instrumento da reação disfarçado de “neutro”. A reforma define que “A Força Armada Bolivariana constitui um corpo essencialmente patriótico popular e antiimperialista, organizada pelo Estado para garantir a independência e a soberania da Nação, preservá-la de qualquer ataque externo ou interno e assegurar a integridade do espaço geográfico, mediante o estudo, planificação e execução da doutrina militar bolivariana, a aplicação dos princípios da defesa militar integral e a guerra popular de resistência ... No cumprimento de suas funções estará sempre a serviço do povo venezuelano em defesa de seus sagrados interesses e em nenhum caso ao da oligarquia ou poder imperial estrangeiro. Seus pilares fundamentais são esta constituição e as leis assim como a disciplina, a obediência e a subordinação. Seus pilares históricos estão no mandato de Bolívar: “libertar a pátria, empunhar a espada em defesa das garantias sociais e merecer as bênçãos do povo”.


13. E no Art. 329 constitui a “Milícia Popular Bolivariana como parte integrante da Força Armada Bolivariana” e determina que seja composta pelas “unidades e corpos da reserva militar”, que são mais de um milhão e meio de venezuelanos que foram convocados por Chávez a se alistar na Reserva Militar nos últimos anos para preparar-se para resistir a uma invasão norte-americana. A composição, portanto, da Milícia Po pular Bolivariana é essencialmente popular e nunca é demais lembrar o papel revolucionário que jogou a Guarda Nacional na Comuna de Paris. O Estado burguês na Venezuela está em desagregação acelerada nos últimos anos.


Esperamos que a adoção destas reformas, por voto popular, em dezembro de 2007, seja um elemento de aceleração desta desagregação e de construção da auto-organização da classe trabalhadora e das massas oprimidas para avançar em direção ao fim do regime da propriedade privada dos grandes meios de produção. O caminho apontado, e necessário, é claro: apesar das inevitáveis confusões e equívocos políticos, frutos da ausência de um verdadeiro partido revolucionário marxista, o caminho apontado vai em direção ao estabelecimentode um regime de propriedade coletiva e planificada centralmente como única saída da barbárie capitalista.
Os olhos de centenas de milhões de oprimidos de todo o mundo estão voltados para a revolução venezuelana.




do site http://www.marxismo.org.br/

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

O Analista de Bagé

Outra do Analista de Bagé

Existem muitas histórias sobre o analista de Bagé mas não sei se todas são verdadeiras. Seus métodos são certamente pouco ortodoxos, embora ele mesmo se descreva como "freudiano barbaridade". E parece que dão certo, pois sua clientela aumenta. Foi ele que desenvolveu a terapia do joelhaço.

Diz que quando recebe um paciente novo no seu consultório a primeira coisa que o analista de Bagé faz é lhe dar um joelhaço. Em paciente homem, claro, pois em mulher, segundo ele, "só se bate pra descarregá energia". Depois do joelhaço o paciente é levado, dobrado ao meio, para o divã coberto com um pelego.

- Te abanca, índio velho, que tá incluído no preço.

- Ai - diz o paciente.

- Toma um mate?

- Na-não... - geme o paciente.

- Respira fundo, tchê. Enche o bucho que passa.

O paciente respira fundo. O analista de Bagé pergunta:

- Agora, qual é o causo?

- É depressão, doutor.

O analista de Bagé tira uma palha de trás da orelha e começa a enrolar um cigarro.

- Tô te ouvindo - diz.

- É uma coisa existencial, entende?

- Continua, no más.

- Começo a pensar, assim, na finitude humana em contraste com o infinito cósmico...

- Mas tu é mais complicado que receita de creme Assis Brasil.

- E então tenho consciência do vazio da existência, da desesperança inerente à condição humana. E isso me angustia. - Pois vamos dar um jeito nisso agorita - diz o analista de Bagé, com uma baforada.

- O senhor vai curar a minha angústia?

- Não, vou mudar o mundo. Cortar o mal pela mandioca.

- Mudar o mundo?

- Dou uns telefonemas aí e mudo a condição humana.

- Mas... Isso é impossível!

- Ainda bem que tu reconhece, animal!

- Entendi. O senhor quer dizer que é bobagem se angustiar com o inevitável.

- Bobagem é espirrá na farofa. Isso é burrice e da gorda.

- Mas acontece que eu me angustio. Me dá um aperto na garganta...

- Escuta aqui, tchê. Tu te alimenta bem?

- Me alimento.

- Tem casa com galpão?

- Bem... Apartamento.

- Não é veado?

- Não.

- Tá com os carnê em dia?

- Estou.

- Então, ó bagual. Te preocupa com a defesa do Guarani e larga o infinito.

- O Freud não me diria isso.

- O que o Freud diria tu não ia entender mesmo. Ou tu sabe alemão?

- Não.

- Então te fecha. E olha os pés no meu pelego.

- Só sei que estou deprimido e isso é terrível. É pior do
que tudo.

Aí o analista de Bagé chega a sua cadeira para perto do divã e pergunta:

- É pior que joelhaço?



Luis Fernando Veríssimo, no livro "Todas as histórias do analista de Bagé".

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Abraço



- Jorge!... Jorjão!
- ... Ei, rapaz! Quanto tempo!
- É verdade! Vem cá, me dá um abraço!
- Como?
- Me dá um abraço!
- Que é isso, rapaz? Tá me estranhando? Um aperto de mão tá bom.
- Como você mudou, hein? Você nunca negaria nada a um amigo, ainda mais um abraço.
- É que...
- ... me dá um abraço, homem!
- ... eu não quero.
- Por quê?
- Eu não gosto.
- O que há demais num abraço? Duas pessoas ficam juntas, uma bate nas costas da outra, relembram a infância e pronto. Abraço.
- É... Não parece ser tão ruim.
- Então!
- É, tudo bem.



- E então, foi ruim assim?
- Não. Na verdade...
- Doeu?
- Não. Na verdade...
- Olha aí, abraços não são tão ruins assim.
- É, você está certo.



- E o que fazemos agora?
- ... Hm... Que tal um beijo?

"Felicidades...!"



A palavra "felicidade" é curiosa. Certa feita me pediram para escrever uma mensagem para uma recém-nascida num livro que ela só poderia ler quando alcançasse certa idade. "Não escreva nada que vá nos envergonhar", disseram os pais. Que seja.

Quiçá eu não seja assim tão espontâneo. Quiçá não desse certo para fazer repentes mesmo. Diferentemente de outras pessoas que escrevem o que lhes sai na cabeça e agradam a gregos e troianos, eu torço, aprimoro, alteio e limo até que saia o texto cristalino, e só consigo agradar a Agamenon ou Príamo. Mas tive que escrever. E escrevi. Fui simples e fui direto. "Desde o momento em que você nasceu, pequena das bochechas mais rosadas, torci por você - e o faço e o farei desde então. Voto por sua felicidade, e todos os fatores que sejam necessários para que ela exista". Pela escassez de linhas (por que nunca pensam que poderíamos querer escrever mais?), foi isso que consegui extrair da minha mente com aquela caneta da Padaria Do Seu Manoel e o urso Pooh me encarando.

Muitos cartões de nascimento, aniversário, 15 anos, formatura, dia das mães e morte têm como 'emblema', em letras garrafais, "Felicidades!". É frase clichê, e poucos se dão ao trabalho de deixar as coisas como estão e tecem intermináveis termos elogiosos que ninguém vai ler ou acreditar. Espere. Clichê? Expressões viram clichê por algum motivo. Ou são boas ou causam impacto. Quer algo mais sublime que ser feliz? Ora, não dizem que é para sermos felizes que vivemos? Quem em sã consciência trocaria real felicidade por qualquer outra coisa? O sincero desejo de felicidades ao próximo virou clichê. Era simples, fácil, bom e impactante. Conveniente. Bem moderno. Por causa disso, todos os "felicidades!" ao redor do mundo foram perdendo a força, e agora ninguém sabe mais o que isso é. No campo etimológico, a palavra italiana “felicità”, a palavra espanhola “felicidad” e a portuguesa “felicidade”, todas vêm do latim “felix” – afortunado – e “felicitas” – sorte, fortuna.Contudo, "se queres compreender a palavra 'felicidade', indispensável se torna entendê-la como recompensa e não como fim", disse Exupéry.

Somente desejei felicidades. Entreguei minha fortuna a alguém, querendo que fosse feliz, ou que chegasse o mais próximo disso. Não agradei àqueles pais da história - espero que não os tenha envergonhado. A mensagem anterior, por outro lado, foi muito mais convincente. Dizia que era protegida por orações e deus, que era linda e que a amava. Pois eu não impus valores. Não impus crenças, direita ou esquerda, trabalho, estilo de vida, meio, dinheiro, falta dele... Quis algo muito mais simples. Dei a liberdade para que ela escolhesse seu caminho e seus valores. Quis só que, dentro do que ela pediu para si mesma, conseguisse o que fosse necessário para estampar-lhe um sorriso na face - que, espero, conserve por algum tempo as lindas bochechas róseas; um sorriso sincero deve lhes cair muito bem.

Mas eu não consegui ser tão frio. Ainda zelo por minhas palavras. Palavras são fortes e belas. Como "felicidade".

("O maior problema e o único que nos deve preocupar é vivermos felizes", disse Voltaire, embora só me tivesse lembrado disso depois).

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Eu voltarei!

No muro do cemitério ao lado do portão, com letras negras e desordenadas, estava escrito EU VOLTAREI!

Pergunto agora: será esta uma época propícia para os mortos voltarem? A cidade tão tumultuada, tanta poluição, tantas greves e os assaltos e seqüestros se multiplicando, nas penitenciárias há comandos do crime. Vulgaridade e violência num galope livre nas zonas da burguesia e da periferia onde os rios morrem e as árvores agonizam. EU VOLTAREI! aquele lá avisou, e agora me ocorre que ainda existem ameaças de guerrilhas, mas não foi suficiente tanta matança na guerra maior? Pelo visto não, porque os anos de guerra superaram e muito os tempos da pomba branca com o ramo verde no bico. Os jovens estão fugindo para outros países, sim, aqui tem aquele céu estrelado, a paisagem e o mar mas é lá longe que eles esperam realizar seus sonhos.

Um momento, eu falei no mar? Pois o mar em transe subiu e avançou enfurecido, Estou recuperando o que era meu! Vejo a natureza perdendo a paciência com o reinado do ser humano, o que fez Dom Policarpo, um santo da antiguidade, cair de joelhos lá em Smyrna e exclamar, Meu deus, em que século me fizeste nascer!

E a máquina de consumismo a todo vapor, difícil escapar da engrenagem infernal dos shoppings e das galerias, comprar, comprar, comprar... Nos intervalos, comer para voltar a comprar porque tudo é ali mesmo por perto, não perder o ritmo. Tempo é dinheiro! repete o funcionário de um banco que batizou o filho com o nome de Dólar, mas quando o Dólar está em baixa fica o apelido, Dodô.

A moda é não resistir às três palavras soberanas, Denúncia, Evento e Imperdível. A fúria das denúncias políticas cresceu tanto que elas já quase perderam a importância, o povo acabou ficando assim anestesiado, lê, escuta e esquece porque depois não acontece mesmo nada, denunciantes e denunciados afundam no buraco negro da memória nacional.

Evento é outra palavra flutuando na ventania, tudo é evento, a festa e o espetáculo, o batizado e a morte, até a morte? A morte sim, não esquecer a jovem conversando com a amiga no elevador, Hoje não vou ao cinema porque surgiu um evento, morreu meu tio e o enterro é agora.

Imperdível, eis aí outra palavra que reina na máquina publicitária, é imperdível aquele carro, qual? O carro que vem com um terapeuta embutido, o motorista entra, fecha a porta e ouve a voz que vem do painel aceso, O problema é de origem real ou existencial? Se for real, de natureza física, aperte no painel o botão vermelho.

EU VOLTAREI! ele escreveu no muro do cemitério. Pergunto agora se por acaso esse desertor é negro. Se for negro quero lembrar que ainda vigora o preconceito, disfarçado mas atuante, onde o emprego? Onde a escola? E não adianta tingir o cabelo de louro porque o preconceituoso tem olho vivo, Todo brasileiro é mestiço senão no sangue nas idéias, escreveu Silvio Romero há cem anos.

O desertor mulher também não irá encontrar um clima ideal porque os homens perderam o respeito pelo sexo considerado inferior apesar das conquistas, algumas reais e outras ilusórias. Casadas, amasiadas e solteiras andam levando bordoada por dá cá aquela palha. Repletas as delegacias da mulher com olho roxo e nariz quebrado. Tirante aquelas que não dão queixa, segundo o noticiário uma mulher no Brasil é espancada a cada quinze segundos.

Esperar pelo Natal que seria uma época ideal para essa volta anunciada? Mas o Natal já vem se misturando ao Carnaval, os viciados consumistas não podem pensar em meditação ou recolhimento com todas as lojas fazendo ofertas extraordinárias.

Um chefe de família da classe média que escapou de um recente assalto chega em casa e respira tão aliviado, a penumbra da sala com o gato cochilando na almofada com seu mistério e o cachorro sorridente e sem mistério pedindo um afago. Então o homem afunda na poltrona e sonha com uma música singela do tipo das toadas sertanejas, que não exigem maior atenção, ou quem sabe a leitura de um livro não solicitante, daqueles que a gente lê pulando as páginas sem remorso. Fecha os olhos, a trégua. Então entra a mulher aos gritos, A festa já começou e você desse jeito, já fez a barba? E vem o filho adolescente, liga a televisão no volume máximo e lembra, E o dinheiro, pai? Hoje tem balada!

EU VOLTAREI! o futuro desertor avisou no muro. Preciso ainda lembrar que um conceituado vereador já entrou com um importante projeto de lei, acabar com os cemitérios! Com tempos assim tão difíceis e esse desperdício de terra, tudo anti-higiênico e antiquado, lamenta o político interessado numa transação imobiliária. Chega de sentimentalismo! ele queixou-se a uma jornalista. Meu plano é construir nessas terras esvaziadas um espaço cultural ou estacionamento, qual a sua opinião? O jornalista sacudiu a cabeça e pensou com seus botões, Nesse andar, antes que venha a ordem de despejo é aconselhável que os falecidos comecem a sair desde já levando o próprio caixão na cabeça.

Refletindo melhor creio que vivos e mortos não devem se preocupar, afinal, são tão numerosas as pilhas de processos urgentes aguardando solução, montanhas de processos, montanhas! E esse projeto de lei é tão polêmico, certamente alguém recorrerá ao Poder Judiciário, mais tempo paralisando a papelada, e daí? Então é esperar que a montanha vá baixando, baixando e quem sabe daqui a mil anos?...

EU VOLTAREI! ameaçou o desertor mas quem passar hoje por aquele muro já não lerá mais nada.

Lygia Fagundes Telles, no livro Conspiração de Nuvens.