sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FIM?

Fechado por tempo indeterminado.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Mais das flores

- Pra você.
- Uma flor?
- Colhi pra você.
- Mas por quê?
- Como por quê?
- Ela agora perecerá rapidamente até a morte.
- Mas você não gostou?
- Acho que, se você quisesse me agradar, poderia ter me dado outra coisa.
- Desculpa.
- Tudo bem.
- Tipo chocolate?
- Desculpa tipo chocolate?
- Não -- quis dizer, chocolate teria sido bom?
- Se chocolate teria sido bom...Talvez. É, até que sim.
- Mas, se não isso, o quê então?
- Podia ter me dado um beijo, que é manifestação de vida.
- Ah. Mas, assim, então... Podia ter pulado pro sexo. É "tão" vida que até "faz" mais vida, né.
- Não, obrigada. E eu fico com a flor.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Do futuro da tentativa de recriar o homem

Tentam e continuarão tentando os doutores da ciência reproduzir um ser humano em laboratório. Mas, é fácil perceber, falharão sistematicamente por séculos. Não descobrirão de que o homem é feito até que parem de se afastar dele. E ora se propõe outra visão: a de que um homem é feito da aglutinção (inter)subjetiva dos seus afetos.
Se um dia de fato o perceberem, não tardarão a usar seus métodos positivos. No primeiro experimento, reunião cuidadosamente, depois de demorada e detalhada pesquisa, todos os afetos de um dito indivíduo. Expremerão todos, sugando-lhes o que lhes for possível extrair; tudo porão num grande liquidificador, do qual sairá algo mais ou menos próximo do homem que tentavam reproduzir. Não sairá obviamente o mesmo. O primeiro erro fora tratar-lhe "indivíduo", mas não cabe aqui discorrer mais sobre isso. Mas, igualmente importante, tratou-se de objetivar um espaço indescritível, inenarrável, (inter)subjetivo. Reconhecê-lo é uma experiência mística. Conviver com ele, uma experiência mágica.
Com efeito, partindo da premissa de que é um ser a união dos seus, eliminá-los poderia levar à descaracterização daquele. É assim com quem perde um amigo, um pai, perde parte de si; aquele que sente saudades se sente incompleto. Mas esse movimento de incorporação é mútuo: faz-se, mas se é feito. Um ser que de vários é constituído também haverá de constituir vários; de modo que, se se tira um, parece afetar toda a cadeia - quiçá romper o equilíbrio. Nesse ponto, diria, está a mágica. Assim, o apaixonado encontra em si mais vida que antes - e há certamente de propiciar o mesmo. E dê muitos séculos mais para a ciência.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Exoesqueleto

- O que você está olhando?
Era aquele besouro que vinha voando em alta velocidade, e, devido a um erro qualquer de percurso, aterrisara mal, tendo caído emborcado no chão, que consumia minha atenção e meus pensamentos. Não era tão grande, era amarronzado, cor-de-fezes, de onde, na verdade, parecia ter acabado de sair. Se contorcia, balançando de um lado para o outro, mas não conseguia se virar. Terminei esquecendo de responder, mas meu olhar compenetrado me acusou.
- É isso que te faz divagar? É mais interessante que a história que eu tava contando? Neguei. Embora de fato fosse. Senti-me vivendo uma narrativa de Kafka. Talvez revivendo. Penso que nossos exoesqueletos nos fazem parecer todos um pouco besouros, ou besourescos - não é a melhor das qualidades, mas o humano também não parece ser o melhor que a teoria evolutiva poderia apresentar. E, afinal de contas, os besouros passaram centenas de milhares de anos na linha evolutiva e ainda não conseguiram superar o problema do formato do casco que o impede de se virar, ou talvez a falta de força para inverter a realidade que se encontram. Afinal, tudo seria apenas um problema de perspectiva - definir o que seria enxergar de cabeça para baixo -, não fosse o problema de não conseguir andar. Assim, virar-se de volta era necessário, ou seria a morte. E, ainda assim, é incontável a quantidade de besouros que morrem a cada instante devido a não conseguir se desvirar.
- Mais interessante que a Flavinha?
Por que eu tinha que ser interrompido enquanto estava pensando?
- Por que você não faz algo?
- Como o quê?
- Sopra.
Não era má idéia. Assoprei com força, pensando em ajudar. Ele se levantou, mas a continuidade do sopro e sua força fizeram com que o inseto se desvirasse, mas tornasse imediatamente à posição anterior.
- Assim que se sopra, olha.
A corrente dessa vez criada permitiu que ele se desvirasse. Olhei a situação toda. Sem hesitar muito - e igualmente sem cerimônia -, eu o pisoteei.
- Por que fez isso?
Disse não saber. Mas, de verdade, também acho que nossos exoesqueletos escondem dentro de nós o pequeno deus que cada um quer ser.

sábado, 26 de setembro de 2009

Cotidiano [2]

Fui acordado mais pelo calor que pela claridade. Chutei um canto vazio da cama à procura de companhia. Não vi quando ela saíra, ou como se desprendera dos meus braços. Procurei sem grande entusiamo o celular para descobrir as horas. Estava por cima dos lençóis jogado, e havia nele uma mensagem: "Não quis te acordar, você está só em casa". Não parecia que estava. Todos aqueles clarões que se misturavam ao silêncio... e eu tinha o dia inteiro para encontrá-la entre eles. A melancolia me prendia ao passado imediato por um presente que me escapou aos sentidos.
Só acreditara no que tinha se passado e estava prestes a se passar quando, antes de desligar, dissera: "beijo" - e ela respondera. Não parecia que dormira na casa dela - ela, eu nem sabia direito quem.
Ela não me chamou, eu não me impus, mas ambos sabíamos que eu dormiria lá de novo. Cidade nova, fui fazer quaisquer outras coisas. Nem de turista. Fui andar - não totalmente sem rumo, estava na certeza de onde meus caminhos me levariam à noite. Apareci à porta. Ela me esperava. Chamou-me para dentro com o beijo que prometera ao telefone.
O turbilhão-de-tudo-novo da cidade grande me atordoava; o cansaço de dias que não viram uma noite me vencia. Meu estado, apesar de pouco álcool, era de ebriedade - mais moral e lírica que etílica. Não recordo de todos os detalhes. Mas a tatuagem que ela tinha e que tomava boa parte das costas... Me intrigava. Parecia se mexer quando ela se contorcia; parecia gritar junto com ela. Não sei como terminou, mas, numa hora, estávamos abraçados.
Ela dormia com os cabelos longos sobre meu rosto, tomando meus olhos e minhas narinas. Me viro e tateio a mesa de cabeceira em busca de algo - qualquer coisa, já que não queria nada. Acho e puxo um livro. Depois os óculos; leio algo sobre a teoria da relatividade - sorri pensando que aquilo tudo estava há muito no passado para mim. O tempo alternava entre se arrastar e correr - sem lógica, sem padrão, sem ampulheta, sem observador: eu havia voltado a dormir.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Conversa com deus [5]

- Eu sou o maior megalômano do mundo!
- Oi, Deus.
- Não vi você chegando, MEU filho.
- Não vejo grau de parentesco.
- Eu sou possessivo.
- Achei que tinha megalomania.
- Eu sou o homem mais possessivo do mundo!
- Homem?
- Deus. Mas é que não faria sentido falar no deus mais possessivo de todos.
- Nem Alá?
- Ele dá 72 virgens.

sábado, 29 de agosto de 2009

Quote-dian

O sexo acabara de acabar. Não ficaram juntinhos. Ela ligou a televisão. Ele tentou ficar na posição em que estava, um pouco mais próximo, mas estava particularmente frio, então ele virou de lado e se cobriu. Foi tentar dormir apesar de qualquer coisa que passava e que ela, embora não conseguisse, tentava assistir. Absortos por seus turbilhões de pensamentos de fim de dia que preferiam não ter, adormeciam.
É verdade, esta está longe de ser uma história emocionante. Está mais para uma aventura do real. Também não é uma história longa: o tempo passa rápido demais para aqueles que dormem profundamente um sono leve e perturbado. E, ainda por cima, curto. Ele acorda primeiro. Mente vazia. Essa é a melhor maneira de se pegar os sonhos.
Os sonhos começam grandes e complexos, cheios de detalhes, e, à medida que o tempo de sono vai passando e a hora de acordar, se aproximando, ele vai se afunilando, até que, no instante que representa o transe entre viver um mundo e outro, que começa quando certas partes do cérebro diminuem o ritmo de trabalho e termina quando os olhos estão definitivamente abertos, o sonho é representado por apenas um curto fio. Ele segue seu rumo até passar por debaixo da porta que leva para além da consciência, definitivamente trancada com todas as chaves. Os sonhos fogem quando já se sai diretamente do transe a pensar: “está tarde!”, “está cedo!”, ou “preciso lembrar o que sonhei!”.
E, de fato, mantinha a mente vazia, sendo daí capaz de puxar o fio, que ia ficando mais largo, e trazia consigo o sonho, todo fragmentado em pedaços pequenos, imagens congeladas, a pedaços grandes, cenas inteiras, às vezes desfocadas. Poderia costurá-lo novamente, se quisesse. Reviu parte das imagens que perambularam por sua mente nas últimas horas. Cenas que pareciam verdadeiras demais até para a realidade de um dia útil.
Não querendo continuar a rever os caminhos percorridos no sonho, começou a pensar em outras coisas, abriu os olhos, e, com isso, escapou-lhe à mão a corda; dessa forma, o sonho retornou a seu rumo para além da porta inacessível, num movimento tão inevitável como o de um balão de hélio sobe quando a criança se lhe desprende sem querer.
Olhou para os lados com as pálpebras semi-cerradas. Parecia ter sido o primeiro a acordar. Tanto fazia. O sol ainda tímido batia nas cortinas e pedia passagem. Por que tudo aquilo? Tudo isso à noite. Todos esses pensamentos. Todos esses sonhos. Quis crer que a vida era mais simples que o que parecia. Sem qualquer cerimônia, jogou de lado o lençol e, a vestir nada, foi escorregando até o banheiro escovar os dentes. Um novo dia qualquer começava. E como estava quente!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Feliz dia mundial da fotografia!

- Hoje se comemoram 170 anos da captura da luz.
- Os buracos negros o fazem há muito mais de 170 anos e duvido que tenha um dia mundial para eles.
- Mas os buracos negros só foram descobertos bem depois da captura da luz. Logo, viva o nitrato de prata!
- A descoberta, feita a posteriori, não muda o fato apriorístico. A teoria da evolução, como a conhecemos, teve seu esqueleto traçado no século XIX, o que não quer dizer que não tenha havido evolução até lá. E as pessoas estão comemorando os 200 anos.
- A fotografia captura mas já devolve a luz. Já o buraco...
- Mas quem sabe os propósitos? Vai que eles têm as melhores fotos. Ninguém que foi lá já voltou para as exposições de fotografia que temos aqui.
- Enfim, feliz dia da fotografia!
- Com ou sem flash?

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Conversa com deus[4]

- Não viu o sinal de “não entre”?
- Como você sabia que era eu? Ah, já sei, “eu sou deus...”.
- Eu ia te mostrar aquela câmera, mas essa versão também serve. Por que entrou?
- Achei que era que nem a bíblia, “não entrareis”, tal, mas aqui o céu é lotado.
- Isso porque não fui eu que escrevi.
- Então é que nem em porta de hospital público. Lá diz “não entre”. É onde eles jogam o poker das 22 horas.
- Sei.
- Por que você não eliminou os profissionais de saúde? Isto é, eles não vão contra seu Plano? Tentando prolongar a vida de quem deve morrer ou matando logo quem podia viver.
- Não acha que já pensei nisso? Pesei as coisas. Vocês morrendo mais rápido só iriam encher as filas aqui no céu. Não acha que a bagunça já está grande demais? Pedro faz jornada tripla. O homem é um santo.
- Você o fez assim.
- De propósito, é claro, haha.
- Você pode fazer um alçapão direto para o inferno.
- Hm.
- Deixe que nós mesmos, isto é, os homens, façamos a burocracia no pós-vida. Fazemos isso na Terra há anos.
- E só deu em merda até agora.
- Isso é irrelevante.
- Mas, afinal de contas, o que vocês ganham com isso?
- Ganhar? Nada. É o inferno. Punição e sofrimento eternos. Lembra? Você que disse.
- E você, o que ganha com isso tudo?
- Eu? Nada. Só quero te poupar trabalho e estresse, deus.
- Diga. Quem você quer que eu te apresente?
- Que tal aquela loirinha?
- Perto do portão?
- É, com os cabelos ao vento.
- Aquele é o Hadriel.

Sentir, essência do sentido

Na agonia da existência,
faculta devotar-se
- à capacidade de sentir
e apreciar as sensações.

No inexorável passar do tempo,
a memória aquece o sentido longíquo.
Não é impossível poder
sentir latente controle da realidade
apreensível.

No vórtex de impressões
- que traga a estados contemplativos -
Cabe destruir os meios e sentir,
ou recriá-los para o mesmo fim,
seja no particular
ou no todo.

Expressar é provocar a uma resposta,
que será entendida como estímulo.
Forma um ciclo:
começa e termina na auto-ampliação do sentir
- parece ser essa a ilógica do sentido, causa-em-si.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

The frog conundrum


- Vou te contar uma história, ok?

- Ok.

- Bem, havia um laguinho, onde passava um homem. O homem resolveu atirar uma pedra no laguinho, e atirou. Um sapinho que por ali passava viu um ponto preto voando no ar, esticou sua linguinha e engoliu a pedrinha pensando que era uma mosquinha. Sem saber disto, o sapinho sentiu-se satisfeito.

- Hm...

- Existem muitas maneiras de se analisar essa história. Uma primeira pergunta seria: o sapinho estava errado em sentir-se satisfeito?

- Claro que sim.

- O motivo da pergunta é... Como?

- A pedrinha que ele pensava que era uma mosca era uma mosca só para ele, e não uma mosca real que faz parte de uma verdade universal e absoluta, a qual todos devem aceitar. Que nem o pastor disse lá no culto.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Covinhas

- Como na primeira vez em que nos encontramos.
- No aniversário de Carlos?
- É. Você estava sentado e ele te chamou para te apresentar a mim, e, quando você virou a cabeça para cima, sei lá, teu cabelo “coisou” bem rápido.
- Então você gostou disso?
- Acho que sim.
- É algum tipo de charme. Vou acrescentar à lista.
- Não seja convencido.
- Calma, linda. Foi você quem falou.
- Linda, é? Continue.
- Foi assim que eu te ganhei?
- E desde quando você acha que me ganhou?
- Desde ontem à noite.
- Não conta. Eu tinha bebido.
- Bebeu porque quis.
- Se lembro direito, você me pagou seis doses e outras coisas.
- Mas foi porque você me ganhou.
- Nem tínhamos conversado direito.
- É que tem essa cova.
- Como?
- Você. Essa cova. Aí. É, aí, no cantinho da boca. Dos dois lados.
- Que tem?
- É muito charmoso.
- Você acha?
- Demais. É bonito e charmoso.
- Hmm.
- Instigante.
- Mesmo?
- Claro. Aceita um drink?
- Por favor.
- Aqui. Bom... Você, por acaso... Não teria mais nenhuma, né?
- Nenhuma o quê?
- Cova.
- Fale no diminutivo. Soa menos mal.
- Covinha?
- É.
- Que seja. Você não teria nenhuma, né?
- Fora essa?
- Sim.
- Talvez.
- Posso ver? Antes, quer aceita outra dose?
- Quero sim. E eu não falei que tenho. Só que talvez tenha.
- Onde?
- A covinha?
- A cova. Onde fica?
- Outra dose e eu mostro.
- Onde? Nas costas?
- No banheiro.

domingo, 2 de agosto de 2009

Sétimo dia


Mentiu quem disse que o sábado era o sétimo dia e foi tolo quem acreditou. Alguém precisava, afinal, justificar o fato de um primeiro dia se chamar “segunda”. Ou podem ser culpadas por isso as trevas de um espírito preso. O domingo costuma ser um dia essencialmente contemplativo. Esse dia fatídico, que não parece se diferir de outro qualquer além do fato de preceder um dia de trabalho e não ser, a priori, um dia para labutar, está cercado de certa mística impossível de desvendar. Nesse dia, os espíritos livres, as almas de papel e os cérebros de esponja estão perturbados ou constrangidos por força indescritível. E isso vem de muito longe. No sétimo dia, um domingo não diferente do de hoje, deus, depois de desistir de uma pedra grande demais, sentou sobre um banco em frente ao mar. Abriu os olhos e contemplou o mundo, a absorvê-lo na mais magnânima e sinestésica apreciação estética. E então chorou: havia criado um mundo que unia, sem paradoxos, uma contradição: beleza e dor. E o que fizera não tinha mais como desfazer.


terça-feira, 28 de julho de 2009

Pontos de vista

Seu Silva tinha muitos amigos naquela pracinha. Conheciam-se há algum tempo, isto é, desde suas aposentadorias, quando se tornou possível freqüentar a pacata e decadente praça naquele antigo bairro próximo da praia. Lá, faziam coisas da idade: jogavam damas, conversavam potoca. Contavam as histórias das maiores aventuras passadas ou sofridas na juventude, de como eram sagazes e escapavam, muitas vezes, ilesos. Bebiam ocasionalmente uma cervejinha - Seu Ferreira lembra que, para quem trabalhou 40 anos e um dia pára, todo dia parece sexta-feira. Olhavam as moças novas passarem e não deixavam de fazer suas gracinhas e estrupulias para chamar atenção e, quem sabe, ganhar um olhar ou piscadela. Isso e tudo o mais, faziam-no para evitar pensar ou reconhecer que envelheciam. Mesmo com as marcas no rosto, mesmo com os costumes e roupas que mantinham - ninguém era tão vaidoso assim. Seu Barbosa fazia questão de pagar passagem inteira no ônibus; Seu Almir jura que nunca pagou meia entrada no cinema; Seu Antônio ia no bar e discutia com quem não acreditava quando ele alegava ter só 54. Diziam que, assim, não se sentiam velhos, e se misturavam às pessoas maduras alguns anos mais novas. Bobagem, pensava Seu Silva. Há anos ele se locomovia de graça em transporte público, que pagava meia entrada no cinema ou 50% das diárias de hotéis - mesmo antes de completar a idade permitida para tanto. Assim, dizia ele, pensava voltar à tenra época em que era estudante e o mundo se abria em oportunidades e conhecimento. Achava que era mais feliz assim.

domingo, 19 de julho de 2009

Exame

- Bom, meus parabéns, você chegou na última etapa. Como você já deve saber, esse é o exame psicológico.
- Sim, eu sei. Me preparo para este concurso há 15 anos.
- Ótimo. Então, primeira pergunta: você é doido?
- Não.
- Louco?
- Não.
- Insano?
- Não.
- E excêntrico?
- Já me chamaram assim. Mas não.
- Você toma remédio controlado?
- Não. Mais. Não mais.
- Por que suspendeu?
- Enchi.
- Hm. Ok, então, última pergunta: você já consumiu ou consome drogas?
- Sim.
- Vamos tentar de novo: você já consumiu ou consome drogas?
- Sim.
- Drogas ilícitas.
- Sim, já disse.
- Bom...
- Você devia me passar.
- Como?
- Usei outra estratégia.
- Qual?
- Sinceridade. Você devia me passar.
- Por quê?
- Porque isso é uma qualidade em falta no serviço público.
- É verdade. Você não está drogado agora, está?
- Talvez.
- Tá, vou fingir que não ouvi isso...
- Eu estou.
- ... Seja bem vindo ao serviço público!

sábado, 11 de julho de 2009

Papos contemporâneos

Diz: responde!!
Diz: desculpa, tava escrevendo uma resposta na janela da minha filha.
Diz: como assim? a Júlia?
Diz: a única que nasceu até agora.
Diz: mas ela não tem 3 anos?
Diz: é, e eu já tinha pedido pra ela me ensinar a operar esses mecanismos via internet há mais tempo.
Diz: "i see babies cry, i watch them grow..."
Diz: "... they'll learn much more then i'll ever know"
Diz: ao menos a música não muda.
Diz: era um remix.
Diz: entendo.
Diz: olha, recebi uma mensagem da minha filha.
Diz: a Júlia também manda sms?
Diz: não, a Camila. ela já queria avisar que só nasce se o hospital tiver wifi.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Novo papa diz: "Igreja encontrou seu caminho"

Depois da súbita morte de Bento XVI e da ascenção do novo papa, que decidiu se chamar João, o que faz delo o XXIV, muitas mudanças severas se passaram na Igreja Católica. O papa revolucionário encabeçou um programa que resolveu chamar de "O Plano da Mudança, UI", em que o "U.I." quer dizer 'Universal e Institucional", e consiste, basicamente, em mudar a estrutura da Igreja.
O papa João XXIV nasceu em 1948, em Roma, mas veio logo cedo para o Brasil com os pais, tendo se instalado em São Paulo. Quando perguntado sobre seu nascimento, o papa confessa: "eu renasci na década de 70, quando me juntei aos padres do nosso seminário e decidimos nos dar... toda a liberdade!". Eleito cardeal há alguns anos, sempre retornava ao Brasil para participar de manifestações públicas em favor dos direitos das minorias, pelos quais lutava em vários países do mundo. A imagem do então cardeal era ainda mais freqüente nas manifestações do orgulho homossexual.
Com o novo programa do Vaticano, a intenção é manter boa parte das antigas leis e tradições, mas só depois de serem revistas. Dentre as antigas tradições, ainda se proíbe aos sacerdotes o casamento. A justificativa foi reafirmada: um padre não pode ter filhos. "Sim", afirma João XXIV, "mas isso não impede que ele mantenha relações que não levarão à gravidez". Assim, fica permitida a prática homossexual entre os sacerdotes. Manifestações mundo afora foram organizadas: a notícia foi recebida com imenso louvor. Analistas confirmam que, por um lado, foi uma medida que reconheceu que havia afastamento de muitos cristãos da Igreja e visava a não só os atrair de volta, como conquistar o público homossexual de maneira geral, que agora encontra uma religião que o aceita. O papa João XXIV conclui: "antes dessa reforma, como esperavam que a gente se desse a Jesus?".

Fonte: Arial 11.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

O embate entre direito interno e internacional

A questão que se põe entre o direito interno e o internacional pode ser comparada a um problema no elevador. Num prédio público, um senhor impaciente aguarda as portas se fecharem para seguir subir ao último andar. À distância, ele vê duas senhoras se aproximando, a passos rápidos, na tentativa de evitar perder a viagem. Em parte por consideração, em parte por educação, ele, que também gostaria que outros agissem da mesma forma com ele, não aperta o botão de fechar, embora também não aperte o de manter as portas abertas. Uma das senhoras chega e põe a mão na frente do sensor do elavador.
A situação está estabelecida: ambos, o homem e a mulher, desejam subir. Podem subir juntos ou separados - a ele, não agrada ter que a esperar; a ela, não agrada ir depois dele. Ambos querem operar o elevador, que é o Estado. O homem dentro do elevador é o governo de um Estado, e a senhora representa um outro. O direito internacional é aquele que agiu na cabeça do senhor e o fez ter certo nível de complascência. O direito interno é aquele que o dá a possibilidade de agir da maneira que julgar melhor, apesar de todas as possíveis conseqüências. O direito internacional está expresso no sensor do elevador, que capta a necessidade de ambos, mas privilegia a coordenação da ação dos dois - afinal, o elevador já vai subir mesmo, por que não levar logo a ambos? O direito interno está expresso na vontade realizada do senhor: ele aperta o botão de fechar as portas.
A justiça continua cega. No embate entre as duas esferas, sempre alguém sairá perdendo. Neste caso, a mão.



domingo, 5 de julho de 2009

Pós-contemporaneidade

- As coisas mudam...
- O que quer dizer?
- Na época dos meus avós, era comum conhecer a maioria das pessoas que moravam nas vizinhanças, fosse um bairro ou vilarejo.
- É verdade.
- Meus pais, já um pouco avançados em idade, falam, saudosos, que conheciam todos os vizinhos com cachorro.
- Pelo fato de que saíam à rua pra passear, e encontravam e davam-se bom dia, né?
- No caso do meu pai, sim. Minha mãe não tinha cachorro, mas tinha o sono leve. Cada noite ela lembrava de todos os vizinhos que tinham cachorro.
- Meus pais criavam peixe.
- Ao menos conheciam o cara da venda que fornecia a ração.
- De fato.
- Ninguém hoje costuma lembrar que tem vizinho. Só quando ele dá festa, e só para ficar amargurado ou reclamar do barulho.
- É, as coisas mudam...
- O que quer dizer?
- Antigamente, quando nossos avós eram jovens, era romântico e bonito dizer “eu te amo”.
- Com a revolução sexual, isso passou a ser “eu te desejo”, e, depois das militâncias feministas, “eu te respeito”.
- O que você acha de hoje?
- Me incomodo com tanto pragmatismo.
- Eu também. Minha filha decidiu morar com o namorado quando ele falou: “tudo bem, eu posso comprar o pão hoje, já que você vai trabalhar até mais tarde”.

domingo, 28 de junho de 2009

A Pátria

"(Sarajevo, 1946) Aqui, como em Belgrado, vejo nas ruas um considerável número de moças cujos cabelos estão ficando grisalhos, ou já o estão completamente. Têm os rostos atormentados mas ainda jovens, enquanto as formas dos corpos traem ainda mais claramente a sua juventude. Parece-me ver como a mão desta última guerra passou pela cabeça desses seres frágeis[...]

Tal visão não pode ser preservada para o futuro; essas cabeças logo se tornarão mais grisalhas ainda e desaparecerão. É uma pena. Nada poderia falar tão claramente sobre nossa época às futuras gerações quanto  essas jovens cabeças grisalhas, das quais se roubou a despreocupação da juventude.

Que pelo menos tenham um memorial nesta notinha.

Ivo Andric"

Cruel e impiedosa, sem dúvidas. Apesar da bandeira que carregavam nos ombros, havia um sentimento que crescia gradativamente exigindo o fim da luta, sem importar-se com vitória alguma.

Partamos de Sarajevo, onde Andric começou o texto. Vamos mais para o noroeste. Lá, durante a primeira guerra mundial, em uma certa aldeia francesa perto da fronteira com a Alemanha, estava no auge um dos vários conflitos. Este possuía as seguintes características: avançar pela planície era suicídio, dada a defesa extraordinária de ambos os lados; tanto franceses quanto alemães cavavam com instrumentos primitivos, inclusive as próprias mãos, túneis incrivelmente longos para que, com um pouco de sorte, acabassem embaixo dos inimigos, onde plantariam bombas; e, principalmente, como os túneis eram os únicos meios de atingir seus adversários, todos sabiam que o conflito nunca acabaria. Mas, como sempre, a bandeira urge e o soldado obedece. Ou será que não?

Após dois ou três anos de conflito, a maioria dos combatentes já havia entendido o significado vazio da batalha. Em algumas partes dos túneis podia-se ouvir o que os inimigos discutiam e, o que a princípio era usado para espionar o adversário, passou a ser utilizado para avisar aos combatentes do lado oposto o horário e o local exatos da explosão das bombas. Sempre que possível, soldados de ambas as nações saíam das trincheiras para conversar um pouco e até jogar baralho. Aos poucos o conflito foi adquirindo um ar pacífico e um fim declarado pelos próprios soldados, sem consulta aos superiores. É interessante constar que os alemães contavam com um camarada combatente chamado Adolf Hitler. Este não concordou com as atitudes filantrópicas dos soldados, chamando-os de traidores, mas até ele achou que tal batalha não possuía vantagens ou sentidos.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Lula diz que projeto Azeredo é censura na Internet

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje em Porto Alegre, no 10 Fórum Internacional Software Livre - fisl10 - que no governo dele é proibido proibir. A frase de Lula foi uma referência ao projeto de lei do senador Eduardo Azeredo, que propõe vigilância na Internet. O presidente foi ovacionado pelos milhares de participantes em sua primeira visita ao fisl, que mostraram uma faixa a ele, pedindo que vete a lei Azeredo. Sem afirmar que vai vetá-la, mas sinalizando que se trata de censura na Internet, Lula disse que antes o projeto precisa passar pelo Congresso.

Texto completo e fonte: http://fisl.softwarelivre.org/10/www/06/26/lula-diz-que-projeto-azeredo-e-censura-na-internet

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pequenas transgressões


São muitos os palhaços que, ao final de um dia de espetáculos, engavetam o nariz vermelho.

Viver numa cidade formal permite observar alguns fenômenos no mínimo curiosos, e o que descreverei é um desses. Pude observar, o que não me custou muito tempo nem capacidade interpretativa, que há, dentre os cidadãos que trabalham vestindo o que vocabulário comum chama de roupa formal - ou costume completo, terno e gravata -: são os que o fazem por elegância, os que o fazem por obrigação e os fantasiados.

Em verdade, quase todos os que se encaixam nesse grupo o fazem por obrigação de trabalho. O segundo grupo, de fato, é aquele que veste a camisa sem se importar; faz porque tem que fazer e tudo bem por isso. O primeiro grupo se sente bem na vestimenta; está elegante e auto-confiante; volta para casa no seu carro com um condicionador de ar ligado em alta potência. O terceiro grupo, que mais chama a atenção, é o grupo dos, como dito, fantasiados.

Esses não vêem diferença entre uma fantasia de Halloween e a roupa de trabalho - excetuando-se que o primeiro certamente há de ser mais divertido. Se lhes impusessem ir ao trabalho trajando-se de Noel, daria na mesma. Usam o que usam por falta de opção. Em especial a gravata; há poucas peças tão inúteis e anti-práticas como as gravatas. São tão desconfortáveis que boa parte dos homens opta por prendê-las.

Essas pessoas passam o dia presos numa jaula que só cabe o próprio corpo - e muitas vezes nem isso. Até que dá a hora de sair.

Mal atravessam a porta, e muitas vezes antes disso, afrouxam a gravata; voltam uma casa do cinto; desabotoam um ou dois dos primeiros botões da camisa; desencam-na; o terno vai parar dobrado no braço, ou, no caso da mão que se deita sobre o ombro, apoiado sobre um par de dedos - típica cena de fim de trabalho. Para a sociedade, são deselegantes, e eles sabem disso. Mas, numa cidade sempre cheia, também sabem que não tem ninguém olhando - todos estão voltados para seus pequenos problemas no fim de um dia normal de trabalho. E assim saem à rua, voltando para casa geralmente a pé, de bicicleta ou ônibus. Felizes com suas pequenas transgressões.

(imagem de Mateus Massa: http://www.flickr.com/photos/mateusmassa/)

domingo, 31 de maio de 2009

Aniversário

- Preciso de uma dica. Quero dar um presente pra uma amiga. É aniversário dela e não faço idéia do que dar.
- Não dá nada.
- Vai, ela é mulher também, me dá uma ajuda.
- Você gosta dela?
- Sim, somos amigos há muito tempo. Isso que é o problema: já dei todo tipo de presente pra ela, e não sei mais o que dar nesse ano.
- Flores?
- Já foi.
- Chocolate?
- Já.
- Roupa?
- Muitas.
- Coisas pra cama? Enfeites? Pelúcia? CD? Dvd? Livro? Cartão?
- Todos. Até cartão. E ela odiou. Foi, aliás, ano passado. Por isso que tem que ser algo bom nesse ano.
- Com homem é tão mais fácil.
- Como assim? É mais fácil dar presente?
- Não, falei de sexo. Nunca viu? Não sabe o que dar pra um homem, dá uma noite especial.
- É, já tinha acontecido, mas eu nem notei. Tou acostumado a não ganhar nada. Meu aniversário sempre passa em branco.
- Comigo também. Só os amigos mais íntimos sabem.
- Eu não sei o seu.
- É...
- Mas você também não sabe o meu.
- Então estamos quites.
- Quer trocar as datas e subir um degrau na amizade?
- Pode ser. Vou ganhar presente com isso?
- Depende. Sexo conta?
- Conta.
- Bom. Então, o meu é 6 de março. Quando é o seu?
- Toda sexta à noite. Comemoro lá em casa com uma garrafa de vinho.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Liberdades


Quando criança, muito me entretinha caçar ateus convictos e enchê-los de perguntas clichês sobre suas convicções. Gostava disso primeiro porque às vezes provocava irritação, imagino que, em parte, por vir de alguém tão jovem, e isso os levava a não responder. Às vezes divagavam com algum comentário engraçado, nem sempre inteligente, às vezes respondiam com ignorância. Tinha dois terços de chance de me divertir com a reação. Das perguntas que fazia, a que mais provocava reações adversas era o "então, por que não matar?".

Mais que pela brincadeira, realmente queria saber o que os impedia de, numa situação adversa, potencializada por um acesso de raiva maior que o comum, desferisse um golpe letal contra seu oponente. Talvez por esperar por uma resposta grandiosa, era a única que não conseguia ser respondida. Algumas reações como as acima já eram esperadas e se repetiam. Em outros casos, a conversa tendia a rumar para "não são os ateus que matam, e sim os religiosos fanáticos". Mas nunca recebia nada a contento. E isso tudo me intrigava. Essa liberdade que eles tinham - e eu não.

O tempo me trouxe amadurecimento e consciência, e, com eles, essa liberdade de que hoje gozo. E o que fazer dela? Uso? Num mundo onde é possível eliminar fisicamente o adversário, fazê-lo? Não. Até poderia; se quisesse, teceria para mim mesmo um conjunto de preceitos morais que mo permitisse fazer. Mas, mais uma vez, não. Ninguém escala ao cume de uma montanha para respirar o ar doce, puro - e rarefeito - e dela se atirar em direção ao chão. É a liberdade; e o melhor uso que se faz dela é reconhecê-la e facultá-la, para, assim, senti-la.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Orgia filmada por padre resulta em cooperação bilateral

O padre, que exercia suas atividades no interior do Estado da Paraíba, gravou dois vídeos em que aparecia a fornicar com um casal do seu círculo de amizade.
O menàge teria sido disponibilizado no blog pessoal do padre.


Depois de 49 minutos de exibição pornô contínua e muitas visualizações anônimas da comunidade cristã da região, interessada em averiguar a integridade moral do sa, os vídeos teriam sido retirados do site da morsa.
A arquidiocese local manifestou publicamente, ao lançar um texto num jornal que abrange todo o estado, dizendo-se embaraçada com o fato.

A questão, entretanto, atravessou fronteiras.
Fontes mais recentes* afirmam que no jogo de xadrez da política sulamericana (o Peão, a Dama, o Cavalo...), o Bispo, presidente paraguaio Fernando Lugo, teria feito uma ligação e se comunicado diretamente com o sacerdote brasileiro.


Entrando em contato com a arquidiocese local, teria conseguido concluir a remoção do padre para assumir uma arquidiocese no Paraguai. Depois, já se fala em um acordo proposto pelo presidente paraguaio para, com ajuda do padre paraibano, incentivar a construção de escolas para meninas que desejam ingressar na vida religiosa. Com gosto.



* Fontes: Times New Romans e Comic Sans (12).

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Interferência

Notícias

Dia 1
Pandemia de gripe suína mata 100 no mundo todo

Dia 2
Gripe suína faz 10 vítimas

Dia 3
O Brasil está preparado para a gripe suína, que mata mais 5.

Dia 4
Não há necessidade para temer a gripe suína.

Dia 5
Gripe A diminui no mundo. Pacientes têm alta.

Dia 6
Comprovado que a gripe A não se relaciona com carne de porco.

Dia 7
Cresce venda de carne suína.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Relato cotidiano

Seguiu a direção dos cartazes, adentrou com majestade o recinto e seguiu a um homenzinho encarregado da recepção.
- É aqui que tem vacina pra raiva?
- É sim.
- Tá aqui minha carteira de vacinação. Pode me dar umas três logo de uma vez aí.
- Mas, senhor, aqui só vacinamos animais!
Boatos das fontes mais confiáveis confirmam que o homem, incomumente peludo, ostentando espessa barba, levantou-se, e, desferindo contra a mesa um único golpe, partiu-a em dois. Em seguida, teria pulado sobre o funcionário que o atendia e quebrado todos os seus membros. Diminuiu o ritmo quando um enfermeiro aplicou-lhe uma injeção. Só parou de vez na sexta.
Com a boca espumando, prostrou-se, a se contorcer, chamando a gritos pelo nome “Lola”. Como não sabendo o que fazer, os presentes à cena encaminharam-no a um canil, onde fez questão de terminar seus dias.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Seção "Sempre turista"

Com câmeras rolleiflex às mãos - potentes como na canção "Desafinado"-, os pensadores do Sarau saem às ruas das cidades onde moram.
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É no reconhecendo o sentimento de não-pertinência a nenhum lugar que surge a idéia do sempre turista; andar por ruas que, por mais que sobre pegadas relativas ao formato do seus pés, não se parecem as suas; passar pelos mesmos caminhos, mas, neles, enxergar novas formas a cada dia. E, como todo bom turista, registrar.
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Não são fotos melhores que as outras. Nem necessariamente - ou provavelmente não - mais bonitas. Vai ver é certo que também não escrevemos melhor que os outros. Mas a inquietude de sempre ser turista leva a registrar. E talvez isso seja o suficiente para tornar distinto.
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Registros fotográficos que vão além das cores e pixels certamente serão acompanhados de pequenos comentários sobre o que se pretende mostrar. De certa forma, a idéia já fora inaugurada no texto Contramão (clique aqui). Mas, como esse deveria ser o post inaugural, uma vez que é o que explicita e explica, vai uma primeira imagem.
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Foto tirada na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, hoje, há não muitos instantes. Criança arma rede em duas árvores no centro da capital brasileira; ao lado, formação de lixo. Ao fundo, via que liga os dois lados da Esplanada, por onde transitam ambos carros e ônibus. Ainda, duas pessoas, uma deficiente, pedindo esmola. Tudo isso a poucos metros do Congresso nacional, dos Ministérios, do STF e da Presidência. Mas, enquanto não vier nenhuma Comissão avaliar a cidade como concorrente para as Olimpíadas, essas pessoas não precisam dar um passeiozinho de ônibus.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Partir

Colocou os pertences que carregava na esteira e seguiu adiante, atravessando o detector de metais. Soa o apito. Volta um passo. Esquecera uma chave no bolso. Passa a chave por uma caixinha e torna a tentar passar. Soa o apito novamente e um guarda se aproxima. Olha logo para o cinto de fivela larga. O guarda puxa um detector manual e constata que o metal detectado pertencia ao cinto. Recolhe os pertences e lhe é dada passagem. Era de se estranhar. Podia ter sido um broche, mas sabia que não importava quantas vezes tentasse passar, o aparelho iria sempre fazer seu alarde. O peito pesava como chumbo. Trazia no coração uma faca cravada pelo destino. Mas ele haveria de retirá-la ele próprio. Disso sabia também.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Humor negro

- Atchim! - alguém espirra no meio de uma multidão que pretendia cruzar a rua.
- Saúde! - outro alguém grita.
- Suína?! - brada um terceiro.
Todos correram. Até hoje não sei se faziam parte da brincadeira ou não.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Contramão


Capital, cidade planejada. Planejada - e sem esquinas. Objetiva, certa, precisa. Toda a lei positiva exposta no concreto. E ainda sem esquinas. Ruim para o pedestre. Pior para o cara que ganha a vida dando um pouco de felicidade aos que saem desmotivados de seus trabalhos e encontram o sentido de suas vidas em um gole ou dois de uma loira gelada e em uma unidade ou duas do famigerado 'espetinho'. Como haveria de viver ele, que depende de esquinas para deixar o nomadismo, se esquinas estão proibidas? Fazendo bom uso da tão dita criatividade brasileira invocada [apenas] em situações difíceis, eis que inexoravelmente surge a figura do espetinho da curva, com suas instalações em frente a um girador ou balão. Não está previsto, mas acontece. E os freqüentadores, representantes de seus respectivos segmentos sociais, sancionam a idéia. Segura essa, Lúcio Costa.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Pós-venda

Parou numa barraca no mercado de importados do centro da cidade.
- Quanto que tá o celular?
- Ó, malandro, esse aqui tem TV e mp-10. Tá 700.
- 700? Só dou 400.
- 400? Ahhh, moleque... Mas aí vai ter que ser sem pós-venda.
- Qué que cê quer dizer com pós-venda?
- Que depois que eu vender eu não sou mais teu vendedor.
- Na hora, mermão. Toma.
- Valeu.
- Agora eu não sou mais teu vendedor, né?
- Foi o que cê falou.
- Então agora eu sou teu assaltante, porra! Passa a merda do celular!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Sósia

- E aí, rapaz, quanto tempo!
- Como cê tá?
- Bem, bem. Olha só, vi um cara igualzinho a tu ontem.
- Foi?
- Tão igual que até confundi.
- Toda vez que alguém chega "vi alguém parecido contigo" e eu vou atrás descubro que é um careca, um cara sem perna... Vai te lascar!
- Não, velho, eu te conheço faz tempo, não ia fazer isso contigo.
- Sei não. Vai, diz aí, como ele era?
- Bem, tinha o cabelo castanho, né, mais ou menos que nem o teu.
- Tinha os dois olhos ao menos?
- Tinha, tinha. Tou dizendo, era a tua cara.
- Quê mais?
- Quando o vi ele tava com uma camiseta vermelha, eu sei que você tem um bocado delas...
- Ele tinha os dentes?
- Ahm, quase todos.
- Tu tá de sacanagem, velho!
- Não, mas eram quase todos, assim, que nem os teus, meio tortos, saca?
- Onde cê viu esse sujeito?
- Tava perto daquela boate, barzinho, sei lá, que tu freqüenta.
- Sei. Fazendo o quê?
- Acho que tava dormindo.
- Como assim, dormindo?
- No chão, ué, dormindo; dormindo.
- Vai te lascar! Cê me confundiu com um mendigo?!
- Mas era igualzinho! Só um pouco mais velho...
- Claro que não!
- Tá, era muito parecido.
- Não.
- Lembrava.
- Lembrava o quê, homem?
- Que nem tu, ele era meio agressivo, quase batia em mim, e também usa tua frase registrada.
- Que frase?
- "Vai te lascar".
- Ah, vai te lascar.
- Tá vendo?
- Como você sabe tanto desse cara?
- Falando com ele.
- E você falou como?
- Ele parecia estar descansando, aí eu cheguei por trás, dei uns bons tapões nas costas dele e falei: "Noitada, hein, Bilolinha?".

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Moedinhas



Algumas pessoas que me conhecem meio de longe costumam me chamar de Moedinha. Ganhei o apelido quando tive a oportunidade de assistir um vídeo que mudou minha vida. Ele chamava atenção para tudo que me impedia de progredir nesse mundo e que estava ali, na minha frente, esperando para ser visto. Hoje eu trabalho no caixa de uma enorme rede de supermercados. Esta é minha primeira nota antes de ficar rico e famoso; faço-a como um lembrete de todos os meus passos, para que as gerações futuras tenham no que se inspirar.
O vídeo que eu assisti falava sobre a importância das moedas. Porque guardá-las, porque não as guardar por tempo demais. Como a moeda é importante no dia-a-dia das pessoas. Distribuíram também um planfeto falando sobre os custos de produção de moeda que me arregalou os olhos.



Um centavo custava 9 centavos? Cinco centavos custavam 12? Tinha algum erro de cálculo sim. E essas moedas circulavam. Trabalhando no comércio, já vi de 1 centavo circulando por aí. Comecei a trabalhar e fui percebendo que as lojas, especialmente o supermercado onde eu trabalhava, sempre fazia anúncios de promoções que terminavam com 99, e às vezes, 95 centavos. Os clientes compravam muita coisa e nem reparavam na nota da feira. Tomavam 5,99 por 6,00. Eu também já acreditei nisso. Os clientes não fazem questão desse 1 centavo; esse dinheiro também não é da loja, não consta no preço. Preferi achar que cada centavo adquirido desse modo era uma bonificação pelo meu trabalho. De fato, fui eleito funcionário do mês desde que comecei a trabalhar aqui. Minha teoria funcionava bem. Os clientes não ligavam se eu fechava a conta com os centavos arrendondados para mais; se eu dizia não ter troco. Só queriam sair dali e entupir as artérias. Eu pensava mais à frente. Nas transações a cartão, para "simplificar", eu também arredondava o cálculo. Um centavo pode não parecer muito; mas 10 centavos já compram um chiclete. A cada 100 transações eu tenho um real. Mil transações, 10 reais. A dedução é lógica: a cada cem mil vendas, mil reais voltavam para mim!

Comecei a juntar meu dinheiro, e passei a perceber o quanto eu deixava de economizar com centavos nas compras que eu fazia. A solução não tardou a vir: andava com moedas de todos os tamanhos nos bolsos, o tilintar suave de cada uma delas me fazia reconhecer o valor e o ano. Tornou-se, de longe, minha marca registrada. E já estava juntando valores que superavam meu salário em muitas vezes.

Promovi essas mudanças significativas na minha vida. Aos poucos, vou juntando. Quando obtiver meu primeiro milhão, vou chamar a imprensa e sair no Jornal Nacional. O Banco Central vai ligar querendo me contratar. Mas isso é o de menos. Meu grande plano começa aqui. Como ficarei nacionalmente conhecido, serei chamado para dar palestras em bancos, demais empresas, encontros, seminários, congressos. Exporei minha idéia inovadora e virarei fenômeno, provavelmente "o Imperador das Moedas", decerto como a mídia sensasionalista haverá de me chamar. Em seguida, escreverei um livro, cujo título já até escolhi: "Lidando Com Um Trilhão De Moedas". Eu vou aparecer na capa sentado num trono de moedas. O livro virará best-seller internacional e rapidamente receberei convites para palestras internacionais.

A essa altura, já terei juntado alguns bons milhões. Eu, então, fundarei uma empresa realmente grande. Todos os produtos que ela oferecer poderão ser adquiridos pela bagatela de um valor dois centavos abaixo de toda a concorrência. R$10,98, R$20,98, R$100,98... Será lucro dobrado. Aí é que eu vou ser rico de fato.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Monoteísmo e sentido da vida



Vejo como sendo muito mais provável, no caso em que se prove a existência de forças acima da humana, que estas sejam organizadas de várias formas, que sejam vários deuses, ao invés de um só. Sim, pois que, já lembra Epicuro, "deus deseja impedir o mal, mas não pode? Então ele não é onipotente. Ele é capaz, mas não deseja? Então ele é malevolente. Ele tanto é capaz como deseja impedir? E por que há mal? Ele não é nem capaz nem deseja impedir? Então por que chamá-lo deus?". Que, então, fosse uma espécie de Câmara, um Congresso, uma Assembléia-Geral, em que todos os deuses sentassem em suas cadeiras confortáveis e discutissem, eternidade afora, o futuro da humanidade. Cada deus, por sua própria natureza de divindade, teria a faculdade de vetar uma proposta, idéia, ação com relação à humanidade e o universo; entretanto, com seus egos milenares, nenhum deixaria que uma proposta de outro fosse aceita, por não ser sua própria; o mecanismo decisório ficaria travado até o fim dos tempos e o universo estaria, portanto, à própria sorte. Uma espécie de céu democrático que não funciona.



A crença acima, prefiro tachá-la de saudável. Havia pensadores gregos se perguntando "não teriam sido os deuses apenas uma criação para legitimação do poder?". Sagaz, é preciso reconhecer, foi a junção de todos os deuses num só. É claro: o poder divino sendo federativo, dividido entre terra, submundo, água, céus..., fragmentado, pois, em várias partes, dava a faculdade do uso da liberdade (posso seguir a quem eu quiser dentre as várias opções), e, ao mesmo tempo, reduzia a fé a vários grupos (sacerdotes de um deus, seguidores de outro...); enquanto a suposta existência de apenas um congregava os mediadores e os fiéis, declarava posse de todo o universo, exercendo, assim, poder imperial. Já que só ele existe, não há escolha: ele deve ser obedecido; a submissão é imposta. Os mecanismos coercitivos já existiam, mas passam a ser exercidos por um poder unitário, monolítico: não há como escapar. A pergunta acima feita sobre legitimação cai especialmente bem neste momento - tudo passa a ser uma questão de exercício de vontade de dominação.


Nem tudo ia tão mal até quando o bispo de Hipona, também identificado por Agostinho, vê a necessidade de unificar e clarificar a doutrina da igreja. Se o pensamento anterior, grego, previa um modelo de temporalidade um ciclo infinito do cosmos, (e futuramente vai-se conceber a idéia de um eterno retorno), o filósofo cristão defende a noção de um tempo linear - há um começo e um fim. O começo fica estabelecido pelos contos da Mitologia, e o fim, embora não se saiba quando, haverá de chegar, como também previsto nessa Mitologia. O conceito de linearidade traz conseqüências de toda sorte até os dias de hoje; sem linearidade, não haveria conceito de evolução, que tanto atrasa os conhecimentos de Ciência e História. Tudo gira como se fosse a história de um homem só, constituída por eventos ímpares, e que possui um sentido e uma orientação. Ora, a pretensão do homem em sua magnânima tolice fê-lo crer ser algo perante o magnânimo (de fato) universo (conceito de responsabilidade histórica), frente ao qual sua mísera existência nada significa - existiu antes de dele, continuará existindo após ele. É de entender, não obstante, a procura por atribuir à linha histórica um sentido; ele parece cessar de existir quando é desvinculado do Eu, tendo que se vincular a outras estruturas ditas onipotentes: aí que são os deuses legitimados. Em templos de reflexão como os existentes na Índia e na China, encontram-se ocidentais peregrinando em busca do sentido da vida. Os indianos e os chineses, então, se perguntam: "e por que, se não o acharam lá, acreditam que vão encontrá-lo aqui?".



A vida humana é um fenômeno supervalorizado. Se, por um lado, de nada vale o ser humano, e sua existência não tem sentido ( tem a visão temporal limitada, distinguindo presente de passado e futuro, é incapaz de alterar a rota universal, é frágil ), a reconhecer que o homem é nada; por outro, o Eu é tudo, inclusive o próprio sentido, e tudo começa com o Eu. Não pode haver nada antes nem depois do Eu, apenas durante. A apreensão da História é falsa, a comprovação da Ciência nada comprova, todo o legitimamente confiável é apenas o conjunto de sentidos e sensações. Quando aparece a consciência do Eu, tudo surge a partir e emana dele; Ciência, História, Arte; aquilo que reconhecidamente é o Eu, aquilo que não parece ser (ainda que seja) e aquilo que o Eu aparenta desconhecer, os dois últimos se dando de forma latente. O sentido não está fora - quiçá não há sentido, mas, se há, haverá de ser encontrado no e pelo Eu. Reconhece outros deuses se quiseres, eles valem apenas para os homens; mas deixe que teu Eu seja senhor do teu destino; sê teu próprio deus.

domingo, 29 de março de 2009

Exemplos para entendimento do princípio de ação e reação ideal e de facto

Ação I: Dez chopes e parada da blitz.
- Reação ideal: Multa.
- Reação de facto: Um décimo da multa na mão do guarda.

Ação II: Vinte e cinco pedaços de pizza.
- Reação ideal: Seis horas de academia.
- Reação de facto: Um litro de coca.

Ação III: Pedestre atravessando a rua.
- Reação ideal: Pára o carro. Faz sinal com a mão.
- Reação de facto: Acelera o carro. Faz sinal com o dedo.

Ação IV: Acidente potencialmente letal envolvendo mais de 10 pessoas.
- Reação ideal: Corre pra ajudar.
- Reação de facto: Corre, puxa o celular do bolso e filma.

Ação V: Político rouba.
- Reação ideal: Vai preso.
- Reação de facto: Nas eleições do ano seguinte é eleito num cargo mais alto.

Ação VI: Esfomeado rouba.
- Reação ideal: Vai preso.
- Reação de facto: Faz pós-graduação latu sensu com seus colegas de quarto.

Ação VII: Windows funciona.
- Reação ideal: Não se sabe. Nunca aconteceu até hoje.

Ação VIII: Passar alimento cremoso numa fatia de pão.
- Reação ideal: O pão cai virado pra baixo.
- Reação de facto: O pão cai virado pra baixo (você o apanha, levanta, vai colocar no lixo, escorrega na sujeira que ficou no chão, cai de costas, bate a cabeça e morre).

Ação IX: Pedir cancelamento de serviço via telefone.
- Reação ideal: O serviço é cancelado depois de três meses de insistência.
- Reação de facto: “Ok, senhor, obrigado por aumentar em 300 reais seu pacote promocional, tenha uma boa tarde.”

Ação X: Alguém escreve um texto idiota e posta num blogue.
- Reação ideal: Comenta.
- Reação de facto: Comenta, senão...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Louça


Muito sono. Banheiro, fica apresentável. Cozinha, não sente gosto. Duas ruas até a parada. Ônibus lotado. Espremido entre pessoas que nunca viu durante alguns minutos. Primeira aula, convenientemente no bloco mais distante. Quatro horas tentando lembrar-se da paixão por aquilo que estuda. No almoço, prato feito, com gosto feito e satisfação feita. Logo, nenhuma. Aulas à tarde. Ônibus ainda mais lotado. Casa. Tudo em ordem. Jantar. Livros e cadernos, questões e teoria. Sequer tomar um banho ou trocar de roupa. Meia-noite, tendo a certeza de que falta algo. Banho e sono são opções atraentes.
Não fosse a louça para lavar.

domingo, 22 de março de 2009

Estado de Alerta






Divulga-se na mídia a mais polêmica e aterrorizante notícia: "ocorreu um ataque terrorista ao suprimento de água da cidade de Los Angeles. Todos devem evitar consumir a água fornecida pelos reservatórios locais. O terrorista está solto e todos os procedimentos possíveis estão sendo executados para a sua punição."

A partir daí, o cenário é evidente. Pessoas brigando pelo consumo de água descontaminada, sempre atentas à novas notícias, tentando sobreviver na cidade de Los Angeles. Os personagens não importam muito, apenas os seguintes detalhes chamam a atenção: não surgem doentes, estes apenas são citados estatisticamente; o terrorista, quando pego, sai de uma casa que aparenta ser de classe média e não coopera com a inteligência nacional, alegando não ter relação alguma com tal contexto; as notícias são passadas de uma maneira duvidosa, pois lembra o velho populismo norte-americano; há relações com a guerra no Afeganistão durante quase todo o filme; e ainda alguns outros detalhes.

Levanta-se a pergunta: será que tudo isso é apenas um pretexto para incentivar, mesmo que de uma forma indireta, os americanos a concordarem com a guerra? Afinal, a função da inteligência nacional estadunidense é, também, dar um motivo para os americanos irem à guerra. Então, simulado o ataque aos reservatórios de alguma cidade, o governo precisaria apenas de uma escrivaninha e vários papéis para os inúmeros voluntários à tão relevante causa nacional. De fato, o Tio Sam ainda existe, ele apenas mudou de forma.

O filme, de forma clara, não trata sobre isso. Trata apenas de alguns casos já muito discutidos, como a falta de água e sua repercussão social. Na verdade, essa interpretação talvez tenha sido a única pretendida pela direção, mas não dá pra deixar de imaginar que haja algo por trás disso tudo, pois há muitas evidências. Estado de Alerta talvez não seja uma emergência que precise ser enfrentada, talvez seja um grande botão vermelho na vasta escrivaninha do presidente que, quando pressionada, traga mais voluntários para dedicarem seus livres arbítrios à causa nacional.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Duas pessoas morrem atingidas por raios em Brasília

Brasilia BNeT Server.

*DeUs_Do_CeU has logged in

DeUs_Do_CeU: Iai galeara! Hj eu to com tudo!

*DeUs_Do_CeU has cast Thunderstorm.

** Normal Citizen was killed by DeUs_Do_CeU.
** Working Guy was anihilated by DeUs_Do_CeU.

DOUBLE KILL!

DeUs_Do_CeU: lvl up! kkkkk


******

Do céu,
todos sabem,
Raios caem
E guturais que gritam DOUBLE KILL.

quarta-feira, 4 de março de 2009

J' Accuse!


Contar-lhes-ei um caso de anti-semitismo que precede um pouco o nazismo. Ocorre acerca de um oficial militar francês chamado Alfred Dreyfus, promissor em sua carreira, graduado na École Polytechnique e na École Supérieure de Guerre. Tinha acesso aos lucros de uma fábrica de produtos têxteis cujo sucesso crescia bastante, parte de sua família era germânica e esta decidiu nacionalizar-se como francesa após a guerra franco-prussiana. Vivera em Paris a partir dos 12 anos. Mas, apesar de tal vida, Dreyfus tinha algo que chegaria a causar um escândalo político absurdo. Era judeu.

Na França, durante a terceira República Francesa, campanhas políticas embasadas em um nacionalismo francês exacerbado tinham algumas idéias anti-semitas e idealizavam a formação de uma unida França católica. Nesse contexto, em 15 de outubro de 1894, Dreyfus é preso sob a acusação de ter entregue informações aos alemães pela embaixada alemã em Paris. A prova, de acordo com o julgamento, estava na carta achada na cesta de lixo do adido militar alemão da embaixada. Condenado como traidor, Dreyfus é mandado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, localizado na costa da Guiana Francesa.

Eis a verdade. A carta fora escrita por um oficial chamado Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, que, de fato, estava entregando informações importantes aos alemães sobre a artilharia do exército francês. Sua letra era praticamente ilegível e possuía inúmeros erros de gramática, o que tornava suspeito a condenação de um oficial como Dreyfus que escrevia tão bem. Dada essa e outras evidências, um segundo julgamento foi realizado mas, mesmo assim, Dreyfus continou a ser um presidiário.

Ocorre, a partir de então, o estopim para um escândalo político. Tornado o caso conhecido popularmente através da carta aberta, intitulada J'accuse!, ao Presidente da República Félix Faure , a França foi dividida em aqueles que apoiavam a libertação de Dreyfus (os dreyfusards), incluindo entre estes Émile Zola (personagem importante do Naturalismo na França), o qual expôs o caso ao público; e aqueles que exigiam a continuação de Dreyfus na Ilha do Diabo, formado por uma camada popular aderente ao anti-semitismo e à política de uma nação católica. Algumas ruas tiveram, como paisagem, verdadeiros pogroms.

Em 1906 foi feita uma revisão do caso e Dreyfus finalmente adquire sua liberdade para, em 1907, pedir demissão. Participou ainda na primeira Guerra Mundial e morreu em 1935. Posteriormente, em uma evidência publicada por um historiador militar francês chamado Jean Doise, aceitou-se como possibilidade o fato de que a 'contra inteligência' militar francesa havia utilizado Dreyfus como cobaia para enganar a espionagem alemã. Zola morrera, desde 1902, por razões misteriosas, encontrado asfixiado em seu apartamento. Charles Ferdinand instalara-se, a partir de 1903, na Inglaterra, desfrutando da boa vida enquanto contemplava e imaginava sua participação no processo. Charles fora anti-dreyfusard até o fim.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Filmes pela web afora

Saudações.

Há muito tento juntar coragem para realizar um post com indicações de filmes, links, locais para fuçar, um acervo de .torrent e outras algunas cositas más, porém nem sempre tenho tempo de sair catalogando, organizando e disponibilizando tudo que ando baixando ou que tenho vontade de baixar, e, portanto, vou deixar para breve. Entretanto, gostaria de indicar um endereço que pode servir de consolo aos perdidos na área de download de filmes. Feel the Movies. Aos que tiverem interesse, está disponível também um local para pedidos.
Enjoy!

PS. Fica aqui a promessa para um post com o tema, já que aos neuróticos com pixels fora do lugar, rmvb não agrada muito.

Curto intervalo de felicidade

Para os bons seguidores de Murphy: hoje de manhã, eu acordei, levantei e fui tomar café. Satisfeito por ser sábado, passava tranqüilamente manteiga na minha cream cracker, e por uma fração de segundo eu a deixo cair, mas retomo no mesmo intante, e penso comigo mesmo, "haha! murphy não me pegou hoje!", mas como toda boa ironia, antes da maldita bolacha chegar a minha boca, eu tenho de levantar e ir ao banheiro para lavar minha perna... Porra! manteiga é difícil de tirar!

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Globalização


- Rapaz, o negócio tá feio.

- Como assim?

- Tem gente fazendo queijo francês no sertão brasileiro.

- Sério?

- Pois é. Já ouvi de um que pra viver tá produzindo mel na Nova Zelândia.

- Não brinca!

- Sei de um japonês que fala alemão, de um suíço que só come chocolate feito no Marrocos. Já vi um coreano que é especialista em vodca e um finlandês que mora no deserto.

- Nossa, é mesmo?

- Pois é.

- Bem, e a família, como vai?

- Ah, com eles vai tudo bem. Enquanto estou aqui, eles tão na Tailândia. Acredita que outro dia tive de dar uma bronca no meu pirralho em cantonês?

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Paradoxo do bom sono

Que sono. Há anos que não durmo. Dormir, de repor as energias, renovar-se - preciso conferir se ainda lembro do significado. Alcançando o arquivo de minhas memórias relativas ao fato de dormir, para mim, mais luxo que necessidade ou hábito, lembro-me de que não havia melhor lugar no mundo que um colo aquecido pela paixão movendo o sangue. Não recordo a última vez que sonhei; gostaria de fazê-lo, mas não vejo como. Dadas as minhas condições, estar cercado de ligas gélidas de metal, o melhor que poderia fazer seria procurar um colo desses no sonho. Como, porém, sonhar, se não terei sono? Como ter o sono se não poderei sonhar com o que me levaria a ele? Fico, como ser imortal, na impaciência das Eras a refletir sobre o sono que tenho e o sonho que não terei.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Dislexia

Toda vez que eu ia escrever "mão" eu escrevia "mãe" sem querer, e sempre acabava falando de "mãe esquerda" e "mãe direita". Os médicos me disseram que eu tinha dislexia, e tentaram trabalhar nesse sentido por um tempo. Depois descobriram que eu não estava errado, porque minha mãe era esquizofrênica.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Liqüida DF

- Já viu? Brasília toda tá em promoção.
- É mesmo?
- Ontem mesmo eu comprei dois cargos.
- A quanto tá saindo o deputado?
- Olha, nas lojas eu não sei, mas você pode comprar a granel; lá na rodoviária, um saco sai por 5, e, se pechinchar, dois por 8.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pranteando


Atentei à voz dentro de mim a dizer: “Chora, desgraçado!”. Quis obedecer. Pressionei os olhos com força como para espremer uma lágrima que quisesse sair. Abri-os, e eles me responderam: “daqui a pouco vem”. Cuidei do que faltava: um colo quente, uma voz macia – sempre o que o pranto pede é fugir da solidão. Faltava só esperar.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Claustrofobia


Um dia, como de repente, deu-se conta de que tinha um campo de visão que abrangia 30 graus, assim estipulou. Pensou que, perante os trezentos e sessenta, poderia aumentar em 330º seu campo de visão, o que, ora, parecia, além de lógico, ótimo. Apenas em se questionar isso, notou ligeira diferença. Sorriu, meio sem acreditar. Assistindo o noticiário, duvidou de uma notícia que parecia absurda demais. Na manhã do dia seguinte, lembrou a si que não era preciso seguir o mesmo procedimento rotineiro: tomou café sem açúcar. Por que com açúcar? Não via resposta. Discordou dos procedimentos no trabalho – tudo aquilo poderia ser feito de outro modo. Ouviu um boato na hora do almoço e desacreditou. Quando notou significativo aumento da área ao alcance da vista, assimilou os fatos: era disso que falavam ao dizer “expandir os horizontes”; questionar o pré-estabelecido. E de fato via mais, e melhor – era conveniente trabalhar sem virar o rosto para olhar o relógio na parede um pouco à esquerda. Estava gostando. Chegou em casa, procurou aquele livro de contos enorme e velho, abriu-o e leu algo de Lucas: quem me prova que foi assim mesmo? A leitura proporcionou uma série de dúvidas, que procurou sanar nos livros. Passou a freqüentar bibliotecas, livrarias, sebos. Lia para ver que não era o único a duvidar, e como os outros faziam isso. A felicidade era iminente e os questionamentos, incontáveis. Devorou toda sorte de cultura... para vomitar tudo depois, mastigado e com aquele sabor acre. Aprendeu, ou melhor, quis aprender, mas se deparava cada vez mais com o desconhecido e o incerto. Lia mais, e terminava apreendendo mais interrogações. Haveria quem lhe dissesse ser a pergunta mais importante que a resposta; já tinha visão completa nessa altura, enxergando os 360 graus que desejava, o que está à frente e atrás, embora reconhecesse que frente e trás existissem unicamente com finalidades de facilitar a compreensão. Comparava o que antes via, clara diferenciação entre chão e horizonte, e agora, como se estivesse no centro de uma esfera; podia ver tudo, não era, porém, suficiente. Se visse mais, cria satisfazer às perguntas. Assim mergulhou e foi até onde não pôde. Sua visão transcendeu aos 360º, e passou a questionar a linha que separa seu chão e o horizonte; era tudo muito simples. A linha recuava a cada nova pergunta. Mas era tudo tão óbvio! Que se pode provar? Que se pode dizer? Novas dimensões, mais espaço – menos espaço ao seu redor. Tudo traria uma interrogação em sua semente, bastava achá-la e reduzir a coisa germinada a espaço vazio a ser tragado pelo que julgava ser um desconhecimento esclarecido, que é ser tragado a admitir o não-saber depois de buscar o saber. Assim, quase tudo foi engolido. Refém, numa ilha envolta por nada, da própria pretensão de liberdade; enclausurado pelo horizonte da dúvida expandindo ao infinito, prestes a engolir seu criador. Imprensado nas paredes – por sinal, muito sólidas – da incerteza, cometeu a ironia de perguntar se antigamente realmente via só os trinta graus que calculara.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Do saber e sentir

Não sei bem o que é família. Sangue define parentesco. Um familiar é mais que um ser invocado a fazer companhia. Também não é essa a questão. O que é a família não cabe aqui. Mas não consigo definir a amizade. Dei um abraço ao meu amigo. Olhei-o e disse: “tu és para mim um amigo”. Ele me perguntou o que isto seria. Pensei por segundos e respondi-lhe não saber. Quando estava por ir, dei por mim que não era necessário ter pensado. Corri a alcançá-lo, abracei-o novamente e falei-lhe: “não há como saber o que é um amigo”. Sabendo nós que a verdade e o fato passam por um processo de crença interna que emerge do sentir, completei: “mas sinto que és um, e, portanto, o és. Sê feliz por isso”.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Deus, hometown: Antwerp

Trechos retirados da infalível Wikipedia provam a veia musical divina e sua residência atual:


* Deus produced a soundtrack for the 2003 movie Resistance directed by Todd Komarnicki, but it was turned down;

*So far, Deus have released five studio albums;

*Deus performed that day as part of the 0110 Festival for Tolerance;

*In 2007 Deus built their own studio;

e, finalmente e mais importante,

*The final concert of the 2005/2006 Pocket Revolution tour took place on October 1st in Deus's hometown of Antwerp, Belgium.

Já descobrimos onde ele mora. Hora de ir lá. Prestar contas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Let's talk about PCs


Um indivíduo chamado Gordon Moore publicou um artigo em 1965, que fundamentou o que viria a ser chamada de Lei de Moore. Esta lei diz que a cada 18 meses a potência dos chips dobra, enquanto seu preço permanece inalterado. Em 1968, Moore e um outro indivíduo chamado Bob Noyce criaram uma empresa chamada Intel.

Até hoje a Lei de Moore continua válida. E a precisão que ela atinge é decerto impressionante. É possível comprar-se um Desktop ou Notebook de razoável potência em qualquer loja de eletrodomésticos e/ou eletro-eletrônicos hoje em dia, por um preço relativamente acessível. O intrigante é que se você adquirir um destes produtos em janeiro, e no mesmo mês do ano seguinte for na mesma loja onde comprou o seu computador, verá que eles estarão oferecendo uma máquina com duas ou três vezes mais potência por um preço semelhante.

Quando os computadores pessoais começaram a se popularizar no ambiente familiar(por volta dos anos 90), saindo dos escritórios e empresas, e tornando-se centros de entretenimento graças ao advento da internet, que permitia a troca de mensagens instantânea e o download de vídeos, músicas e jogos (embora tudo isto estivesse apenas começando), as máquinas eram caras e costumavam ser mantidas por anos a fio pelos donos, dado que realizar um up-grade significativo nos recursos destas custava mais que as próprias . Mas, graças a Lei de Moore, a potência dos componentes eletrônicos aumentou exponencialmente, e desde o início do século XXI estamos encarando uma nova situação.

Agora, as máquinas tornam-se obsoletas em no máximo alguns meses. Há 10 anos, era difícil imaginar que um usuário popular poderia adquirir um HD externo para seu pc com 1 Terabyte de capacidade. Sendo realista, a velocidade da troca de informações nas redes há 10 anos tornava o espaço de tal produto excessivo para as necessidades do usuário.

Tudo isso mostra que estamos, agora, após o computador ter se tornado popular no ambiente doméstico, servindo como ferramenta útil de lazer, e não apenas de trabalho, presenciando o início de um processo de banalização tecnológica, onde a evolução pode ultrapassar a necessidade da maioria dos usuários.

Como exemplo prático, basta apenas imaginar que se você possui uma maçã, e dobra sua quantidade, você fica com duas. Mas se você seguir essa regra de dobrar as maçãs, gerando então o chamado aumento exponencial, você teria quatro, oito, dezesseis, trinta e duas, e assim por diante. A questão, em termos de tecnologia, é visualizar quando esse aumento vai se tornar desimportante para o consumidor. Para o usuário comum, o tipo de usuário majoritário na população, que deseja apenas checar e-mails, ver fotos, assistir vídeos e, eventualmente, jogar, o já referido e acessível espaço de 1 Terabyte é muito mais do que o suficiente. Daqui a dez ou vinte anos vamos estar lidando com uma escala de tamanho, em termos de armazenamento, muito maior. E quando esta escala, já imensa, aumentar, ela vai dobrar seu poderio, já seguindo a citada Lei de Moore.

Em suma, se você pensar que o valor das máquinas a princípio era caro demais para o uso doméstico,logo, elas estavam limitadas ao ambiente empresarial, servindo como ferramentas de trabalho, o ponto de equilíbrio foi encontrado quando o preço destas tornou-se acessível e sua potência razoável para o consumidor genérico. Foi aí que o computador tornou-se popular como meio de lazer.

Agora, temos um ponto onde o preço permanece estático, mas a potência continua crescendo, fazendo com que mais uma vez a pesquisa para desenvolver novos recursos nessa área se distancie do usuário comum, e volte ao ambiente empresarial, que necessita destes recursos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Curta nota do hábito de falar mal

É dito que dois vilarejos num lugar esquecido do mundo rivalizavam; como era de se esperar, um queria superar o outro, competição que sempre se dava em diferentes planos, de modo que um superava o outro em certa área e o contrário ocorria em outra área, gerando um certo equilíbrio. Em dado momento, as famosas - e desconhecidas, por definição - más línguas alimentaram palavras que foram ficando grandes demais. Não foi preciso tanto tempo - nem se poderia mesmo precisar - para que o desafeto tomasse outros rumos, perspassando os medos humanos e tomando banhos de inveja. Faltou quem dissesse "agora é pessoal", mas estava implícito. Acontece que a evolução dos fatos levou a que um vilarejo argumentasse, com todas as pedras, "Aí do lado só tem ladrão". A solução também não tardou a vir. Os "daí do lado" passaram a ir lá e assaltar. Puro espírito esportivo.

sábado, 31 de janeiro de 2009

Música pelo mundo



Cansado de ouvir as mesmas coisas há 20 anos? Cansados das mesmas décadas, daquele CD que nunca mudou, da voz dos Beatles ser a mesma? Venho aqui propor algo novo, a tentar agradar a pelo menos alguns estilos. Num modelo em que eu recomendo tudo e não dou link pra nada, farei várias recomendações ao mesmo tempo, seguindo o critério da localização geográfica; são as músicas do mundo pelo mundo afora. Para aqueles que arriscarem na palavra deste escritor crápula, recomendo peregrinar por comunidades no Orkut, no 4shared , em blogs mais úteis que este (há alguns no menu da direita que podem levar a vários outros), no Soulseek, Emule, Utorrent, lasf.fm, sites russo, HD do amigo esquisitão... Algumas banda trarão verdadeiro desafio na busca por sequer possuírem registro no Wikipedia, e aqueles que se dizem ecléticos devem ir atrás de tudo. No texto abaixo, o nome das bandas possui, como o '4shared' em vermelho aí em cima, um hiperlink: basta clicar e consultar mais informações.
Vamos começar nossa viagem?

Primeira parada, Rússia. Primeira recomendação, Aria. É uma banda de heavy metal russo, conhecida como o Iron Maiden russo por relembrar os sons da New Wave of British Heavy Metal, e está em atividade desde 1985. Em 2002, porém, vocal, guitarra e bateria saem da banda e fundam a Kipelov, também de heavy metal, com um som que me soa muito mais consistente e pesado. (Ver imagem abaixo, capa do cd de 2005).

Ainda na Rússia, temos Billy's band, um jazz russo relativamente novo, com influência do som local, vocais guturais, cujo único CD que consegui baixar abre com a música "No Title". Mas, não, a maior parte das músicas é cantada em russo mesmo. Vale a pena conhecer.

Saindo da Rússia, na Europa eu começo com Andreas Vollenweider, da Suíça, um músico new age. No CD Kryptos (imagem abaixo), a Concert for Harp & Orchestra já seria motivo suficiente pra conhecer a obra dele.
Há também Esperanto, um rock progressivo belgo-inglês'; Maxophone, da Itália, que lançou apenas um álbum, em 73, e Il Balleto di Bronzo , também progressivo, do mesmo país; Nektar e Focus , ambos da Alemanha - com atenção especial para Focus. Otyg , da Suécia, chama a atenção pelo que considero fidelidade ao produzir folk music e viking metal.

Na França - me deparo com a dificuldade de encontrar bons rocks franceses -, recomendaria, entretanto, Louise Attaque , que voltou a lançar cds em 2005, com À plus tard Crocodille (um trocadilho com a expressão inglesa "See ya later alligator"), a fazer um folk rock bem inusitado. Noir Désir e Les Ogres de Barback (artigo em francês) também entram na minha lista de recomendações. Nouvelle Vague para quem gosta de cinema (hehe, nevermind) e músicas agradáveis e Yann Tiersen para um avant-garde com boas perfomances de violino. (E Jane Birkin , que é meio inglesa, para músicas lentas e mais... sensuais, no seu cd de 1969 com Serge Gainsbourg).

Fechemos hoje com os Estados Unidos da América. Não que não ouçamos músicas de lá o tempo todo; quero apenas dizer que também há música boa lá. Quem nunca ouviu Morphine? A banda de formação baixo-saxofone-bateria traz sonoridades muito agradáveis; para os que se interessarem, recomendo também buscar Bourbon Princess e Twinemen. Falar de sax me lembra jazz que me lembra David Sanborn, e me faz puxar outros nomes para o estilo: The Manhattan Transfer , grupo que privilegia os coros, Ron Carter, e McCoy Tyner, um pianista que chegou a tocar com John Coltrane - recomendo buscar o cd de 1999, "... and the Latin All-Stars". Há a Hypnotic Brass Ensemble, um grupo de metais de Chicago e Pete Seeger um - pasmem - comunista americano - nada mais justo, na verdade. Ele canta músicas com a temática vermelha, tocando banjo ou violão e ativo (politicamente inclusive) desde 1940. Espero ter sido útil.

(o nome da banda é sugestivo; o álbum da imagem chama-se Orange)

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Alter-ego


Não importa a quantas ande a gramática; vou te chamar pelas mesmas pessoas – retas, nós não funcionamos com oblíquos. Antes de tudo, “você”, terceira pessoa. Singular para mim, de forma a ser tratada diretamente, próxima. Depois é o tu, a quem me dirijo em segunda pessoa – de Eu para Tu, perto assim. E, quando me perguntam, respondo que é Ela. Se discutimos, Nós. Mas, na sacra intimidade, para chamar, a forma mais sincera e absoluta de todas, Eu.


domingo, 25 de janeiro de 2009

Ducação

- Opa, você que é o professor Bartolomeu?
- Sou, mas meus amigos me chamam de Bartô. Satisfação. Tu que é o... o...
- ... Bruno, sou eu. Beleza?
- Tranqüilo. Você dá aula faz tempo?
- Tem uns anos. Você tá começando agora?
- Tou, tou. Comprei faz pouco tempo.
- Já estudou alguma coisa sobre?
- Não, ainda não.
- Você dá aula na escola da universidade?
- Nunca, não.
- Eu queria fazer lá, mas não tinha professor. Disseram que eu tinha que procurar particular.
- É, rapaz, o mercado tá retraindo, o governo não quer mais investir.
- Essa história de educação privada é um problema...
- ... O governo abandona a área pros empresários cuidarem, investe às vezes no mais comum, e aí vem o setor privado e faz a mesma coisa.
- E aí a gente, que tá fora, fica fora.
- O setor privado devia se manter fora dos assuntos importantes.
- O problema maior é que a educação passou a ser comercial...
- ... Tipo os colégios, que atraem por índice de aprovação, e não por qualidade de ensino. É quando a coisa deixa de prestar.
- Educação devia ser pública.
- É, ninguém devia ter que pagar.
- Mas, ei, e nossas aulas, como vão ser?
- É só dizer o dia. Pra você eu faço 25 a hora-aula em até 5 vezes.