sábado, 29 de março de 2008

Ciberespaço e liberdade na escrita


Philipe Moura



O aparecimento da internet e de ferramentas de comunicação instantânea em seu seio são uma revolução em vários aspectos - alguns anos atrás, ninguém pensaria em tanta facilidade para estabelecer um diálogo com alguém que você sequer viu e está do outro lado do país. Também podemos considerar carbonária uma mudança que vem se tornando mais comum, um grande reforço aos elementos retóricos, antes inimaginável: o uso da estruturação frasal ideológica.


O que poderíamos entender como estruturação frasal? Adotemos, para o seguimento deste raciocínio, a estrutura frasal compreendendo fatores como iniciar frases com letra maíuscula, pontuação regular, palavras de uma mesma frase separadas apenas por um espaço, separação silábica se necessário. Não pretendo discutir o mérito de questões como concordância, regência e ortografia - deixarei tal ponto para os estruturalistas assumidos.


Hoje vemos que a estruturação frasal nesses instrumentos de comunicação não segue esses preceitos; seria tolice, por outro lado, crermos, partindo da faculdade da razão, que não há lógica na maneira como as sentenças são sistematizadas. Há lógica - mas a questão torna-se tão subjetiva quanto é subjetivo e discutível e imprevisível a lógica do pensamento individual, mesmo se considerássemos indivíduos ideologicamente parecidos pertencentes a um mesmo grupo, como estudantes de uma mesma sala, amigos ou familiares próximos. Da mesma forma que cada um procura pensar diferente, a tendência é que, dando-lhes liberdade, cada um tenda a escrever diferente.


Sendo o que foi posto acima verdadeiro, podemos observar nessa tendência uma face um tanto quanto interessante para estudo, mas, mais que isso, rica; se a tendência é que a frase - e por "frase", neste caso, entendamos a manifestação gráfica, já que estamos lidando com escrita, de uma idéia, que necessariamente possui sentido completo, é auto-suficiente - seja estruturada conforme a lógica individual, poderíamos dizer que esta estruturação frasal obedeceria a uma concordância ideológica com as nossas idéias, nossa forma de sistematizar/construir o pensamento antes de expô-lo, e não necessariamente concordância com as normas estabelecidos pela ABTN ou pela gramática ortodoxa.


Uma frase como a que fiz no parágrafo de cima (perceba que só coloquei um ponto nele) num meio de comunicação como o Msn seria quase impensável. A tendência seria fragmentá-la em várias idéias, ou separando pedaços da frase em linhas diferentes com o intuito de valorizar uma construção ou mesmo palavra dentro de cada parte da unidade frasal. De um jeito, de outro ou ainda de um terceiro, a forma de estruturar dependeria tão somente da nossa maneira de enxergar e preferir a construção da idéia. O que vale para a comunicação (e aqui assumimos uma postura preferencialmente funcionalista da gramática) é que ela seja alcançada, independente de que, para isto, eu tenha que me valer de elementos que escapam à normatividade, o que também explicaria o uso de imagens e/ou emoticons. O fenômeno estudado seria comparável à divisão de um texto em parágrafos, com a diferença de que comportaria, no referido caso, fragmentos de idéias com a intenção de ganharem maior relevância, ao invés de serem idéias completas, defendidas e fechadas.


É importante ressaltar que não é a primeira vez que surge um movimento que assuma a estruturação ideológica de frases como mandamento. Veja o caso abaixo:



Erro de português


Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.



O poema, de autoria de Oswald de Andrade, exemplifica bem a idéia que sustentamos. A poesia, principalmente a modernista, adota dois princípios similares: a negação da gramática estruturalista e a forma de criar os versos sendo completamente livre. Da maneira clássica, vemos somente três frases no poema: "Quando o português chegou, debaixo de uma bruta chuva, vestiu o índio.", "Que pena!" e "Fosse uma manhã de sol, o índio tinha despido o português". Percebe-se que o espaçamento de uma linha faz com que não se torne necessária a colocação de vírgulas, e, em outros casos, separa partes da frase que não necessariamente seriam divididas por pontuação. Além disso, vemos que o primeiro verso do poema não possui sentido completo, não constituindo, portanto, uma frase sozinho: precisa dos dois versos seguintes. Para o estudo literário, diz-se que quando a idéia de um verso está incompleta e continua no verso seguinte é constituído um cavalgamento. Não estamos defendendo que a estruturação frasal no ciberespaço siga o princípio do cavalgamento - até porque a linguagem utilizada neste não se utilize da função poética da língua, apenas que o processo é semelhante - e não é radicalmente inovador. Defendemos, entretanto, que o processo, antes mais restrito ao uso poético, já é observável no meio informal com bastante freqüência.


E por que, enfim, essa mudança mostra-se como uma novo aspecto da retórica? Não é difícil de entender: a partir do momento em que somos livres para escrever e estruturamos o pensamento, este é feito da maneira que nos é mais conveniente. Lidamos com a idéia da maneira como realmente gostaríamos de lidar: não é presa à necessidade de falar continuamente como no discurso oral, nem às necessidades normativa do discurso escrito regular. Isso faz com que vá se tornando mais fácil para nós trabalhar a idéia; transmiti-la torna-se também algo bem menos impedido, já que somos livres para enfatizar idéias e aproximar o interlocutor da sistematização do nosso pensamento quando deixamos que ele entre em contato mais direto com a nossa mais sincera forma de estruturar o pensamento numa frase - sem, novamente, esta estar presa aos requerimentos do discurso oral e do escrito normativo. A utilização de elementos multimídia como sons e imagens (emoticons), também disponíveis neste meio e compreendidos pelas possibilidades de estruturação, pode formalizar ou informalizar o discurso, dependendo da essência do recurso utilizado; um discurso agressivo pode parecer mais brando, se for nossa intenção que pareça, se, ao final dele, acrescentarmos alguma imagem que deixe transparecer leveza ou se façamos com que o interlocutor releve algumas palavras e irreleve outras.


Conclui-se, pois, a existência deste processo de (des)estruturação frasal, refletindo a tendência da liberdade na escrita no meio do ciberespaço, como sendo crescentemente flagrante. Como pontos positivos, vemos que é mais um recurso da retórica que passa a existir e o melhor relacionamento do escritor com seu próprio sistema lógico; como negativos, pode-se alegar que a não-uniformidade da estruturação frasal vá, no futuro, impedir a boa compreensão das idéias de um por outro, e que, portanto, é necessário que exista um sistema que delineie a construção de idéias. E o caro leitor, como se posiciona?

quinta-feira, 27 de março de 2008

"Do pó vinhemos, do/ao pó voltaremos"

Se existisse um mundo metafísico, depois da vida terrena, onde os homens chegariam após ter alcançado sua complementação - a morte -, seria interessante, quem sabe até mesmo penoso (ao olhar humano) ver a decepção e a tristeza estampada nos rostos dos mesmos, ao saber que todas aquelas promessas foram mentiras absurdas e que esse "mundo do além" foi apenas uma forma de se iludirem durante todo o tempo e suprirem suas fraquezas mais incoscientes, dentre elas a necessidade de se prolongar em vida (uma forma de exercer seu narcisismo). Depois da tristeza primeira, cairiam lágrimas de tristeza misturadas à decepção de não encontrar tudo aquilo que sempre foram induzidos a acreditar (e depois de algum tempo, acreditavam independentemente - como já foi dito - para se satisfazerem); Após isso, a decepção iria cedendo lugar à revolta ou ao conformismo, dependendo da natureza do ser terreno, e então poderiam surgir grupos radicais e anárquicos ou pacifistas e liberais. Do segundo grupo nasceriam possíveis pregadores mais engajados, enquanto do primeiro, certamente surgiriam líderes com reinvidicações e motivos "justos" para protestarem (mais tarde, em nome de algo, ou Algo), e levarem seus "lacaios" à prosperidade.

Após tempos indeterminados, o mesmo mundo estaria à beira de um novo colapso, como a antiga vida terrrena. Alguns explicariam o fato de acordo com as pregações daquele grupo, que não foi devidamente escutado. Outros diriam que hereges e traidores dificultaram o objetivo (qual?). No final das contas, depois de algum tempo (como costuma acontecer aqui na Terra, orgulho e honra se misturariam), gerações entrariam em conflito e voltariam a viver no mesmo mundo mórbido de antes, sem perceberem. Suicidios seriam cometidos aos montes, na tentativa de se libertar desse mundo (com esperança em um outro melhor), mitos seriam criados para suprir as mesmas necessidades que se repetiriam, e esperariam mais épocas para poderem transcender a um admirável mundo novo, onde reinaria as profecias, a paz, "a igualdade, liberdade, fraternidade", como pregou alguma revolução aqui na Terra.

"Tudo o que era estável e sólido desmancha no ar; tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados a encarar com olhos desiludidos seu lugar no mundo e suas relações recíprocas" (Marx).

quarta-feira, 26 de março de 2008

Che Guevara: A consciência do homem no centro da transformação da sociedade

“A revolução se faz através do homem, mas o homem deve forjar, dia-a-dia, seu espírito revolucionário.” (Che Guevara, “O socialismo e o homem em Cuba”.)
Este artigo é uma contribuição ao estudo do pensamento de Che Guevara acerca do papel do homem na transformação histórica. Seus escritos salientam que a construção do socialismo não pode avançar somente pelas transformações no modo de produção, na base econômica. E ressaltam: “Para construir o comunismo, simultaneamente com a base material tem que se fazer o homem novo” (GUEVARA, 2005: 51). Sua concepção elucida, sobretudo, o papel do homem como sujeito da transformação histórica, entendido como ser social que transforma a si mesmo concomitantemente com a transformação da sociedade.
A temática do “homem novo” é discutida por Che Guevara em vários artigos e discursos, mas é especialmente num texto intitulado “O socialismo e o homem em Cuba” que as premissas fundamentais de sua concepção sobre essa temática aparecem de maneira mais elaborada:
“Acredito que o mais simples é reconhecer sua qualidade de não-feito, de produto não-acabado. As taras do passado são transmitidas, no presente, na consciência individual e há necessidade de se fazer um trabalho contínuo para erradicá-las. (…) É necessário que se desenvolva uma consciência na qual os valores adquiram categorias novas. A sociedade em seu conjunto deve transformar-se em uma gigantesca escola.” (GUEVARA, 2005: 50-51)
Na passagem citada acima, Che elucidou, em princípio, três elementos centrais. Primeiro, ele afirma que a construção do “homem novo” não confere um processo finalizado – nem poderia, já que a construção do novo homem se dá concomitantemente às transformações do modo de produção. Ou seja, junto com a nova base econômica, com o desenvolvimento das forças produtivas e as novas relações de produção, deve-se ir desenvolvendo a consciência de um homem comunista.
Segundo, seu pensamento elucida que a transição é marcada pelo antagonismo e pelo conflito entre as novas relações sociais que subsistem ao mesmo tempo com as antigas taras do capitalismo. No socialismo, deve-se suprir o legado da velha sociedade, negá-la e superá-la. Os mais terríveis adversários, para a conscientização das massas, são a ambição demasiada e os hábitos egoístas do capitalismo; a força do costume individualista burguês, que busca satisfazer apenas interesses individuais. Esse legado é o maior inimigo da nova sociedade, um gigantesco oponente no processo de construção do “homem novo” e da sociedade socialista. Che explica esse processo, mediante o exemplo de uma pessoa que se recupera de uma enfermidade:
“É como um mal que tivera, inconscientemente, uma pessoa. Quando acaba o mal, o cérebro recupera a claridade mental, mas os membros não coordenam bem seus movimentos. Nos primeiros dias, após sair do leito, o andar é inseguro; e, pouco a pouco, vai adquirindo a nova segurança. É neste caminho que estamos.” (GUEVARA, 2005: 22).
Nesse trecho, Che Guevara diz que a estrutura social de um regime em transição possui diversos defeitos e não está inteiramente liberta das seqüelas herdadas da antiga sociedade. Essa fase de transição é, em sua essência, contraditória, pois traz consigo o conflito direto entre o novo e o velho que permanece.
Quanto à terceira questão, Guevara ressalta a necessidade de trabalhar a consciência de cada indivíduo para que adquira novos hábitos e valores. Sua concepção atenta de que o homem deve sobrepujar suas ambições individualistas burguesas em favor de interesses coletivos que representem verdadeiramente todo um grupo e não interesses particulares.
“Nós não podemos estimular e sequer permitir atitudes egoístas nos homens, se não quisermos que os homens sigam o instinto do egoísmo, da individualidade. (…) O conceito de uma sociedade superior pressupõe um homem desprovido desses sentimentos, um homem que tenha subjugado esses instintos.” (CASTRO, apud FERNANDES, 1979: 154).
Fidel compartilha das mesmas convicções de Che. Essa citação repousa sobre a análise da necessidade de sobrepor aos homens novos sentimentos, valores e ideais que contemplem o coletivo. Isso implica que o homem que veio de uma sociedade individualista deve alcançar um alto grau de consciência social; em outras palavras, ele deve estar impregnado de sentimentos de amizade, fraternidade, compreensão, etc. Che salienta: “Deixe-me dizer, com o risco de parecer ridículo, que o revolucionário verdadeiro está guiado por grandes sentimentos de amor. É impossível pensar num revolucionário autêntico sem esta qualidade” (GUEVARA, 2005: 62). Nesse sentido, o comunismo constitui uma sociedade de irmãos. O pensamento de Che Guevara defende o valor do humanismo, do homem que compreende e cumpre seu compromisso e dever perante a sociedade em construção e transformação.
O cubano Fernando Martinez Heredia, em sua obra Ché, el socialismo y el comunismo, afirma que: “En la concepción del Che la conciencia es la palanca fundamental, el arma para lograr que las fuerzas productivas y las relaciones de producción sociales dejen de ser medios para perpetuar la dominación, como era en el capitalismo” (HEREDIA, 1989: 70). E Luiz Bernardo Pericás, em sua tese Che Guevara e o debate econômico em Cuba, acrescenta que “O importante seria, portanto, transformar esse homem individualizado no homem socialista, que precisaria da comunidade para desenvolver sua individualidade” (PERICÁS, 2004: 170).
A concepção de Guevara retoma o pensamento de Marx, segundo o qual a consciência não é pura, mas influenciada pelo meio social, pela relação dos homens com outros homens. “A consciência é, antes de tudo, mera consciência do meio sensível mais próximo e consciência de uma interdependência limitada com as demais pessoas e coisas que estão situadas fora do indivíduo que se torna consciente” (MARX; ENGELS, 2004: 23). A consciência é, em sua origem, um produto social, nascido das relações humanas, ou seja, do seu meio sensível mais próximo. Partindo dessa afirmação exposta por Marx, Che argumenta em favor de uma transformação da consciência desse homem que vem do capitalismo, mediante a produção da vida material, por meio de suas relações sociais com outros homens, atuando em sociedade.
O homem socialista aparece, para Guevara, como uma superação dialética do homem capitalista. É a negação do homem alienado pelas relações de produção regidas pelas leis do Capital. As características desse homem estranhado foram bem-colocadas por István Mészáros: “O ‘verdadeiro homem’ – a ‘verdadeira pessoa humana’ – não existe realmente na sociedade capitalista, salvo em uma forma alienada e reificada na qual o encontramos como ‘trabalho’ e ‘capital’ (propriedade privada) opondo-se antagonicamente” (MÉZÁROS, 2006: 106).
Portanto, é importante elucidar que Guevara segue a concepção marxista que rejeita a idéia de que as características e os valores dos homens são dados, fixados pela natureza humana. Dessa maneira, “o homem não é, ele se torna” pela produção e reprodução da sua atividade material. Marx parte do pressuposto ontológico de que o homem é uma parte específica da Natureza. E, assim, a consciência do homem está em revolução constante, por meio de ações práticas que estão estreitamente ligadas à sua atividade. Cabe aqui citar, novamente, uma passagem clássica de A ideologia Alemã: “Os homens, ao desenvolverem sua produção material e relações materiais, transformam, a partir da sua realidade, também o seu pensar e os produtos do seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência” (MARX; ENGELS, 2004: 52).
É essa ação humana, do homem entendido como “ser social transformador”, que modifica as condições objetivas, que muda a realidade concreta, que muda as relações de produção e reprodução. Portanto, mediante o antagonismo existente entre a classe burguesa e proletária, as contradições das relações de produção e das forças produtivas e o malogro do Estado dominante, os homens transformam a sociedade, a base econômica e, concomitantemente, seu pensamento, suas idéias; ou seja, sua consciência também ganha nova forma.
Se o homem é sujeito da transformação histórica, a revolução proletária só pode se concretizar como um ato consciente. Essa condição parte de uma premissa fundamental do socialismo científico, exposta por Engels:
“A própria existência social do homem, que até aqui era enfrentado com algo imposto pela Natureza e a História, é, de agora em diante, obra livre sua. Os poderes objetivos e estranhos que até aqui vinham imperando na História, colocam-se sob o controle do próprio homem. Só a partir de então ele começa a traçar a sua história com plena consciência do que faz. E só daí em diante as causas sociais postas em ação por ele começam a produzir predominantemente, e cada vez em maior medida, os efeitos desejados. É o salto da humanidade do reino da necessidade para o reino da liberdade” (ENGELS, 2003: 65).
Sobre essa importante problemática em discussão, Michel Löwy acrescenta que “A especificidade histórica da revolução proletária – não como um ato único, mas como processo permanente que conduz da luta pelo poder à instauração do comunismo – é que ela é, pela primeira vez, um empreendimento humano plenamente consciente” (LÖWY, 2003: 37).
O entendimento dessa premissa é extremamente importante para a compreensão da ênfase dada por Che Guevara à construção de uma nova consciência. Assim, a construção do socialismo, negação e superação do capitalismo, só é possível por meio da atuação consciente de um “homem novo”. O homem socialista transforma a Natureza, a sociedade e a si mesmo num plano que almeja, como fim último, sua plena libertação como ser social.
Verificamos, então, que Che Guevara ressalta, em seus estudos, o papel decisivo da ação consciente e organizada do homem para o desenvolvimento do projeto socialista. Sem o “homem novo”, uma nova sociedade não pode surgir. Novas idéias e valores são fundamentais para a construção de uma nova sociedade, que somente dessa forma pode avançar no processo de emancipação do homem, e romper definitivamente as correntes da alienação.

Bibliografia

ENGELS, Friedrich. Do socialismo utópico ao socialismo científico. São Paulo: Moraes, 2003.
FERNANDES, Florestan. Da guerrilha ao socialismo: A Revolução Cubana. São Paulo: Tao, 1979.
GUEVARA, Che. Socialismo e juventude. São Paulo: Anita Garibaldi, 2005.
HEREDIA, Fernando Martinez. Ché, el socialismo y el comunismo. Casa de las Américas: Habana, 1989.
LÖWY, Michel. O pensamento de Che Guevara. 5ª ed. São Paulo: Expressão Popular, 2003.
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martin Claret, 2004.
MARX, Karl. O dezoito brumário de Louis Bonaparte. 2ª ed. São Paulo: Centauro, 2000.
MÉSZÁROS, István. A teoria da alienação em Marx. São Paulo: Boitempo, 2006.
PERICÁS, Luiz Bernardo. Che Guevara e o debate econômico em Cuba. São Paulo: Xamã, 2004.
Fonte: http://www.espacoacademico.com.br/066/66prado.htm
Esta página faz parte do sítio Pausa para a Filosofia.
Trata-se de um texto dirigido a Carlos Guijano, do semanário Marcha, Montevidéu, Uruguai, 12 de março de 1965.
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“Na visão de Marx, o homem não é nem ‘humano’, nem ‘natural’ apenas, mas ambas as coisas: isto é, ‘humanamente natural’ e ‘naturalmente humano’, ao mesmo tempo. Ou, ainda, num nível mais elevado de abstração, ‘específico’ e ‘universal’ não são opostos entre si, mas constituem uma unidade dialética. Ou seja, o homem é o ‘ser universal da Natureza’ somente porque ele é o ‘ser específico da Natureza, cuja especificidade singular consiste precisamente em sua universalidade singular, em oposição à parcialidade limitada de todos os outros seres da natureza’. (…) O ‘ser-por-si-mesmo da natureza do homem’ marxista (…) não é, por natureza, nem bom, nem mau; nem benevolente, nem malevolente; nem altruísta nem egoísta; nem sublime, nem bestial etc.; mas, simplesmente, um ser natural cujo atributo é a ‘automediação’. Isso significa que ele pode fazer com que ele mesmo se torne o que é em qualquer momento dado – de acordo com as circunstâncias predominantes” (MÉSZÁROS, 2006: 19; 151).
Sobre essa questão, nunca é demais citar Marx, em O dezoito brumário de Louis Bonaparte: “Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstância de sua escolha, mas sob aquelas circunstâncias com que defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado” (MARX, 2000: 15).

Autor: Carlos Batista Prado
Graduado em História pela Universidade Católica Dom Bosco.

terça-feira, 25 de março de 2008

Na reunião de cúpula da transnacional


- ... right, próximo assunto da pauta.

- Próximo assunto...

- Qual é o próximo assunto?

- Alguém olha aí, por favor.

- Cadê o papel?

- Ih, virou avião.

- Lembrei.

- Ótimo -- go ahead.

- O próximo assunto em pauta é "novas aquisições".

- Alguma sugestão?

- Eu tenho. Eu mandei a secretária ver os catálogos de tecnologia que chegavam e saiu uma coisa que nós precisamos ter na nossa empresa. É essencial.

- Fale, fale! What is it?

- Carrinhos de compra automatizados.

- AWESOME, MAN! ... wait a minute. Como funciona?

- São carrinhos como aqueles de supermercado, sendo que são elétricos! A gente põe as compras nele e ele pesa, mede, conta, sabe procurar produtos nas prateleiras...

- É... Genial!

- Precisamos de um!

- Não, precisamos de mil!

- Dez mil!

- Todos de acordo?

- SIM!

- ... mas.... chefe? Porque... a gente vai comprar carrinhos se... se a gente nem tem supermercados?

- Que diferença faz? We buy it on e-bay!



(texto concebido espontaneamente em conversa com Kondlike com mais de um ano de idade que só ganhou publicação agora; é um filho que passou dos nove meses - tive de abortar)

segunda-feira, 24 de março de 2008

Crônica pintada de preto

Eu sou o pedestre e o sinal está verde. Só vem um carro ao longe; minha necessidade de há tanto de atravessar a faixa será suprida. Eu sou a vontade de atravessar a faixa. Com a passada inicial, deslancho em minha jornada. Foi uma boa passada; nesse ritmo, chegarei ao fim em tempo hábil e seguro. Agora, porém, não sou mais o pedestre ou a vontade - agora eu sou a travessia, e não quero mais ser o que fui. Lentamente caminho: "por que acabar com o que sou agora? O que me faria querer mudar?" O carro vem vindo. "E por que me preocupo?".
Parei. O dia estava claro, o céu estava muito azul. O carro que vinha eu via bem: era vermelho.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Uma Breve História da Religião - Parte III

Tudo começou há 2008 anos. Mais um judeu pobre, filho de um carpinteiro quebrado (que fazia bicos para sobreviver) e uma mulher (bem... elas não tinham profissão, além da prostituição).
33 anos depois, mais um judeu morre, como era comum na época, na cruz. Os romanos se divertem vendo um lunático profetizando reinos de alegria e paz ("mais um, meu caro césar").
A diferença estava na idéia genial que ele teve: usou uma oratória impressionante, além de mágicas (na época eram bastante novas) e truques aprendidos durante o tédio que passara no deserto, quando foi tomar um solzinho (e bater um papo com "Lord of the Lords"), e conquistou doze seguidores que fizeram tudo por ele.
Desde lá, a ingenuidade de uma doutrina vem sendo espalhada, e todos passaram a acreditar em coelhos mágicos que botam ovos, velhinhos vestidos de vermelho que deixam presentes para as crianças pobres e, além disso, pessoas saíram por aí imitando seu mestre: temos santos de "a" à "z", pra todo tipo de problema. Ah! Não podemos esquecer que também foram criadas igrejas em nome dele¹. Essas igrejas tinham o passatempo de queimar mulheres, extorquir a população e manter o poder supremo (no físico e no metafísico). Hoje, os cargos altos das igrejas "purificam" criancinhas, abençoam a reprodução e recriminam qualquer atitude que possa prejudicar o mundo e os filhos do nazareno (como uso de preservativos, pesquisas de células-tronco, leitura de livros perigosos - como "O Código Da Vinci" - etc).
Para terminar, domingo (três dias depois), ele ressuscitou e disse aos seus apóstolos que espalhassem todas essas historinhas, que podem ter certeza: "Tornará vossas almas grandiosas", e a poupança também, claro.
Pelo menos, espero poder comer chocolate depois de toda essa conversa fiada.

Lista de Nomes
  • Nazareno
  • Alfa e o Ômega
  • Rei dos Reis
  • Yeshua
  • Cordeiro de Deus
  • Jesus
  • Pão da Vida
  • Fiel e Verdadeiro
  • Filho do Homem
  • Estrela da manhã
  • Emanuel
  • O Messias
  • Filho de Deus

    (Subir)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Conclusões preciptadas

Conjectura sobre a origem da liberdade de espírito

Do mesmo modo que os glaciares aumentam quando nas regiões equatoriais os raios solares incidem nos mares com maior ardor que antes, assim tamém uma liberdade de espírito muito forte e em plena expansão pode ser indício de que o ardor do sentimento aumentou extraordinariamente em algum lugar.

Nietzsche, F. - Humano, Demasiado Humano, pág. 169 - Ed. Escala

Mas não consigo ver muita liberdade de espírito frente a tamanha sociedade humana de seres demasiados desumanos. Esses que privam uns aos outros apenas por interesses próprios.
Se pensarmos na relação de calor na região equatorial aumentando a glacial e sua inversa - calor na região glacial aumentando o nível (do mar) das regiões equatoriais - então podemos pensar: se não existe expansão em espírito mesmo após um grande calor, por que os raios solares - que já não encontram uma camada que protege o planeta - influenciariam tanto no degelo? Logo, nossa sociedade impede o aumento do nível oceânico. Acredito que o capitalismo enxergue com essa lógica.

terça-feira, 11 de março de 2008

Cultura Inútil - VEJA

Folheando uma dessas porcarias sensacionalistas que chamam de Revista, passo por uma parte que chama atenção: "Quase cultura...". Ao menos uma matéria suportável de ler enquanto você definha em tédio numa sala de espera - principalmente quando você está esperando sua vez de coletar sangue, depois de 12h30min de jejum.
Segue as "piadas" - algumas realmente sem graça:

I
Há pessoas que derrubam árvores porque elas lhe tapam o sol com uma peneira.

II
Galo era um povo gaulês que acabou no galinheiro.

III
Reflexão é o que se faz diante do espelho.

IV
Caloria é o alimento que comemos no verão.

V
Quem mais sofre da aorta são os jardineiros.

VI
O petróleo é o resultado de milhões de pedras putrefatas.

VII
É nos genes que se encontram todas as nossas heresias.

VIII
Monoglota é uma figura geométrica de um lado só.

IX
A dívida pública é uma dívida epidêmica.

X
O maior obelisco grego conhecido é o do apogeu.

XI
Orador é o padre que reza o padre-nosso.

XII
A democracia é formada por um presidente, um vice, e outros menos votados.

XIII
Os menires são grandes monumentos de pedra criados por Adão e Eva.

XIV
O cristianismo não aceita como caridade levar alguém pra cama.

XV
No paleolítico ninguém acreditava no neolítico.

XVI
As pinturas rupestres são precursoras dos ciprestes.

XVII
Os ateus têm um Deus em que nem eles acreditam.

XVIII
O boato é uma transpiração boca a boca.

Veja - Editora Abril - edição 1.991 - ano 40 - nº 2 - 17 de janeiro de 2007 - pág.30.

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Bom... Algumas como a democracia (XII) e o da cristianismo (XIV) fazem jus às folheadas.