quinta-feira, 27 de março de 2008

"Do pó vinhemos, do/ao pó voltaremos"

Se existisse um mundo metafísico, depois da vida terrena, onde os homens chegariam após ter alcançado sua complementação - a morte -, seria interessante, quem sabe até mesmo penoso (ao olhar humano) ver a decepção e a tristeza estampada nos rostos dos mesmos, ao saber que todas aquelas promessas foram mentiras absurdas e que esse "mundo do além" foi apenas uma forma de se iludirem durante todo o tempo e suprirem suas fraquezas mais incoscientes, dentre elas a necessidade de se prolongar em vida (uma forma de exercer seu narcisismo). Depois da tristeza primeira, cairiam lágrimas de tristeza misturadas à decepção de não encontrar tudo aquilo que sempre foram induzidos a acreditar (e depois de algum tempo, acreditavam independentemente - como já foi dito - para se satisfazerem); Após isso, a decepção iria cedendo lugar à revolta ou ao conformismo, dependendo da natureza do ser terreno, e então poderiam surgir grupos radicais e anárquicos ou pacifistas e liberais. Do segundo grupo nasceriam possíveis pregadores mais engajados, enquanto do primeiro, certamente surgiriam líderes com reinvidicações e motivos "justos" para protestarem (mais tarde, em nome de algo, ou Algo), e levarem seus "lacaios" à prosperidade.

Após tempos indeterminados, o mesmo mundo estaria à beira de um novo colapso, como a antiga vida terrrena. Alguns explicariam o fato de acordo com as pregações daquele grupo, que não foi devidamente escutado. Outros diriam que hereges e traidores dificultaram o objetivo (qual?). No final das contas, depois de algum tempo (como costuma acontecer aqui na Terra, orgulho e honra se misturariam), gerações entrariam em conflito e voltariam a viver no mesmo mundo mórbido de antes, sem perceberem. Suicidios seriam cometidos aos montes, na tentativa de se libertar desse mundo (com esperança em um outro melhor), mitos seriam criados para suprir as mesmas necessidades que se repetiriam, e esperariam mais épocas para poderem transcender a um admirável mundo novo, onde reinaria as profecias, a paz, "a igualdade, liberdade, fraternidade", como pregou alguma revolução aqui na Terra.

"Tudo o que era estável e sólido desmancha no ar; tudo o que era sagrado é profanado, e os homens são obrigados a encarar com olhos desiludidos seu lugar no mundo e suas relações recíprocas" (Marx).

4 comentários:

Kondlike disse...

Gostaria de salientar uma incompatibilidade que notei em certos aspectos nesse post com o cristianismo.
A teologia cristã contemporânea interpreta as escrituras bíblicas de maneira a considerar a vida no paraíso desprovida de sentimentos que violam a benevolência (dentro dos conceitos cristãos de bem e mal). Assim sendo, é impossível imaginarmos uma revolta ou protesto no paraíso.
Entretanto, a teologia é, por definição, uma ciência e se transforma. Há trilhas diferentes, também. Mas a majoritária apresenta essa justificativa, que é, ao meu ver, muito razoável.

O post não é inválido: ele de fato apresenta uma crítica muito pertinente aos medos sociais. Mas nesse caso soa muito clássica para a igreja pós-liberalismo e dialética teológica.

Anônimo disse...

O problema está aqui: "Assim sendo, é impossível imaginarmos uma revolta ou protesto no paraíso.".
Não estou falando do paraíso na concepção mitológica cristão, apenas um mundo metafísico hipotético, sem necessariamente se tratar do paraíso. Quanto a igreja, a intenção não foi atacá-la, mas sim aos homens que se deixam levar por ela, ou aos homens que se auto-influencia, como pelos seus "medos sociais".

bi0hazard disse...

Além do que, a intenção principal seria imaginar o rosto de decepção, não só dos cristãos como dos muçulmanos, judeus etc...
Ah.. falando nisso: http://www.youtube.com/watch?v=w7xIo4GDlc8
Vídeo muito bom, que mostra (dentre outras coisas) a dúvida, ao chegar do outro lado.
Correções:
*concepção mitológica cristã
**homens que se auto-influenciam

Kondlike disse...

Por isso disse que o post não era inválido. A distinção que fiz serve para suscitar que se evite fazer uma possível má interpretação por parte de qualquer leitor.