domingo, 30 de novembro de 2008

Lord of Darkness


"As 110 Coisas a Fazer Quando se Tornar um Senhor do Mal:
(Ou como bancar Darth Vader e se dar bem:)

1. Minhas Legiões do Terror terão capacetes com visores de acrílico, e não placas tampando o campo de visão.

2. Meus dutos de ventilação serão pequenos demais para alguém rastejar por eles.

3. Meu nobre meio irmão, do qual usurpei o trono, será morto, não mantido anônimo em uma cela esquecida em minha masmorra.

4. Fuzilamento não é bom demais para meus inimigos.

5. O Artefato que é a fonte de meu poder não será mantido na Montanha do Desespero, além do Rio de Fogo guardado pelos Dragões da Eternidade. Será mantido em uma caixa forte convencional. Isso também se aplica ao objeto que é minha única fraqueza.

6. Não irei me gabar da situação de meus inimigos antes de matá-los.

7. Depois de raptar a linda princesa, iremos nos casar imediatamente em uma discreta cerimônia civil, não um espetáculo de três semanas de duração durante as quais a fase final de meu plano será implementado.

8. Não incluirei um mecanismo de autodestruição a não ser que seja absolutamente necessário. Se o for, não será um grande botão vermelho escrito "Perigo, não aperte". O grande botão vermelho "Não Aperte" irá disparar uma saraivada de balas em qualquer um estúpido o bastante para aperta-lo. Ao mesmo tempo, botões "LIGA/DESLIGA" não serão claramente indicados em meus painéis.

9. Não levarei meus inimigos para interrogatório no centro de meu castelo. Um pequeno hotel, na periferia de meu Reino servirá perfeitamente.

10. Serei seguro de minha superioridade. Assim, não sentirei necessidade de prova-la, deixando pistas na forma de charadas ou permitindo que meus inimigos mais fracos permaneçam vivos, para mostrar que não representam ameaça para mim.

11. Um de meus conselheiros será uma criança de cinco anos. Qualquer falha em meus planos que ela seja capaz de detectar será corrigida antes da implementação.

12. Todos os inimigos mortos serão cremados. Os corpos levarão repetidos tiros de munição de grosso calibre. Ninguém será deixado para morrer no fundo de um penhasco. O anúncio de suas mortes, bem como a respectiva celebração do evento, serão adiados até depois dos procedimentos acima mencionados.

13. O herói não terá direito a um último beijo, último cigarro ou qualquer tipo de último pedido.

14. Nunca usarei nenhum dispositivo com um contador digital. Se achar que tal dispositivo é essencial, o marcarei para ativação quando o contador chegar em 117 e o herói estiver começando a pensar em um plano para desativá-lo.

15. Nunca usarei a frase "Antes de matá-lo, há uma coisa que desejo saber”.

16. Quando empregar pessoas como conselheiros, ocasionalmente irei escutar seus conselhos.

17. Se um jovem e atraente casal entra em meu Reino, irei monitorar cuidadosamente suas atividades. Se descobrir que são felizes e apaixonados, os ignorarei. Entretanto, se as circunstâncias os forçaram a ficar juntos, contra sua vontade, e se passam todo o tempo implicando e criticando um ao outro exceto em ocasiões quando estão salvando a vida um do outro, momento em que há toques de tensão sexual no ar, ordenarei imediatamente sua execução.

18. Não irei ter um filho. Apesar de suas risíveis e mal planejadas tentativas de usurpar meu podem sempre falharem, isso pode se tornar uma distração fatal em um período crucial.

19. Não terei uma filha. Ela iria ser tão bonita quando má, mas uma simples olhada para a expressão no rosto do herói e ela irá trair o próprio pai.

20. Apesar de ser uma forma comprovada de aliviar o stress, não irei soltar risadas maníacas. Com essas risadas, quando ocupado, é muito fácil deixar de perceber pequenas nuances e acontecimentos que um indivíduo mais atento pode identificar e responder a altura.

21. Irei contratar um estilista talentoso para criar uniformes originais para minhas Legiões do Terror, ao contrário de certos modelos baratos que os fazem parecer tropas nazistas, legiões romanas ou hordas de selvagens mongóis. Todos foram eventualmente derrotados e quero que minhas tropas tenham uma inspiração moral mais positiva.

22. Não importa o quão tentador seja a perspectiva de poder ilimitado, não irei absorver qualquer campo de energia maior que minha cabeça.

23. Irei manter um estoque especial de armas de baixa tecnologia e treinar minhas tropas em seu uso. Assim, mesmo que os heróis consigam destruir meu gerador de energia e/ou desativar as armas de energia padrão, minhas tropas não serão sobrepujadas por um bando de selvagens armados com lanças e pedras.

24. Irei manter uma estimativa realista de minhas forças e fraquezas. Mesmo que isso tire parte da diversão do trabalho, pelo menos nunca irei dizer a frase 'Não, não pode ser! EU SOU INVENCÍVEL!!!”(após a qual, normalmente a morte é instantânea.)

25. Não importa o quão bem funcione. Jamais irei construir qualquer tipo de equipamento que seja completamente indestrutível exceto por um pequeno e virtualmente inacessível ponto vulnerável.

26. Não importa o quão atraentes certos membros da rebelião podem ser. Provavelmente em algum lugar há alguém igualmente atraente que não está tentando desesperadamente me matar. Assim, pensarei duas vezes antes de ordenar que uma prisioneira seja levada a meus aposentos.

27. Nunca construirei uma única unidade de nada importante. Todos os sistemas essenciais terão painéis de controles e fontes de força redundantes. Pela mesma razão, sempre carregarei pelos menos duas armas carregadas, todo o tempo.

28. Meu monstro de estimação será mantido em uma jaula bem segura, da qual ele não poderá escapar e na qual não poderei cair por acidente.

29. Irei me vestir com cores claras e alegres, isso deixará meus inimigos confusos.

30. Todos os magos incompetentes, escudeiros, bardos sem talento e ladrões covardes em meu Reino serão executados. Meus inimigos certamente desistirão e abandonarão sua cruzada se não tiverem um parceiro cômico ao lado.

31. Todas as camponesas ingênuas e peitudas que servem bebidas em tabernas serão trocadas por garçonetes experientes e profissionais, que não irão dar apoio ao herói ou servir de par romântico para seu ajudante.

32. Não terei um ataque de fúria e matarei o mensageiro que me trouxe más notícias só para mostrar o quão mal realmente sou. Bons mensageiros são difíceis de achar.

33. Não exigirei que as mulheres em postos de comando em minha organização usem tops de aço inoxidável. A moral da tropa fica bem melhor com um código de vestimenta mais casual. Ao mesmo tempo, roupas feitas inteiramente de couro serão reservadas para ocasiões formais.

34. Nunca vou me transformar em uma cobra. Isso nunca funciona.

35. Não irei deixar crescer um cavanhaque. Nos velhos tempos fazia com que você parecesse diabólico, hoje o torna um membro frustrado da Geração X.

36. Não irei prender membros do mesmo grupo no mesmo bloco da masmorra. Muito menos na mesma cela. Se são prisioneiros importantes, irei manter a única chave da cela comigo, ao invés de deixar uma cópia com cada guarda do destacamento da prisão.

37. Quando meu tenente de confiança disser que minhas legiões do Terror estão perdendo uma batalha, eu acreditarei nele. Afinal, ele é meu tenente de confiança.

38. Se um inimigo que acabei de matar tem irmãos ou filhos em algum lugar, irei encontra-los e executa-los imediatamente, ao invés de esperar que cresçam nutrindo sentimentos de vingança contra mim.

39. Se eu não tiver escapatória a não ser me envolver em uma batalha, certamente não liderarei na frente de minhas Legiões do Terror, nem irei procurar o líder adversário entre o exército inimigo.

40. Não irei ser cavalheiresco ou bom esportista. Se possuir uma super arma contra a qual não há defesa, a usarei assim que for possível, ao invés de mantê-la guardada.

41. Assim que meu poder estiver estabelecido, irei destruir todos aqueles inconvenientes dispositivos de viagem no tempo.

42. Quando capturar o herói, terei certeza de também capturar seu cachorro, macaco, furão ou qualquer outro bichinho bonitinho de dar nojo, capaz de desamarrar cordas e roubar chaves, que por acaso ele tenha como mascote.

43. Irei manter uma saudável dose de ceticismo quando capturar a linda rebelde e ela disser que está atraída por meu poder e boa aparência, e alegremente trairá seus companheiros se eu deixa-la tomar parte em meus planos.

44. Só irei contratar caçadores de recompensa que trabalhem por dinheiro. Aqueles que trabalham por prazer tendem a fazer coisas tolas como equilibrar as chances, para dar ao outro cara uma disputa justa.

45. Terei um claro entendimento sobre quem é responsável pelo que em minha organização. Por exemplo, se meu general fracassou, não irei sacar minha arma, apontar para ele, dizer 'e este é o preço do fracasso' então subitamente apontar e matar um subalterno qualquer.

46. Quando um conselheiro disser "Meu Lorde, ele é somente um homem. O que apenas um homem pode fazer?" Eu responderei: "Isso!" e matarei o conselheiro.

47. Se descobrir que algum fedelho começou uma cruzada para me destruir, irei chacina-lo enquanto ele ainda é um fedelho, ao invés de esperar que cresça e se torne um adulto.

48. Tratarei qualquer monstro que eu venha a controlar através de mágica ou tecnologia com respeito e ternura. Assim, se perder o controle sobre ele, não virá imediatamente atrás de mim por vingança.

49. Se descobrir a localização aproximada do único artefato que pode me destruir, não irei mandar todas as minhas tropas para recupera-lo. Ao contrário, mandarei as tropas atrás de alguma outra coisa, e discretamente colocarei um anúncio de 'procura se, gratifica se bem', em um jornal local.

50. Meus computadores principais terão seu próprio sistema operacional, que será totalmente incompatível com IBM PC’s ou Macs.

51. Se um dos guardas de minha masmorra começar a esboçar preocupação com as condições na cela da linda princesa, ele será imediatamente transferido para uma função com menos envolvimento com pessoas.

52. Irei contratar um time de arquitetos e pesquisadores de alto nível para examinar meu castelo e me informar de quaisquer passagens secretas e túneis abandonados que eu não tenha conhecimento.

53. Se a linda princesa que capturei disser "Nunca irei me casar com você! Nunca! Está ouvindo? Nunca!" eu direi: "Tudo bem." E a executarei.

54. Não farei uma barganha com uma criatura demoníaca e depois tentarei desfaze-la apenas porque me senti com vontade.

55. Os mutantes deformados e malucos psicóticos terão seu lugar em minhas Legiões do Terror. Entretanto antes de manda-los em uma importante missão secreta que demande tato e sutileza, verificarei se há alguém mais igualmente qualificado, e que atraia menos atenção.

56. Minhas Legiões do Terror serão treinadas em tiro básico. Qualquer um que não consiga aprender a acertar algo do tamanho de um homem a 10 metros de distância, será usado como alvo.

57. Antes de utilizar qualquer tipo de artefato ou máquina capturada, irei ler cuidadosamente o manual de instruções.

58. Se for necessário fugir, não irei parar para fazer uma pose dramática e dizer uma frase profunda.

59. Nunca irei construir um computador inteligente que seja mais esperto do que eu.

60. Pedirei a meu conselheiro de cinco anos de idade que tente decifrar qualquer código que eu estiver pensando em adotar. Se ele o decifrar em menos de 30 segundos, não será usado. Nota: Isso também se aplica a passwords.

61. Se meus conselheiros perguntarem "Por que está arriscando tudo nesse plano louco?" Não irei prosseguir até ter uma resposta que os satisfaça.

62. Irei projetar os corredores de minha fortaleza para que não haja alcovas ou suportes estruturais protuberantes que possam ser usados como abrigo por intrusos durante um tiroteio.

63. Lixo será eliminado em incineradores, não compactadores. E eles serão mantidos acesos, sem aquele nonsense de chamas que se ativam através de túneis de acesso, em intervalos previsíveis.

64. Irei me consultar com um psiquiatra e me curar de todas as estranhas fobias e bizarros hábitos compulsivos que possam se mostrar uma desvantagem.

65. Se for obrigatório que existam terminais de computador de acesso público, os mapas que mostram meu complexo terão uma sala claramente marcada como Sala de Controle Central. Essa sala será a Câmara de Execução. A sala de controle central de verdade estará indicada como Câmara de Contenção de Transbordamento do Esgoto.

66. Meu teclado de segurança na verdade será um scanner de impressões digitais. Qualquer um que observe um usuário digitar seu código e consequentemente tente digitar a mesma seqüência irá ativar o alarme central.

67. Não importa quantos curtos circuitos há no sistema, meus guardas serão instruídos a tratar cada câmera de segurança com defeito como caso de emergência total.

68. Pouparei a vida de alguém que tenha me salvado no passado. Isso só é razoável se estimular outros a fazê lo. Entretanto a oferta só é válida uma única vez. Se querem que os poupe novamente, é melhor que salvem minha vida mais uma vez.

69. Todas as parteiras serão banidas de meu reino. Os bebês nascerão em hospital supervisionados pelo Estado. Órfãos serão colocados em lares adotivos, não abandonados na floresta para serem criados por criaturas selvagens.

70. Quando meus guardas se separarem para procura por intrusos, eles sempre andarão em grupos de pelo menos dois. Serão treinados para que se um desaparecer misteriosamente no meio da patrulha, o outro iniciará imediatamente um alerta e chamará por reforços, ao invés de ficar procurando o colega pelas esquinas.

71. Se eu decidir testar a lealdade de um assistente, para descobrir se ele pode ser promovido a homem de confiança, terei um grupo de atiradores de elite por perto, caso a resposta seja não.

72. Se todos os heróis estão ao lado de um mecanismo esquisito e me desafiando, usarei uma arma convencional, ao invés de disparar minha super arma invencível contra eles.

73. Não concordarei em deixar os heróis partirem livres, se vencerem uma competição, mesmo que meus conselheiros digam que está tudo arranjado e que é impossível para eles ganhar.

74. Quando criar uma apresentação multimídia de meu plano, feita para que meu conselheiro de cinco anos de idade possa facilmente entender os detalhes, não irei chamar o disco de "Projeto Overlord" e deixa-lo solto em minha mesa.

75. Irei instruir minhas Legiões do Terror para atacar o herói em massa, ao invés de ficarem em volta dele esperando enquanto um ou dois atacam de cada vez.

76. Se o herói correr para meu telhado, não irei atrás dele em uma tentativa de atira-lo do alto. Também não lutarei com ele na beira de um despenhadeiro. (No meio de uma ponte de cordas sobre um rio de lava derretida não vale nem a pena considerar.)

77. Se tiver um surto de insanidade e decidir oferecer ao herói a chance de rejeitar um emprego como meu Braço Direito, irei reter sanidade o suficiente para esperar que meu atual Braço Direito saia da sala antes de fazer a oferta.

78. Não direi para minhas Legiões do Terror "E ele deve ser trazido vivo!". A ordem será: "E tentem traze-lo vivo se for razoavelmente viável".

79. Se acontecer de minha máquina do Juízo Final possuir um botão de reversão, assim que tiver sido usada irei derrete-la e cunhar uma edição especial limitada de moedas comemorativas.

80. Se minhas tropas mais fracas falharem na tentativa de eliminar o heróis, mandarei minhas melhores tropas, ao invés de perder tempo mandando tropas progressivamente mais fortes, a medida em que ele se aproxima de minha fortaleza.

81. Quando lutar com o herói no alto de uma plataforma em movimento, o tiver desarmado, e estiver a ponto de acabar com sua vida, e ele olhar para algo atrás de mim e se jogar no chão, me jogarei imediatamente no chão também, ao invés de fazer uma expressão inquisitiva e olhar para trás para ver o que ele viu.

82. Não irei atirar em nenhum de meus inimigos se eles estiveram de pé em frente a um suporte crucial de uma estrutura pesada, perigosa e precariamente equilibrada.

83. Se estiver jantando com o herói, colocar veneno em sua taça, e subitamente tiver que sair da sala por alguma razão, pedirei novos drinques para nós, ao invés de tentar decidir se ele trocou ou não os copos.

84. Não deixarei que prisioneiros de um sexo sejam vigiados por membros do sexo oposto.

85. Não implementarei nenhum plano cujo passo final sejam horrivelmente complicado, como "alinhe as 12 Pedras do Poder no altar sagrado então ative o medalhão no momento do eclipse total". Ao invés disso, meu plano será ativado com a frase "aperte o botão”.

86. Terei certeza de que minha Máquina do Juízo Final está devidamente dentro das regras de instalação, e corretamente aterrada.

87. Meus tonéis de produtos químicos perigosos ficarão tampados quando fora de uso. Também não irei construir passagens e escadas sobre eles.

88. Se um grupo de subordinados falhar miseravelmente em sua missão, não lhes darei uma grande bronca por sua incompetência, e em seguida enviar o mesmo grupo para tentar de novo.

89. Depois de capturar a super arma do herói, não vou imediatamente dispensar minhas legiões e relaxar minha guarda pessoal porque acredito que qualquer um que possua a arma é invencível. Afinal, o herói tinha a arma e eu a tomei dele.

90. Não vou projetar uma Sala de Controle Central em que todos os terminais >deixem o operador de costas para a porta principal.

91. Não irei ignorar o mensageiro esbaforido e obviamente agitado até que minha cavalgada ou outro entretenimento pessoal termine. O que ele tem a dizer pode ser importante.

92. Se chegar a falar com o herói ao telefone, não irei ameaça-lo. Ao contrário, direi que sua perseverança me deu uma nova visão da futilidade de minhas ações malvadas, e que se ele me deixar em paz por alguns meses de quieta contemplação irei provavelmente voltar para o caminho do Bem. (heróis são incrivelmente fáceis de se enganar, quanto a isso).

93. Se eu decidir realizar uma execução dupla do herói e de um subordinado que tenha falhado ou me traído, farei com que o herói seja executado primeiro.

94. Quando efetuando uma prisão, meus guardas não deixarão que parem e peguem um objeto aparentemente inútil, por puro valor sentimental.

95. Minhas masmorras terão sua própria equipe médica qualificada, completa com guarda costas. Assim se um prisioneiro ficar doente e seu colega de cela disser ao guarda que é uma emergência, o guarda chamará um grupo de trauma, ao invés de abrir a cela para dar uma olhada.

96. Minhas portas serão projetadas para se que alguém destrua o painel de controle do lado de fora, a porta feche, e se destrua o painel do lado de dentro, a porta abre. Não vice versa.

97. As celas de minhas masmorras não conterão objetos com superfícies reflexivas ou nada que possa ser transformado em cordas.

98. Qualquer conjunto de dados de importância crucial será acondicionado em arquivos de 1.45Mb, para não caberem em um único disquete.

99. Quando tiver capturado meu adversário e ele disser "Olhe, antes de me matar, pelo menos me conte sobre o que você planeja fazer." Eu direi "não" e atirarei nele. Pensando bem, vou atirar nele e depois dizer "não".

100. Finalmente, para manter todos os meus súditos contentes e descerebrados, irei prover a cada um acesso Internet ilimitado, grátis.

101 - Sempre estarei ciente de que transformar meu monstro em um gigante é uma manobra de último recurso, e resistirei à tentação de fazê-lo levianamente. Sobretudo quando os heróis estiverem apanhando do meu monstro. (São Muel)

102 - Não esperarei meus inimigos terminarem frases de invocação de golpe ou magia, devo matá-los antes que terminem de pronunciar a primeira sílaba da frase.

103 - Nunca esperarei meus inimigos terminarem de fazer dancinhas, coreografias mirabolantes e poses fodásticas, para invocar superpoderes, robôs gigantes, ou magias.

104 - Nunca irei atacar a Rússia com o inverno se aproximando

105 - Matarei meus inimigos enquanto eles estão se metamorfoseando em super-heróis e trocando para uma roupinha mais fashion, só para se exibirem que ficaram mais fortinhos.

106 - Matarei meu inimigo, quando ele estiver distraído ou exausto mostrando para as garotas o quanto é "Bond" cama.

107 - Nunca participarei de campeonatos de lutas e artes marciais. Enquanto os heróis estiverem ocupados em ganhar o premio ou lutando apenas por diversão, estarei dominando o mundo.

108 - Nunca contratarei capangas com aparências cômicas ou hilárias, pois são os tipos de vilões que sempre apanham dos heróis.

109 - Se tiver que colocar todo o meu poder em um único objeto, não farei um anel do poder, pois pode ser arrancado junto com o dedo. Forjarei o "Um Piercing" do poder, que ficará preso à minha língua, enquanto estiver de elmo, estarei seguro.

110 - Mandarei trancar os armários e colocar espinhos embaixo das camas. Príncipes encantados e heróis carismáticos podem ser potenciais "Marios" que podem decorar minha cabeça com chifres, especialmente se eu for casado com uma "Senhora do Mal" insaciável."

Créditos: Nekkobay

sábado, 29 de novembro de 2008

Nirvana


Andando na rua com seus próprios pensamentos, idéias, concepções, verdades, alguém esbarra no braço dele. Seus sentidos, agora aguçados, voltam-se para ver, e, durante alguns segundos, focam somente nisso. Ele crê que voltou a si. Mas não. Até aquele momento, ela era a si próprio e tudo - do asfalto ao horizonte. De repente, não mais. O choque nos seus sentidos o faz perceber algo além - aquilo que não é ele próprio; é o outro. Agora, assim, de repente, um mundo bipolar. A obrigação de reconhecer-se pisando no reino alheio - ainda que assim não fosse sua vontade. Dividir o poder do universo com o outro... é provocativo. O esbarrão foi claro. Surge uma terceira força, que mais parecia sempre ter existido: medos concorrentes. Sem asfalto, sem horizonte, o outro delimita o seu próprio poder de ser - funciona como a pele que antes não havia e que permitia a suas vísceras transitar livremente pelo espaço - como se antes houvesse espaço, se ele todo sempre fora ele mesmo. Neste instante, com pele, ele viu-se pelado e desenvolveu pêlos que filtrariam tudo o que chegaria às membranas, de modo a que o mundo externo, definido pelo que ele não é, não o fira. Ele deseja voltar a ser e estar em tudo, o deus em si mesmo. Ele procura o outro e o acha à sua frente. Atravessa-o com suas garras, a dilacerá-lo. Como uma hidra, ganha outra cabeça. Em desespero, sucessivos cortes geram cabeças sucessivas. O asfalto ganha várias formas, várias curvas. E ele passa a viver enclausurado em sua condição de solidão - que só existe quando há por quem se sentir só - e medo - de ter seu espaço novamente tomado - e a sonhar com o dia em que poderá reconhecer que são todas as faces uma só. E que todas estão nele próprio. A pele dele então rasgaria e ele voltaria a ser o horizonte e o asfalto.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

- Waiter!




Em algum lugar frio do meio da Europa, o cliente repetidas vezes chama o garçom.

- Can I help you, sir?

- Yes. Do you have, em, pass-... how do I say that in English... oh, passi-, passion fruit?

- I do, sir, and I was really asking myself if you were a fruit too. Here's my phone number. I'm free Saturday night.


segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Do fim da Guerra Fria


Sem necessidade de lutar contra a crise social, o ocidente europeu passara a viver, entre as décadas de 1950 e 1960, uma inadvertida era de ouro, marcada pelo progresso econômico e relativa estabilidade. O mundo havia sobrevivido às ameaças de guerra dos anos anteriores, que passaram pela Revolução Chinesa e pela Guerra da Coréia. Houve, então, nesse lado da Europa, um afrouxamento da tensão. Para a diplomacia de então, criou-se o jargão détente para marcar a época, tendo sido apenas questionada no período turbulento entre 1960 e 1963, com a política externa do presidente norte-americano Kennedy, a Revolução em Cuba e a Crise dos Mísseis. Depois desse evento, houve um reconhecimento soviético-estadunidense sobre a necessidade não só de conter conflitos como a ameaça deles, que poderia vir a manter um estado freqüente de medo, tendo a enorme instabilidade como conseqüência – fator que sempre potencializou conflitos. Nesse contexto, passaram a ser feitos vários acordos nos anos seguintes, como tratados de não-proliferação nuclear e, ainda em 1963, a criação de uma “linha-quente” Casa Branca-Kremlin de Moscou.
A détente surgia para mostrar a falibilidade da lógica dicotômica propagada pela Guerra Fria, especialmente pelo lado estadunidense. No meio das possibilidades de ruínas e conflitos, de um mundo dividido, havia prosperidade. Fora concluída a construção do Muro de Berlim, que bem delineava as fronteiras entre os ditos dois lados do mundo, que, em suas diplomacias, haviam concordado em respeitar a fronteira e as respectivas áreas de influência de cada um. Porém, a década de 1960 e as seguintes mostra uma continuidade do processo fora da lógica dialética: séries de revoluções no Terceiro Mundo se sucedem. A luta ideológica passa, então, a se dar fora do cenário tradicional e figura no plano da disputa pela influência nesse “mundo mais fraco”, a mostrar a pouca abrangência da teoria dos dois campos – a mostrar um etnocentrismo ideológico e epistemológico, que, nessa época, trazia consigo em grande escala interesses políticos de um lado ou do outro. Mas, ainda assim, a competição se dava fora do plano central da guerra, o que já mostra significativas mudanças. A Guerra Fria falhou em tentar congelar um sistema de funcionamento estabelecido no pós-segunda guerra e prezar para que pudesse funcionar por sobre as mesmas estruturas em todos os anos subseqüentes, ignorando todas as mudanças instauradas no mundo. O exercício forçado de manter uma filosofia que não mais condizia à realidade mundial era desgastante.
Questiona-se post facto, o que, à época, então, fundamentava o discurso belicista, militarista, com seus tons apocalípticos. De fato, a presidência norte-americana, fundada sobre premissas ditas democráticas, precisava justificar sua política externa de caça às bruxas, uma espécie de cruzada anti-soviética (o que os fez, futuramente, aliar-se até à China comunista). O mesmo não se passava na cúpula da administração soviética. O discurso belicista era, então, predominantemente ocidental, fomentado pela busca do apoio popular. Mas a corrida armamentista nem tanto. A União Soviética investia altos recursos em tecnologia militar – bancando o custo sozinha –, bem como os Estados Unidos – que contava com todo o sistema capitalista para assegurar sua dívida externa altíssima. A corrida espacial – deslanchada pelos soviéticos – mostrava a disputa das duas superpotências no âmbito de soft power, mas também o desvio do plano de ameaças reais de conflito nuclear. O afastamento de Krushev, defensor da coexistência pacífica, da liderança soviética fez assumir Brejnev, líder particularmente otimista – caracterizando, por isso, na visão dos reformistas soviéticos, um período enorme de estagnação da URSS –, que achava salutar manter – ou aumentar – os investimentos bélicos na União Soviética para gerar confiança e estabilidade – bens virtuais – dentro do sistema comunista e fora, no sistema internacional, muito embora a própria URSS não fosse favorável ao conflito armado ou nuclear dentro da Guerra Fria, ciente da possibilidade iminente de destruição mútua. O otimismo de Brejnev também se deu nas crises do petróleo, que conferiram relevância ao Terceiro Mundo e valorizaram em quatro vezes as jazidas petrolíferas descobertas em territórios soviéticos na década de 1960. A aparente queda de influência norte-americana no mundo com o triunfo da Revolução Cubana e com derrota no Vietnã conferia ao sistema internacional certo quê de estabilidade. Teria sido um arrefecimento internacional dos moldes da Guerra Fria um dos fatores mais apontados para o fim da própria.
Desde o começo do embate, estava claro que era uma batalha de desiguais. A URSS fundamentava-se como grande centro – embora emergente – responsável por diversas áreas fundamentalmente fracas em desenvolvimento industrial, mas tinha de enfrentar os EUA, que exerciam grande influência em áreas já desenvolvidas do mundo, especialmente no ocidente europeu. O sistema financeiro internacional estava à disposição destes para bancar as dívidas feitas na corrida armamentista e especial que viria a acontecer, enquanto as repúblicas soviéticas tinham somente a si mesmas. Na década de 1980, o atraso começava a deixar suas marcas – ainda leves; o governo norte-americano sequer suspeitava da possível queda dos “inimigos” que justificavam sua política mundial – na URSS, que ainda era vista pelo lado ocidental como empenhada numa ofensiva global. Foi somente com Gorbachev na liderança soviética que foi possível uma mudança nesse sentido.
Diz-se que efetivamente acabou a Guerra Fria quando “uma ou ambas as superpotências reconheceram o sinistro absurdo da corrida nuclear”, o que já havia se dado, ao menos no lado soviético, há bons anos, e “quando uma acreditou na sinceridade do desejo da outra de acabar com a ameaça nuclear”. Gorbachev pôde reconhecer esse fato publicamente, com a diferença que, em sua área de influência, a Guerra Fria nunca apresentou um ideal de cruzada, mas num ideal globalista de luta contra o capitalismo, que se cria vir a ruir, e que, até o momento, não havia dado verdadeiros sinais de fraqueza. O presidente Reagan, nos Estados Unidos, em seu sincero idealismo e crença num mundo sem armas nucleares, acreditou no afirmado pelo líder soviético. Com as conferências de cúpula de Reykjavik (1986) e Washington (1987), foi dado, para fins práticos, o fim da Guerra Fria. Por outro lado, só é aceito, no mundo ocidental, o fim da guerra quando há, entre 1989 e 1991, o – pouco esperando – colapso da URSS, influenciado por e influenciando o fim da Guerra.


sábado, 22 de novembro de 2008

Inspiração


Então, aparece do nada. Seguindo o fluxo das notas que passam por meus tímpanos. Uma sensação, o lampejo de uma idéia. Vejo algo se mover ao meu lado. A cortina oscila com o vento. Algo passa na televisão, não sei o que é. Pouco importa. Sinto como se tudo convergisse para um único ponto: o exato local onde estou. Tudo ao meu redor trabalha apenas em função daquilo que transita pela minha mente. Ajudando, estimulando, exigindo que eu manifeste isto de alguma forma. É um pedido de tamanha força que chega a ser incontrolável. Sinto-me como uma pessoa sentada na praia diante de um maremoto. Impotente. Incapaz de evitar ser levado. Aquilo que idealizei tem vontade. E sua vontade ordena que eu sirva de intermédio para que ela se expresse.

No fim das contas, nada sou além de um mensageiro.

sábado, 15 de novembro de 2008

Fracasso Metalingüístico

1. (Valor) Atrocidades de preciosismo estético que destroçam momentos e situações valiosas que se tornarão memoráveis por esse motivo; e
2. (Fato) Ato estúpido e involuntário.

***

Apenas alguns centímetros separavam os dois lábios, junto com o ar quente que saía de ambos os narizes, que, a essa altura, já estavam perdidos, sem saber onde se encaixar. Ele estava começando sua carreira como professor de inglês. Ela gostava dele, ainda que fosse o primeiro encontro. Estavam finalmente a sós. Ele aproxima ainda mais o rosto. Ela o segura pelos cabelos, cola os lábios na orelha, beija-a, e lhe sussurra:
- Me ensina inglês...
Sem resistir, os lábios se encontram. Misturam-se. Um se acha no outro. Ela sentia tudo com enorme paixão e algo bom assim ela já não experimentava havia muito tempo. Surpreende-se quando ele afasta um pouco o rosto.
- Ok, that's a tongue. Now repeat with me.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Aviãozinho

Vivi ali uma vida livre, indispensável para formar o temperamento e o gosto pela aventura. Desde a infância eu tinha uma grande queda por coisas mecânicas e, como todos os que possuem ou pensam possuir uma vocação, eu cultivava a minha com cuidado e paixão. Eu sempre brincava de imaginar e construir pequenos engenhos mecânicos, que me distraíam e me valiam grande consideração na família. Minha maior alegria era me ocupar das instalações mecânicas de meu pai. Esse era o meu departamento, o que me deixava muito orgulhoso.
Ainda pequeno, lembro que era fastioso.
- Alberto, você não vai almoçar?
- Não quero!
- Coma, meu filho. Seu prato já está feito.
- Mas eu não quero!
- Então abre a boca, lá vai o aviãozinho...
Foi aí que eu comecei a pensar num.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Sociedade Anônima

- Boa tarde, senhores. Sejam bem-vindos à primeira reunião dos acionistas da nossa sociedade anônima.
- Mas por que não senhoras e senhores? Não sabemos se há homens e mulheres aqui.
- Hm. Boa tarde, senhoras, senhores. Mais uma vez, sejam bem-vindos à primeira reunião dos acionistas de que vocês têm notícia. Nós adotamos algumas medidas para garantir o anonimato na nossa sociedade. É por isso que optamos por videoconferência. Todas as webcams estão ligadas?
- Sim.
- Sim.
- Sim.
- Sim.
- Prezando pela sua segurança, pedimos que todos se vestissem de preto e tampassem a webcam. Todos fizeram isso?
- Sim.
- Sim.
- Vejo que os sintetizadores de voz também já foram ativados, ótimo. Os IPs estão ocultos?
- Sim.
- Sim.
- Siiiiiim...!
- Sim.
- Muito bem. Gostaria de lembrar aos senhores...
- E senhoras.
- ... e senhoras - que o software que disponibilizamos para vocês é descartável. Ele vai limpar todos os dados que modificou no seu computador até que você esqueça que ele existiu. Alguma dúvida?
- Não.
- Quantas pessoas tem aqui?
- Não sei.
- Melhor assim.
- Agora vamos para as apresentações. Você, qual é sua posição na empresa e quais suas pretensões?
- ...
- Não vai dizer? Bom, bom. Pelo visto, todos leram as regras e também o anexo sobre o silêncio. Agora sejam realmente bem-vindos à nossa reunião.
- Espera aí... Mas e quem é você?
- Eu? Eu sou anônimo, ué.
- Ah, é? E como vamos ter certeza disso?

***

- Ei, achei você super simpática. Você tem Orkut?
- Tenho, tenho. É só me procurar lá: "Anônima".

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Religião como capital político

A palavra “religião”, do latim, relaciona-se às idéias de pacto, aliança, laço, contrato, relação que deve nortear os elos entre deuses e homens, e, por isso mesmo, dos homens entre si. A religião, além desses aspectos, é um modo de se entender e ordenar o mundo, dando respostas mais satisfatórias que as incertezas da ciência e da filosofia. A linguagem religiosa é uma linguagem da relação, da ligação. Um idioma que busca o meio-termo, a possibilidade de salvar a todos e de sempre se poder ver algo bom. Atinge especialmente o povo destituído de tudo, incapaz de estabelecer uma comunicação com seus representantes legais, falar e ser ouvido. A experiência religiosa pode alcançar altos graus de complexidade. Nesses casos, faz-se necessário o surgimento de um organismo dotado de estrutura jurídica própria que defende, como instituição, os valores que adota, seus modos de pensar e suas autoridades. A sociedade religiosa que integra esse grupo poderá ser um exemplo de comunidade.

            O conceito de comunidade pode ser utilizado como um recurso instrumental ideológico e político que visa a produzir e reproduzir a reificação e um sistema moral. Quando se institui a idéia de comunidade a um conjunto de pessoas, presume-se que há um conjunto de crenças e valores diferentes dos demais e assumido por todos os membros desse conjunto, legitimando, com isso, um posicionamento político pela busca da realização desses interesses comuns. É a construção de uma idéia de nós. Considerando-se a existência de um nós e dos interesses comuns que defendem, surge a necessidade de uma atuação política de mediação entre indivíduo (que também é eleitor), comunidade e o fazer político, funcionando, pois, como uma espécie de ouvidor. Mas, para exercer tal papel, é requerido ao político o uso de enorme carisma. Esse carisma, entretanto, diferentemente dos demais tipos, é um carisma de função (ou de instituição), que tem caráter transmissível, estável, durável e independe das – embora possa ser complementada por – qualidades individuais do seu detentor. Cabe a ele, então, reproduzir a mensagem e as exigências da instituição que representa – nesse sentido, podendo ser visto como um funcionário.

            Reconheçamos, pois, o que leva um político a recorrer a essa alternativa, que o torna mais subordinado a certos parâmetros que o que o personalismo da política brasileira usual e informalmente estabelece. Para efetivamente chegar a ser eleito, é requerido de todo aspirante o capital político. Alguns o possuem de origem familiar – sucessores são criados entre os pares consangüíneos. Os que não, precisam buscar o capital político de outras formas, e constituí-lo numa comunidade é uma delas. Sendo um líder ou mesmo somente membro de uma comunidade religiosa, valer-se de discursos de cunho religioso – ou requerer, por esse meio, o apoio de seus semelhantes – é um método de que tem se mostrado surpreendentemente efetivo, ainda mais depois do reconhecimento por parte das instituições religiosas do seu potencial político se se convergisse uma organização nesse sentido. Lamentavelmente, algumas releituras fundamentalistas têm sido feitas de obras religiosas, e estas também conseguem movimentar certa força política. Ainda assim, desconsiderando a potencialidade da ideologia religiosa como falsas representação e motivação, a possibilidade de se pôr à frente um líder que represente um segmento é valorização do ideal democrático por tantos defendido.

            Os políticos que se valem desse sistema também têm em mente o funcionamento de um sistema de corrupção pós-moderno (porque joga no plano das imagens), que se baseia efetivamente na busca do poder pelo poder, num ciclo a se auto-alimentar.  Os que a praticam têm por finalidade (re)elegerem-se, precisando sempre serem competitivos no próximo pleito; reconhecem, igualmente, que os eleitores de hoje não formulam seu voto de maneira racionalista, pelo exame de propostas, e, sim, movidos pelo afeto. Sendo que é, de fato, legítimo o voto pelo afeto, porque o que se decide pelos votos são, essencialmente, valores, escolher um projeto individualista ou social ou, então, de fundamento religioso. A questão – percebida pelos políticos – reside no seqüestro desse afeto, o que mostra marcas profundas de uma dominação carismática.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Carnificina

Eu quero tua pele. Quero para mim. Quero tocar - quero te tocar. Quero arrancar-te de ti mesma, quero arrancar tua pele de ti, cada centímetro, e vesti-la depois. Com minhas garras - e depois lamber todo o teu sangue... Preciso ficar perto de ti. Carnificina no teu corpo porque o quero pra mim. Tê-lo como meu troféu que orgulhosamente exibo e meu deus que humildemente adoro. Serei um dia um contigo. Só um.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Erro


Era uma vez uma pessoa. Aliás, algumas pessoas. Depois de muito tempo morando juntos, reconheceram-se como grupo. Depois de muito tempo como grupo, observeram algumas semelhanças entre si e passaram a se auto-denominar sociedade. Assim feito, perceberam que faltava um líder. Um homem como os outros da multidão virou para seu próximo e falou:

- Que tal uma teocracia?

- Boto fé.

- Obrigado.

Levantou a mão e disse a todos que tinha visto uma luz. Uma luz que chegou somente pra ele. Estava óbvio que era o Escolhido. Instituiu leis naturais e divinas, o que é bom e ruim. Muitos anos assim passaram. Ele foi feliz para sempre. Os outros, nem tanto. Só muitos anos depois, a sociedade se sentiu distante dos líderes que a guiavam; precisavam de um líder novo. Um homem como os outros da multidão virou para seu próximo e falou:

- Que tal a gente ir pro campo?

- Vamos plantar essa idéia.

Levantou a mão e semeou a mente de todos com belas melodias, poesia e várias invocações de fugere urbem, e é bom fugir mesmo, porque os bárbaros vêm aí. Estava óbvio que era o mais Belo. Ele e o que concordou com ele. Cada um instituiu regras de convivência e etiqueta, roupas elegantes e feias, mas manteve o esqueleto do poder anterior. Ambos diviriam a terra e o povo, que, no final das contas, era uma coisa só. Muitos anos assim passaram. Eles foram felizes pra sempre. Os outros, nem tanto. Só muitos anos depois, alguns que estavam distantes dos líderes julgaram precisar de um líder novo. Um homem como os outros da multidão virou para o seu próximo e falou:

- Que tal a gente ter poder?

- Pode ser.

Levantou a mão e pôs no coração de todos seus motivos. Eram motivos sinceros - para ele mesmo. Estava óbvio que ele era o mais Sábio. Foi eleito presidente. Instituiu leis, taxas, nomes bonitos, unificou a população separada, mas separou três poderes e manteve o esqueleto do poder anterior. Cada poder tinha uma função. Muitos anos assim passaram. Mas os poderes foram enfrequecendo ou ganhando poder demais, não se sabe. Certo é que não funcionavam. Criaram um quarto poder, o moderador. Não tardou a surgir também o mediador. Depois o efetivador e o cumpridor. E o compridor. Com o tempo, eram tantos poderes que não havia poder nenhum. A sociedade faliu. Aliás, a sociedade não. O guia. Cada parte da sociedade recolheu o que lhe pertencia e resolveu ir para seu lado, enfim.

Era mais uma vez uma pessoa. Aliás, algumas pessoas. Depois de muito tempo morando juntos, reconheceram-se como grupo. Depois de muito tempo como grupo, observeram algumas semelhanças entre si e passaram a se auto-denominar sociedade. Todos se entreolharam. Alguém quis levantar a mão. Foi espacando pelos outros. Assim feito, só assim feito, haviam entedido. Ninguém comete o mesmo erro tantas vezes.