sexta-feira, 30 de maio de 2008

Antegramática

Querida,
eujátenteideváriasformasfalaravocêtudooquesintomasàsvezessintoquepalavrasdemaisnãodizemnadaeàsvezessóconfundemporissodeciditentarresumirtudonessasuperpalavraqueestouescrevendoagoratalvezvocênãoentendaoumesmonãoconsigapronunciálamasoamoréissoindizíveleincompreensívelamorsemvírgulasempontoesemexclamaçãoeinterrogaçãoamorpurosimpleseenormenumasópalavradeamor.
Mil beijos,
Vinícius.

terça-feira, 27 de maio de 2008

1 − 2 + 3 − 4 + · · ·

Os primeiros mil termos e somas parciais de 1 − 2 + 3 − 4 + …


Em matemática a expressão, 1 − 2 + 3 − 4 + … é uma série infinita cujos termos são números inteiros, que vão alternando seus sinais. Utilizando a notação matemática para adição, a soma dos m primeiros termos da série se expressa como:

A série infinita diverge, no sentido que a seqüência de suas somas parciais (1, −1, 2, −2, …) não tende a nenhum limite finito. De forma equivalente, poder-se-ia dizer que 1 − 2 + 3 − 4 + … não possui soma no sentido usual do termo.

Contudo, em meados do século XVIII, Leonhard Euler descobriu a seguinte relação qualificando-a de paradoxal:

Foi somente muito tempo depois, que se chegou a uma explicação rigorosa desta relação. Até o começo da década de 1890, Ernesto Cesàro e Émile Borel, entre outros, pesquisaram métodos bem definidos para atribuir somas generalizadas às séries divergentes – incluindo novas interpretações dos intentos realizados por Euler. Muitos destes métodos denominados da soma atribuem a (1 − 2 + 3 − 4 + …) uma "soma" de 14. O método da soma de Cesàro é um dos poucos métodos que não soma a série 1 − 2 + 3 − 4 + …, por isso, esta série é um exemplo de um caso onde deve utilizar-se um método mais robusto como, por exemplo, o método da soma de Abel.

A série 1 − 2 + 3 − 4 + … encontra-se relacionada com a série de Grandi 1 − 1 + 1 − 1 + …. Euler analisou estas duas séries como casos especiais de (1 − 2n + 3n − 4n + …) para valores de n aleatórios, uma linha de investigação que estende sua contribuição ao problema da Basiléia e conduz às equações funcionais do que conhecemos hoje como a função eta de Dirichlet e a função zeta de Riemann.

[Fonte: Wikipédia]

domingo, 25 de maio de 2008

I Competição Literária do Sarau

Despretensiosamente, a idéia é: todos os participantes devem escrever um conto, de tamanho qualquer, que termine com:
- Treze, e em círculo.

O prazo é até o próximo domingo. Não há preço de inscrição, assim como não há premiação; os que participarem, fá-lo-ão apenas por espírito esportivo. O texto deverá ser publicado aqui no Sarau Filosófico Gourmet.

Temos as participações de
01 . Andrezza Melo
02 . Anna Karoline Carneiro
03 . Augusto Tavares
04 . Ingrid Brasilino
05 . Raiana Soraia

Esperemos ansiosamente pela publicação do próximo domingo. Até lá!

Trabalho de gênio (stand-up comedy)

Entra um homem em trajes sociais, com uma lâmpada pendurada no pescoço e usando um óculos fino, abaixa os óculos um pouco e olha para a platéia. Recoloca-os no lugar, cumprimenta a todos e fala.

Meu nome é Oxy e eu sou advogado. Hehehe. Sempre tem alguém que se assusta quando eu digo isso na platéia. Eu tou vendo, hein? Mas, de verdade, eu sou um gênio. É. Gênio, blá blá blá, 3 pedidos, blá blá blá, riqueza, blábláblá, imortalidade, blábláblá, e mulher. Pôôô! Ninguém tem mais originalidade não, é? Eu sei que vocês tão estranhando a roupa. Mas é assim mesmo. Desde quando gênio, só porque vive numa lâmpada, tem que usar aquelas roupas coladinhas, brilhantes e aquele sapato desconfortável? Meu, vocês já pararam pra ver como é o bico daquele sapato? Noooossa, gênios também têm dedos. Aí, em protesto, eu tou aqui, fantasiado de deputado. Falta só o dinheiro, porque a cueca já tem.
Eu tou aqui é pra desmistificar, tá entendendo? A nossa classe sofre muito preconceito, e eu tou aqui pra acabar com isso. Essa história dos três desejos, por exemplo. Todo mundo quer sempre a mesma coisa, dinheiro, fama, mulher, 25cm... Mas, porra, ninguém lembra de pedir mais três desejos! "Olha, seu gênio, me dá aí uma cerveja, outra cerveja e mais três pedidos!". Já pensou? É... (fala baixinho) é bom eu não ficar dando idéia... É aquela coisa, né? Sempre deixe o amo ou o chefe escolher. Uma vez eu concedi desejos a três caras, um pra cada. Eram um chefe e dois empregados. O primeiro pediu pra estar no Caribe com várias mulheres, o segundo, num barco nas Ilhas Gregas com várias mulheres, e eu mandei os dois pros seus destinos. Aí o chefe olhou pra mim e disse: "quero os dois no meu escritório em 5 minutos".
Outro dia um japonês encontrou a lâmpada de um amigo meu, esfregou, e ele apareceu: "Ó gajo, podes fazer teu pedido!", e o japonês falou: "eu quero ter meu membro arrastando no chão", e meu colega foi lá e cortou as pernas dele. Numa hora dessas, "OHHHH!!", aparece um bocado de gente pra dizer que todo gênio é burro. Isso não é verdade, eu não tenho nada a ver com isso. Eu lembro que quando eu era estudante, eu sempre conseguia fazer os truques antes dos outros, né, tanto que os professores diziam: "Oxy é um gênio!". E ficou todo mundo frescando, né? "Oxy é gênio", "Oxy é gênio", "Oxygênio". Aí lascou. É que o trabalho da gente é complicado demais pela linguagem. Uma vez chegaram pra mim e disseram: "eu desejo a paz no Oriente Médio". Pô, mermão, tudo bem que o cara tava pensando no bem mundial, tal, mas a gente que é gênio não faz mágica, não! Aí eu falei pra ele pedir outra coisa, e ele falou: "ah... então faz o Vasco virar campeão". Aí eu tive que materializar um mapa do Oriente Médio pra ver o que que eu podia fazer.
Pra encerrar, a idéia que eu quero passar é essa, é em defesa da nossa classe, entendeu? É preciso que todo mundo saiba que gênio é gente boa, gente trabalhadora. Então eu trouxe três pedidos prontos que eu vou distribuir entre vocês. Eu vou jogar trÊs bombons, e cada um equivale a um pedido; quem pegar o bombom vai receber a mágica. Não pode comer, hein? Aí vai o primeiro, que vale DEZ MIL REAIS, ra-raê! (Arremessa e olha pra quem pegou). Sem comer, eu falei. Lá vai o segundo, que vale inteligência suprema! Olha lá, olha lá! (Arremessa). Agora esse terceiro é que é o mais disputado mesmo. Chega a ser pa-ra-do-xal, meu. Esse aqui vale um casamento feliz pra sempre, hein? Vou jogar agora! (Arremessa). Agora, vocês três que pegaram, levantem-se e digam seus nomes e suas idades. (Escuta). (Ri). Sério? E vocês ainda acreditam em gênio da lâmpada? Fantástico!

sábado, 24 de maio de 2008

Aristóteles no Paraíso ou A Queda

Depois de absolvido por Tomás de Aquino, Aristóteles ascedeu do purgatório ao Reino dos Céus. Eis que senão outro dia desses, já nos tempos humanos de modernismo, bateu à porta do cafofo de Aristóteles ninguém menos que Pedro.
- Um padre falou de você lá na Terra. Arrume suas coisas. Sinto muito.
- ψωλός!!!!!!!!!!
Pedro puxou a alavanca e um alçapão abriu-se embaixo de Aristóteles, que caiu para sempre uma queda eterna. Ele até hoje lamenta os males da modernidade; Aristóteles fora perdoado no dia seguinte.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

O filho de Perón

Caminhava quando um senhor na casa dos 60, que caminhava perto de mim, me alcançou e veio puxar assunto.

- Olá.

- ...

- Você é argentino?

- Não.

- Ah, ótimo.

- ...

- É que outro dia eu tava andando na rua e eu vi um cara. Era argentino todinho. Só podia ser. Então ele me parou e falou: "você é argentino?" E eu disse que não era. Ele reconheceu meu sotaque. Eu sou boliviano, sabe? Pois é.

- Sei.

- Ele olhou um pouco pra mim e falou: "eu sou o filho de Perón". É claro que eu não acreditei, sabe?

- Sei.

- Pois é. Mas aí eu lembrei que diziam que o filho de Perón era um assassino. Eu pus as mãos no bolso. Ele virou pra mim e perguntou: "você tá armado?", e eu disse: "estou". Olhou para ver se eu estava mesmo.

- E você tava?

- Sim.

- Hm.

- ...

- ...

- Aí ele olhou pra mim e sacou a arma. Eu saquei de volta.

- E você anda mesmo armado?

- É que eu fui do serviço secreto da polícia sulamericana.

- É?

- É. Então o filho de Perón guardou a arma e me falou que tinha fugido de lá por perseguição de Kirschner, mas que quando veio pra cá, o mandou matar uns caras aí. E aí ele tava querendo dar conta de um tal de Leandro, cujo pai tinha ido na Argentina alguns anos atrás, e que ele achou parecido comigo.

- Que história, hein? Pior que ele tava até querendo matar um xará meu.

- É. Depois eu soube que ele foi lá e matou mais uns três e sumiu.

- Nossa.

- Pois é. Agora, me diz uma coisa.

- Hm.

- Você está armado?

- Não, por quê?

- Eu sou o filho de Perón.


sábado, 17 de maio de 2008

Machado

Haveis de entender, começou ele, que a virtude e o saber têm duas existências paralelas, uma no sujeito que as possui, outra no espírito dos que o ouvem ou contemplam. Se puserdes as mais sublimes virtudes e os mais profundos conhecimentos em um sujeito solitário, remoto de todo contato com outros homens, é como se eles não existissem. Os frutos de uma laranjeira, se ninguém os gostar, valem tanto como as urzes e plantas bravias, e , se ninguém os vir, não valem nada; ou, por outras palavras mais enérgicas, não há espetáculo sem espectador. Um dia, estando a cuidar nestas coisas, considerei que, para o fim de alumiar um pouco o entendimento, tinha consumido os meus longos anos, e , aliás, nada chegaria a valer sem a existência de outros homens que me vissem e honrassem; então cogitei se não haveria um modo de obter o mesmo efeito, poupando tais trabalhos, e esse dia posso agora dizer que foi o da regeneração dos homens, pois me deu a doutrina salvadora.

(Machado de Assis, O segredo do bonzo)

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A hiperinflação em Zimbabwe



Localizado na África Austral, Zimbabwe enfrenta notório declínio em economia e qualidade de vida de 2000 até os dias atuais. O país, cuja inflação logo após sua independência, na década de 1980, variava entre 7% e 14%, atingiu, segundo dados do governo, 24.000% neste ano – ou entre 66.000% e 100.000%, segundo análises de economistas de todo o mundo. As causas são atribuídas às decisões do presidente Robert G. Mugabe, líder da nação há mais de 27 anos.


A crise atual tem várias origens. Uma delas é a política de aquisição de fazendas, que consiste em tomar terras de donos brancos sem recompensá-los, ato repudiado pela comunidade internacional. Esta teve similar reação quando o governo decidiu não pagar os empréstimos ao FMI e ao Banco Mundial, que, em retaliação e com apoio do mundo ocidental, decidiram não mais enviar ajuda. O investimento estrangeiro foi quase totalmente cortado quando, na campanha do presidente Mugabe, foi anunciada a pretensão de nacionalizar o capital estrangeiro no país, representado principalmente pela indústria de mineração. As políticas econômicas do presidente são vistas como interessadas unicamente na manutenção do seu poder, em detrimento do futuro do país.


A maior inflação da história, que chega a alcançar 1300% por mês, apresenta conseqüências catastróficas para a população do Zimbabwe. Grande parte das categorias entra freqüentemente em greve, congelando setores primordiais como educação e saúde. Apesar dos aumentos salariais que chegam a 400%, os 110.000 professores do país chegam a viver com 60 dólares americanos por mês – o que é um quarto do necessário para manter uma família de seis acima da linha de miséria. “Está fora de controle agora”, disse John Robertson, um economista crítico das políticas do governo atualmente residindo em Harare, capital do país. “Eles dizem que podem ajeitar os preços, mas as coisas que causam o aumento dos preços vêm de tantas direções diferentes que o governo não consegue controlar”.


Em 2004, o déficit era de US$523 mi, as taxas de juros, 60%, e as exportações caíam em 40%. Em âmbito nacional, os dados refletem-se em apagões, falta de água, escassez de combustível, mortes por desnutrição; doenças associadas à falta de saneamento estão reaparecendo em forma de epidemias; o mercado negro cresce assustadoramente. As medidas para retomar a economia, que incluem aumento salarial e congelamento de preços assegurado por lei, parecem pouco efetivas. Professor da Universidade de Zimbabwe, Martin Rupyia acrescenta: “O regime sobrevive imprimindo dinheiro. Nesse ponto, não há outro jeito”.


O presidente Mugabe atribui a um plano ocidental contra ele os problemas zimbabwanos, e rejeitou todos os pedidos de reforma econômica. A última resposta do Banco Central foi declarar inflação ilegal e ameaçar punir a corrupção. No meio internacional, a situação do país é pouco comentada; a África do Sul vende a crédito energia e combustível, e suprimentos são esporadicamente doados pelo Programa Alimentar Mundial, PAM, da ONU.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Camus

Há alguns anos, eu era advogado em Paris, e - juro - um advogado bastante conhecido. É claro, não lhe disse meu verdadeiro nome. Eu tinha uma especialidade: as causas nobres. A viúva e o órfão, como se diz, não sei por que, já que, enfim, há viúvas abusivas e órfãos ferozes. Bastava-me, no entanto, farejar num réu o mais leve cheiro de vítima para que minhas mangas entrassem em ação. E que ação! Uma tempestade! Eu tinha o coração nas mangas. Podia-se pensar que a justiça dormia comigo todas as noites. Tenho certeza de que o senhor admiraria a exatidão do meu tom, a justeza da minha emoção, a persuasão e o calor, a indignação controlada das minhas defesas. A natureza favoreceu-me quanto ao físico, a atitude nobre me vem sem esforço. Além disso, eu era alimentado por dois sentimentos sinceros: a satisfação de me encontrar do lado certo do tribunal e um desprezo instintivo pelos juízes em geral. Este desprezo, afinal, talvez não fosse tão instintivo. Sei agora que ele tinha lá suas razões. Mas, visto de fora, parecia mais uma paixão. Não se pode negar que, pelo menos, por ora, os juízes eram necessários, não acha? No entanto, eu não conseguia compreender por que um homem designava a si próprio para exercer esta surpreendente função. Admitia-o, já que o via, mas um pouco como eu admitia os gafanhotos. Com a diferença de que as invasões desses ortópteros nunca me renderam um centavo, ao passo que eu ganhava a vida dialogando com pessoas que desprezava.

Mas, enfim, estava do lado certo, isso bastava para a paz da minha consciência. O sentimento do direito, a satisfação de ter razão, a alegria de nos estimarmos a nós próprios são, meu caro senhor, impulsos poderosos para nos manter de pé ou nos fazer avançar. Pelo contrário, privar os homens desses impulsos é transformá-los em cães raivosos. Quantos crimes cometidos, simplesmente porque seu autor não podia suportar o fato de estar errado! Conheci, em outros tempos, um industrial que tinha uma mulher perfeita, admirada por todos e que, no entanto, ele traía. Este homem ficava literalmente raivoso ao se descobrir culpado, na impossibilidade de receber, ou de passar a si próprio uma certidão de virtude. Quanto mais a mulher se mostrava perfeita, mais ele se enraivecia. Finalmente, seu erro se tornou insuportável. Que pensa que fez, então? Parou de enganá-la? Não. Matou-a. Foi deste modo que travei conhecimento com ele.





Albert Camus, em trecho de La Chute, 1956.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Papel

Engraçado que quando eu estava vindo para cá, fui parado por alguém que me perguntou: "vai fazer o quê?", ao que respondi "vou escrever". Continuou: "escrever o quê?", e eu me peguei pensando. Como assim, escrever o quê? Não se escreve isto ou aquilo; apenas se escreve. Escrever devia ser verbo intransitivo. Como nascer.
Passada a divagação aspirante a machadiana, a intenção aqui hoje é falar sobre papel. Antes disso, porém, eu preciso definir status. Status é "a posição que cada ser ocupa na estrutura social, de acordo com o julgamento coletivo ou consenso de opinião do grupo". Papel, por outro lado, é o conjunto de maneiras de se comportar que se espera de um indivíduo dentro de uma sociedade. Papel, bem como status, são conceituações abstratas, não exata nem perfeitamente tácteis. Sendo assim, "papéis e papéis prescritos,portanto, não são conceitos que se referem ao comportamento real de qualquer indivíduo considerado"; para isso nós invocamos o comportamento do papel, que é aquilo que cada ser faz dentro (ou às vezes fora) do seu papel. Para as linhas seguintes, adotemos que papel é o comportamento do papel.

Status e papel se relacionam de forma a que este está mais atrelado àquele; cada status define um papel e seu comportamento, e isso se dá em três níveis: o comportamento esperado (aquilo que a sociedade espera), o comportamento adotado (o que você faz), o comportamento total (a influência do papel relacionado a um dos seus status nos seus outros papéis). Pensemos num médico pai de família. Seu status principal (o predominante) é de médico, mas ele é pai, e tomaremos esse para exemplificar; enquanto pai, espera-se que cuide dos filhos, dê educação e carinho (esperado); mas um pai pode defenestrar o filho (adotado); numa reunião de pais e filhos, mesmo médico, ele estará debatendo com os professores enquanto pai. Com isso, fica mais clara a diferença de enfoque entre status e papel, o primeiro sendo mais abstrato e ligado a conceito, e o segundo sendo mais concreto, e ligado a comportamento.
O sistema de status é responsável pela criação/manutenção de padrões que rege a interação entre seus membros, ocupantes de variados tipos de status. O comportamento dessas pessoas dentro desses padrões remetem, por sua vez, ao papel. A educação e polidez - ou suas respectivas ilusões - que um parlamentar apresenta com outro - "Vossa Excelência", ao invés de "Ladrão" -, do empregado com o empregador, é um exemplo das interações sistema de status - papel.
Dentre as características diversas do papel, ressalto três, e a primeira é sua relação com os contrapapéis ou papéis associados. Escolhamos um professor. O papel dele é dar aula. Mas seus alunos esperam que ele termine o assunto logo, seus colegas esperam que ele seja qualificado, seu superior espera que se dê bem com os alunos... Dessa maneira, o papel do professor é definido pelas expectativas dos seus respectivos contrapapéis, que gerarão uma concepção que deve ser correspondida. Vemos também que os papéis - bem como os status - são vivos e existem além das pessoas que os ocupam; ainda com o professor, se ele deixar de lecionar numa cadeira, ela continuará existindo, e o cargo de professor, bem como a aula que ele poderá dar, também. Daí podemos concluir que um papel pode ser desempenhado por várias pessoas - todos os estudantes de uma sala ocupam papel de estudantes da dita sala. Já vimos também que uma pessoa pode desempenhar vários papéis - como o médico que é pai, e também pode ser sócio de um clube, ser membro de uma igreja satânica...
O ser, nesse turbilhão, fica definido como possuidor de personalidade básica, esta sendo independente do grupo em que participa. Entretanto, dentro do trinômio situação-função-grupo, um indivíduo vai ser obrigado a escolher e representar um papel - na maioria das vezes, um relacionado ao que é predefinido pelo trinômio -, e esse papel sofrerá pequenas modificaçõespela personalidade básica do indivíduo.
Os papéis possuem certa flexibilidade. Alguns mais, outros menos, e isso muda de acordo com infinitas variáveis - na sociedade de castas indiana, esse tipo de "liberdade" é pouca. Vemos que essa flexibilidade vai aumentando à medida que a sociedade vai evoluindo e se aumentando seu grau de complexidade. A mulher não podia trabalhar até 1950, e não podia deixar de ter filho até 1970 (datas médias estipuladas); hoje, ambos são possíveis, comuns e às vezes até encorajado. Algo que não fazia parte do papel da mulher, em tão pouco tempo, ficou incorporado e sedimentado. Fica, então, a sociedade como criadora e transformadora de papéis.





(livro base: sociologia geral, de eva maria lakatos, colaboração de marina de andrade marconi)


PS: o papel do leitor é ler, entender e comentar.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Estrada de Bambu

Existem épocas da vida de alguns insetos, que esses passam pela metamorfose. Adquirem uma maior resistência, e, portanto, conseguem sobreviver melhor. Entretanto, eles precisam fazer isso, não uma, mas diversas vezes, para chegar a seu estado adulto. Esse último estado permite a maior experiência, e equivale aos nossos anciões. Grande sabedoria, vinda de inúmeras épocas, mas ela tem um preço. É aquele que devemos pagar a vida inteira para chegar àquela altura. É o preço da consciência. Enquanto alguns vivem, apenas para transmitir seus genes, sem se preocupar com as metamorfoses, os insetos mais importantes são aqueles que atingem o ápice de sua espécie, e, com isso, podem guiar o futuro dela. Viver, apenas vivendo, é o papel da maioria, é livre, grátis e opcional. Mas, escolher, determinar um futuro, próprio ou social, significa peso. PESO.

O futuro incerto dilacera esperanças quando se está no começo de uma nova ecdise. Esse mesmo futuro - guiado pelas metamorfoses - é, agora, apenas uma mera noção indeterminada de tempo. E, mais uma vez, essa consciência cabe aos mais pesados da espécie, aqueles que sofrem por saber disso. Mas, não são as metamorfoses, criadoras de resistência? Resta passar a fase, libertando-se da casca, para descobrir a solução, e novamente guiar-se até os mais longínquos tempos, sempre de exoesqueleto firme.