segunda-feira, 30 de março de 2009

Monoteísmo e sentido da vida



Vejo como sendo muito mais provável, no caso em que se prove a existência de forças acima da humana, que estas sejam organizadas de várias formas, que sejam vários deuses, ao invés de um só. Sim, pois que, já lembra Epicuro, "deus deseja impedir o mal, mas não pode? Então ele não é onipotente. Ele é capaz, mas não deseja? Então ele é malevolente. Ele tanto é capaz como deseja impedir? E por que há mal? Ele não é nem capaz nem deseja impedir? Então por que chamá-lo deus?". Que, então, fosse uma espécie de Câmara, um Congresso, uma Assembléia-Geral, em que todos os deuses sentassem em suas cadeiras confortáveis e discutissem, eternidade afora, o futuro da humanidade. Cada deus, por sua própria natureza de divindade, teria a faculdade de vetar uma proposta, idéia, ação com relação à humanidade e o universo; entretanto, com seus egos milenares, nenhum deixaria que uma proposta de outro fosse aceita, por não ser sua própria; o mecanismo decisório ficaria travado até o fim dos tempos e o universo estaria, portanto, à própria sorte. Uma espécie de céu democrático que não funciona.



A crença acima, prefiro tachá-la de saudável. Havia pensadores gregos se perguntando "não teriam sido os deuses apenas uma criação para legitimação do poder?". Sagaz, é preciso reconhecer, foi a junção de todos os deuses num só. É claro: o poder divino sendo federativo, dividido entre terra, submundo, água, céus..., fragmentado, pois, em várias partes, dava a faculdade do uso da liberdade (posso seguir a quem eu quiser dentre as várias opções), e, ao mesmo tempo, reduzia a fé a vários grupos (sacerdotes de um deus, seguidores de outro...); enquanto a suposta existência de apenas um congregava os mediadores e os fiéis, declarava posse de todo o universo, exercendo, assim, poder imperial. Já que só ele existe, não há escolha: ele deve ser obedecido; a submissão é imposta. Os mecanismos coercitivos já existiam, mas passam a ser exercidos por um poder unitário, monolítico: não há como escapar. A pergunta acima feita sobre legitimação cai especialmente bem neste momento - tudo passa a ser uma questão de exercício de vontade de dominação.


Nem tudo ia tão mal até quando o bispo de Hipona, também identificado por Agostinho, vê a necessidade de unificar e clarificar a doutrina da igreja. Se o pensamento anterior, grego, previa um modelo de temporalidade um ciclo infinito do cosmos, (e futuramente vai-se conceber a idéia de um eterno retorno), o filósofo cristão defende a noção de um tempo linear - há um começo e um fim. O começo fica estabelecido pelos contos da Mitologia, e o fim, embora não se saiba quando, haverá de chegar, como também previsto nessa Mitologia. O conceito de linearidade traz conseqüências de toda sorte até os dias de hoje; sem linearidade, não haveria conceito de evolução, que tanto atrasa os conhecimentos de Ciência e História. Tudo gira como se fosse a história de um homem só, constituída por eventos ímpares, e que possui um sentido e uma orientação. Ora, a pretensão do homem em sua magnânima tolice fê-lo crer ser algo perante o magnânimo (de fato) universo (conceito de responsabilidade histórica), frente ao qual sua mísera existência nada significa - existiu antes de dele, continuará existindo após ele. É de entender, não obstante, a procura por atribuir à linha histórica um sentido; ele parece cessar de existir quando é desvinculado do Eu, tendo que se vincular a outras estruturas ditas onipotentes: aí que são os deuses legitimados. Em templos de reflexão como os existentes na Índia e na China, encontram-se ocidentais peregrinando em busca do sentido da vida. Os indianos e os chineses, então, se perguntam: "e por que, se não o acharam lá, acreditam que vão encontrá-lo aqui?".



A vida humana é um fenômeno supervalorizado. Se, por um lado, de nada vale o ser humano, e sua existência não tem sentido ( tem a visão temporal limitada, distinguindo presente de passado e futuro, é incapaz de alterar a rota universal, é frágil ), a reconhecer que o homem é nada; por outro, o Eu é tudo, inclusive o próprio sentido, e tudo começa com o Eu. Não pode haver nada antes nem depois do Eu, apenas durante. A apreensão da História é falsa, a comprovação da Ciência nada comprova, todo o legitimamente confiável é apenas o conjunto de sentidos e sensações. Quando aparece a consciência do Eu, tudo surge a partir e emana dele; Ciência, História, Arte; aquilo que reconhecidamente é o Eu, aquilo que não parece ser (ainda que seja) e aquilo que o Eu aparenta desconhecer, os dois últimos se dando de forma latente. O sentido não está fora - quiçá não há sentido, mas, se há, haverá de ser encontrado no e pelo Eu. Reconhece outros deuses se quiseres, eles valem apenas para os homens; mas deixe que teu Eu seja senhor do teu destino; sê teu próprio deus.

domingo, 29 de março de 2009

Exemplos para entendimento do princípio de ação e reação ideal e de facto

Ação I: Dez chopes e parada da blitz.
- Reação ideal: Multa.
- Reação de facto: Um décimo da multa na mão do guarda.

Ação II: Vinte e cinco pedaços de pizza.
- Reação ideal: Seis horas de academia.
- Reação de facto: Um litro de coca.

Ação III: Pedestre atravessando a rua.
- Reação ideal: Pára o carro. Faz sinal com a mão.
- Reação de facto: Acelera o carro. Faz sinal com o dedo.

Ação IV: Acidente potencialmente letal envolvendo mais de 10 pessoas.
- Reação ideal: Corre pra ajudar.
- Reação de facto: Corre, puxa o celular do bolso e filma.

Ação V: Político rouba.
- Reação ideal: Vai preso.
- Reação de facto: Nas eleições do ano seguinte é eleito num cargo mais alto.

Ação VI: Esfomeado rouba.
- Reação ideal: Vai preso.
- Reação de facto: Faz pós-graduação latu sensu com seus colegas de quarto.

Ação VII: Windows funciona.
- Reação ideal: Não se sabe. Nunca aconteceu até hoje.

Ação VIII: Passar alimento cremoso numa fatia de pão.
- Reação ideal: O pão cai virado pra baixo.
- Reação de facto: O pão cai virado pra baixo (você o apanha, levanta, vai colocar no lixo, escorrega na sujeira que ficou no chão, cai de costas, bate a cabeça e morre).

Ação IX: Pedir cancelamento de serviço via telefone.
- Reação ideal: O serviço é cancelado depois de três meses de insistência.
- Reação de facto: “Ok, senhor, obrigado por aumentar em 300 reais seu pacote promocional, tenha uma boa tarde.”

Ação X: Alguém escreve um texto idiota e posta num blogue.
- Reação ideal: Comenta.
- Reação de facto: Comenta, senão...

sexta-feira, 27 de março de 2009

Louça


Muito sono. Banheiro, fica apresentável. Cozinha, não sente gosto. Duas ruas até a parada. Ônibus lotado. Espremido entre pessoas que nunca viu durante alguns minutos. Primeira aula, convenientemente no bloco mais distante. Quatro horas tentando lembrar-se da paixão por aquilo que estuda. No almoço, prato feito, com gosto feito e satisfação feita. Logo, nenhuma. Aulas à tarde. Ônibus ainda mais lotado. Casa. Tudo em ordem. Jantar. Livros e cadernos, questões e teoria. Sequer tomar um banho ou trocar de roupa. Meia-noite, tendo a certeza de que falta algo. Banho e sono são opções atraentes.
Não fosse a louça para lavar.

domingo, 22 de março de 2009

Estado de Alerta






Divulga-se na mídia a mais polêmica e aterrorizante notícia: "ocorreu um ataque terrorista ao suprimento de água da cidade de Los Angeles. Todos devem evitar consumir a água fornecida pelos reservatórios locais. O terrorista está solto e todos os procedimentos possíveis estão sendo executados para a sua punição."

A partir daí, o cenário é evidente. Pessoas brigando pelo consumo de água descontaminada, sempre atentas à novas notícias, tentando sobreviver na cidade de Los Angeles. Os personagens não importam muito, apenas os seguintes detalhes chamam a atenção: não surgem doentes, estes apenas são citados estatisticamente; o terrorista, quando pego, sai de uma casa que aparenta ser de classe média e não coopera com a inteligência nacional, alegando não ter relação alguma com tal contexto; as notícias são passadas de uma maneira duvidosa, pois lembra o velho populismo norte-americano; há relações com a guerra no Afeganistão durante quase todo o filme; e ainda alguns outros detalhes.

Levanta-se a pergunta: será que tudo isso é apenas um pretexto para incentivar, mesmo que de uma forma indireta, os americanos a concordarem com a guerra? Afinal, a função da inteligência nacional estadunidense é, também, dar um motivo para os americanos irem à guerra. Então, simulado o ataque aos reservatórios de alguma cidade, o governo precisaria apenas de uma escrivaninha e vários papéis para os inúmeros voluntários à tão relevante causa nacional. De fato, o Tio Sam ainda existe, ele apenas mudou de forma.

O filme, de forma clara, não trata sobre isso. Trata apenas de alguns casos já muito discutidos, como a falta de água e sua repercussão social. Na verdade, essa interpretação talvez tenha sido a única pretendida pela direção, mas não dá pra deixar de imaginar que haja algo por trás disso tudo, pois há muitas evidências. Estado de Alerta talvez não seja uma emergência que precise ser enfrentada, talvez seja um grande botão vermelho na vasta escrivaninha do presidente que, quando pressionada, traga mais voluntários para dedicarem seus livres arbítrios à causa nacional.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Duas pessoas morrem atingidas por raios em Brasília

Brasilia BNeT Server.

*DeUs_Do_CeU has logged in

DeUs_Do_CeU: Iai galeara! Hj eu to com tudo!

*DeUs_Do_CeU has cast Thunderstorm.

** Normal Citizen was killed by DeUs_Do_CeU.
** Working Guy was anihilated by DeUs_Do_CeU.

DOUBLE KILL!

DeUs_Do_CeU: lvl up! kkkkk


******

Do céu,
todos sabem,
Raios caem
E guturais que gritam DOUBLE KILL.

quarta-feira, 4 de março de 2009

J' Accuse!


Contar-lhes-ei um caso de anti-semitismo que precede um pouco o nazismo. Ocorre acerca de um oficial militar francês chamado Alfred Dreyfus, promissor em sua carreira, graduado na École Polytechnique e na École Supérieure de Guerre. Tinha acesso aos lucros de uma fábrica de produtos têxteis cujo sucesso crescia bastante, parte de sua família era germânica e esta decidiu nacionalizar-se como francesa após a guerra franco-prussiana. Vivera em Paris a partir dos 12 anos. Mas, apesar de tal vida, Dreyfus tinha algo que chegaria a causar um escândalo político absurdo. Era judeu.

Na França, durante a terceira República Francesa, campanhas políticas embasadas em um nacionalismo francês exacerbado tinham algumas idéias anti-semitas e idealizavam a formação de uma unida França católica. Nesse contexto, em 15 de outubro de 1894, Dreyfus é preso sob a acusação de ter entregue informações aos alemães pela embaixada alemã em Paris. A prova, de acordo com o julgamento, estava na carta achada na cesta de lixo do adido militar alemão da embaixada. Condenado como traidor, Dreyfus é mandado à prisão perpétua na Ilha do Diabo, localizado na costa da Guiana Francesa.

Eis a verdade. A carta fora escrita por um oficial chamado Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, que, de fato, estava entregando informações importantes aos alemães sobre a artilharia do exército francês. Sua letra era praticamente ilegível e possuía inúmeros erros de gramática, o que tornava suspeito a condenação de um oficial como Dreyfus que escrevia tão bem. Dada essa e outras evidências, um segundo julgamento foi realizado mas, mesmo assim, Dreyfus continou a ser um presidiário.

Ocorre, a partir de então, o estopim para um escândalo político. Tornado o caso conhecido popularmente através da carta aberta, intitulada J'accuse!, ao Presidente da República Félix Faure , a França foi dividida em aqueles que apoiavam a libertação de Dreyfus (os dreyfusards), incluindo entre estes Émile Zola (personagem importante do Naturalismo na França), o qual expôs o caso ao público; e aqueles que exigiam a continuação de Dreyfus na Ilha do Diabo, formado por uma camada popular aderente ao anti-semitismo e à política de uma nação católica. Algumas ruas tiveram, como paisagem, verdadeiros pogroms.

Em 1906 foi feita uma revisão do caso e Dreyfus finalmente adquire sua liberdade para, em 1907, pedir demissão. Participou ainda na primeira Guerra Mundial e morreu em 1935. Posteriormente, em uma evidência publicada por um historiador militar francês chamado Jean Doise, aceitou-se como possibilidade o fato de que a 'contra inteligência' militar francesa havia utilizado Dreyfus como cobaia para enganar a espionagem alemã. Zola morrera, desde 1902, por razões misteriosas, encontrado asfixiado em seu apartamento. Charles Ferdinand instalara-se, a partir de 1903, na Inglaterra, desfrutando da boa vida enquanto contemplava e imaginava sua participação no processo. Charles fora anti-dreyfusard até o fim.