segunda-feira, 5 de maio de 2008

Estrada de Bambu

Existem épocas da vida de alguns insetos, que esses passam pela metamorfose. Adquirem uma maior resistência, e, portanto, conseguem sobreviver melhor. Entretanto, eles precisam fazer isso, não uma, mas diversas vezes, para chegar a seu estado adulto. Esse último estado permite a maior experiência, e equivale aos nossos anciões. Grande sabedoria, vinda de inúmeras épocas, mas ela tem um preço. É aquele que devemos pagar a vida inteira para chegar àquela altura. É o preço da consciência. Enquanto alguns vivem, apenas para transmitir seus genes, sem se preocupar com as metamorfoses, os insetos mais importantes são aqueles que atingem o ápice de sua espécie, e, com isso, podem guiar o futuro dela. Viver, apenas vivendo, é o papel da maioria, é livre, grátis e opcional. Mas, escolher, determinar um futuro, próprio ou social, significa peso. PESO.

O futuro incerto dilacera esperanças quando se está no começo de uma nova ecdise. Esse mesmo futuro - guiado pelas metamorfoses - é, agora, apenas uma mera noção indeterminada de tempo. E, mais uma vez, essa consciência cabe aos mais pesados da espécie, aqueles que sofrem por saber disso. Mas, não são as metamorfoses, criadoras de resistência? Resta passar a fase, libertando-se da casca, para descobrir a solução, e novamente guiar-se até os mais longínquos tempos, sempre de exoesqueleto firme.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sem dúvida; mas será que vale a pena arriscar o exoesqueleto por umas noções de consciência e experiência? Os outros insetos, os não-possuidores dessas "qualidades", vivem hedonisticamente. Quem vai, imparcialmente, concluir o que é melhor para o ser-inseto?

Kondlike disse...

Discordo, sr. anônimo. Consciência e experiência servem para atrair o prazer. Dá poder para o ser alterar seus conceitos e princípios.

A massa não vive hedonisticamente, a massa vive jogando com seus medos sem enfrentá-los ou mesmo saber que eles existem.

Anna Carneiro disse...

E é a história de como todos nós nos tornamos Samsas, de como toda a consciência da qual nos orgulhamos nos leva a uma inquietação sem fim. O conhecimento traz um peso enorme. Os que não sofrem estas metamorfoses simplesmente passam pela vida em brancas nuvens, mas não têm a consciência disso. O velho dilema do pensar que só existe o que se conhece, só o igual é aceitável e só o constante é comum.