domingo, 2 de agosto de 2009

Sétimo dia


Mentiu quem disse que o sábado era o sétimo dia e foi tolo quem acreditou. Alguém precisava, afinal, justificar o fato de um primeiro dia se chamar “segunda”. Ou podem ser culpadas por isso as trevas de um espírito preso. O domingo costuma ser um dia essencialmente contemplativo. Esse dia fatídico, que não parece se diferir de outro qualquer além do fato de preceder um dia de trabalho e não ser, a priori, um dia para labutar, está cercado de certa mística impossível de desvendar. Nesse dia, os espíritos livres, as almas de papel e os cérebros de esponja estão perturbados ou constrangidos por força indescritível. E isso vem de muito longe. No sétimo dia, um domingo não diferente do de hoje, deus, depois de desistir de uma pedra grande demais, sentou sobre um banco em frente ao mar. Abriu os olhos e contemplou o mundo, a absorvê-lo na mais magnânima e sinestésica apreciação estética. E então chorou: havia criado um mundo que unia, sem paradoxos, uma contradição: beleza e dor. E o que fizera não tinha mais como desfazer.


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