domingo, 9 de dezembro de 2007

Relógio do braço direito


Cinco e quarenta. Eu acho. Olho para o relógio no braço direito. Cinco e quarenta e um. Olho para o da mesa de cabeceira. Cinco e trinta e nove. É, fazendo a média dá cinco e quarenta mesmo. (Meu relógio biológico está bom como sempre).

Levanto, encaro-me no espelho a primeira vez. Lavo as mãos. Cinco e cinqüenta. Tomo um lento banho quente. Seis e um. Olho-me de novo no espelho enquanto tento arrumar o pouco cabelo que me resta. Seis e um e meio. Sigo para o quarto. Visto a cueca, as meias, a camisa, abotôo a camisa, gravata, calça, cinto. Celular. Não gosto dele. Meu braço direito diz que é seis e seis e o celular diz que é seis e sete. Obviamente está errado.

Desço as escadas. Lavo as mãos, frito ovos, como pão integral, bebo suco de caixa e ainda levo uma barrinha de cereais para o trabalho. Seis e vinte. Isso! Bom tempo.

Entro no carro. Seis e vinte e um. Hoje não vou para o trabalho.

Saio do carro, já são seis e cinqüenta e um. É por isso que saio cedo de casa. A rua sempre me atrasa. Odeio atrasos. Cumprimento os funcionários cordialmente. Seu José, sempre bem animado. Seis e cinqüenta e nove. É gente demais com quem falar. Chego na sala. Sete em ponto. Gosto de chegar na hora, nem que seja uma hora mais cedo. Vou lavar as mãos. Tenho tempo, e tudo aqui é muito sujo mesmo.

É minha primeira visita ao psicólogo, pensei. Não sei porque estou aqui, pensei. Tá, eu só venho aqui essa vez. Vim mesmo só pra agradar à velha, lá, que vive insistindo para que eu venha. Assim eu a acalmo. É. Oito e um. A psicóloga não chegou. Odeio atrasos.Vou lavar as mãos.

Folheio a Caras, IstoÉ, Contigo, Veja, Época, Discutindo Literatura, uma revista anarquista de produção local independente, a playboy do mês (depois tive que lavar as mãos)... Oito e dez. Droga.

Depois de cinco intermináveis minutos a pomposa senhora entra com aquele ar angelical de quem não comete pecados. E era assim mesmo que eu pensava. Alguém que trabalha examinando as burradas dos outros e tentando corrigi-las não pode cometer essas coisas, né? Bem, a secretária veio me chamar. Oito e dezesseis. Lavo as mãos e vou.


***


Nove e quarenta e sete. Volto pra casa revoltado. Paguei pra uma puta me dizer por uma hora que eu tenho TOC.

Um comentário:

Anna Carneiro disse...

hahahaha MUITO BOMMM! :D
Sempre me divirto com seus textos. Que agressivo!?!?! Muito legal \o/