segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

A conspiração

Dia 13.

Estamos com sérios problemas, há dias eles nos espiam... Sempre com aquelas cabeças atentas, sempre prontos para transmitir informações para o restante dos companheiros.
Ficam parados por horas, exercendo a presença réptil. Olhos fixos, observadores.
Sinto-me ameaçado mais e mais. Aos poucos, meus companheiros vão se dissipando, ao ponto que entramos aos cem, e somos menos de vinte hoje.
Cada amanhecer é uma tortura, levantar toda a carga, pesos desequilibrados, e ao conseguir orientar-me, já estou sendo observado.

Dia 31.

Somos apenas seis. Dois feridos, um gravemente. Estamos perdendo a batalha. Eles são muito rápidos, entretanto muito frios. O ambiente os ajuda e nos atrapalha ao mesmo tempo. Temo por nosso fim. Escuto barulhos... pequenas luzes em pares permanecem por horas e horas. Não temos idéia de como derrotá-los.

Dia 40.

Só resta a mim. Breve me livrarei dessa tortura. Meu corpo, não sei ao certo se posso mais chamá-lo disso, está definhando. Sinto que estarei livre do físico, falta-me confirmar se essa era mesmo a vida que queria.
Cada movimento é uma agonia.

Dia 48.

Sinto-me estranho. Não sinto mais o físico cansado e retardante. Algumas habilidades de investigação ainda permaneceram. Certamente, aquele que me trouxe até aqui está bastante debilitado.
Frio... muito frio, mas saboroso frio. Sinto a doçura em meus vasos. A agilidade palpita em meus músculos. Sede... sim, muita sede. Não sei ao certo que tipo de bebida, mas sei como observar.

Dia indeterminado.

O tempo já não é problema, nem tão pouco ajuda. Disponho da eternidade. Aquele monte de carne que corria sem um único objetivo já não existe. Sessenta e três anos de pura existência social hipócrita. Humanos, insetos patifes, demasiado humanos. Acham que conhecem alguma coisa sobre a vida. Tão necessitados e tão fracos, cheios de medos e necessidades a suprir. Ao menos, têm uma utilidade, me fornecem minha bebida.
Ah! Outras vítimas, meus instintos gritam! Argh!! Sim... estão sendo observados, seus patifes... E estarão pelo resto de suas vidas mesquinhas. Venham... deixem-me observá-los, não temam...
Vocês serão meu passatempo enquanto procuro o canino que certamente está matando quem me abraçou.

Nenhum comentário: