sexta-feira, 13 de julho de 2007

A arte pop

(este é um texto com o selo "SOCIEDADE AMANTES DA LEITURA")


(Pop Art, por Mel Ramos)

Chega de Andy Warhol! O que nós queremos é a utopia dos artistas! Um lugar onde todos nós, escritores, músicos, compositores, cantores, pintores, escultores, desenhistas, atores, diretores, e, claro, poetas, teriam seu lugarzinho reservado! Nada de leis para prender poetas boêmios, tomar violões de cancioneiros da meia-noite! Deles seria a noite, e ai daquele que se incomodasse com isso!

Queremos um lugar onde a arte seja pop, onde a arte seja valorizada pelas massas. Não a arte comercial, a arte como ela é. Não aquela gigantesca empresa que promove aquele CD com qualidade irrisória, mas aquele desenhista-de-folha-de-trás-de-caderno-de-escola que virou advogado por pressão dos pais. Queremos uma arte pop decente!

Queremos que todos apreciem arte pelo que a arte é, queremos que todos sintam-se tocados pela arte. Queremos ser inspirados pela poesia! Eis o nosso mundo.

Andaríamos pelas esquinas recitando poesia. “Eu, filho do carbono e do amoníaco...”, recitaria um transeunte. Um taxista que observava a cena prosseguiria: “... monstro de escuridão e rutilância!”. O pedestre viraria para o taxista, sorriria, e prosseguiria feliz sua caminhada, sabendo que o mundo está mais feliz porque todos gostam de poesia.

Haveria música toda noite. Algumas noites iríamos pro Bach, outras, pro Chopin, mas sempre terminaríamos com Nelson Rodrigues. Admiraríamos o artista que pinta a amada na sacada, e o infeliz que diz à namorada que só ela existe a seus olhos (afinal, retórica também é uma arte).

Teríamos exposições de arte, e verdadeiros entendidos para apreciá-las. Não aquele que diz que o traço tem um estilo suavemente impressionista, muito embora a coloração pareça surrealista, e o pintor se encaixe num novo movimento que mistura... Não, isso não. Teríamos quem dissesse “é bom” e sentisse o trabalho.

Ah!, os festivais de dança! Grupos e casais que dançariam a noite toda como se a noite fosse uma vida inteira, não para competir, mas pela elegância e o prazer que a dança proporciona. E teríamos expectadores: os que dançaram nas noites anteriores e os que dançarão nas noites seguintes.

Não nos esqueçamos que cozinhar é uma arte. Todos comeriam bem nesse mundo. Não há necessidade de se empanturrar: a boa arte sempre deixa um “gostinho de quero-mais”. Os pratos seriam preciosos em todos os sentidos: aspecto, textura, sabor, cheiro, fineza... E todos saberiam apreciá-lo.

Todos gostariam de literatura: adeus ao analfabetismo, e, finalmente, grupos de leitura que realmente lêem! Com a leitura, conhecimento, e até os tediosos debates políticos tornar-se-iam encontros curiosos de repentistas.

Num mundo baseado na arte, até aprenderíamos a observar a arte natural, a natureza em si. Saciaríamos nossos sentidos com as artes que impressionam cada um deles individualmente ou em conjunto. Depois de um dia cansativo de trabalho, seus sentidos estariam todos plenamente satisfeitos. Você dormiria feliz, acordaria feliz. O mundo seria feliz. Talvez nem morrêssemos. A morte tem pena de tomar uma vida plena. Ou seríamos tão impressionados pela arte que nós revelaríamos a obra perfeita que somos. E a arte a morte não toma.


(Bocage, poeta português)


2 comentários:

cyruzin disse...

Blog anal, mas contem uns textos interessantes!! :P

Anônimo disse...

Pisterovix...
Ei, eu gosto do que você escreve. Sempre leio.
Que bom seria se o mundo fosse tal qual você idealiza nessa cronica. Onde a arte é mais difundida e nao presa a nata. Seria maravilhoso ver crianças 'declarando' poesias por declarar mesmo, por gostar realmente e nao porque é obrigada ou entao por ser trabalho escolar.

Gostei desse blog...tem coisas bem interessantes. Sempre que posso eu dou uma passada por aqui ^^