terça-feira, 8 de julho de 2008

Breve reflexão sobre justiça

Ser injusto necessário

Todos os juízos sobre o valor da vida se desenvolveram ilogicamente e são, por isso, injustos. A inexatidão do juízo reside, em primeiro lugar, na maneira como se apresenta a matéria, isto é, muito incompleta; em segundo lugar, na maneira como a respectiva soma é efetuada; e, em terceiro lugar, no fato de cada fragmento isolado dessa matéria ser, por sua vez, o resultado de um conhecimento inexato e isso de forma absolutamente necessária. Nenhuma experiência, por exemplo, acerca de um homem, por mais próximo que esteja de nós, pode ser completa, de modo que tivéssemos um direito lógico para fazer uma avaliação global da mesma; todas as avaliações são precipitadas e devem sê-lo. Finalmente, a unidade que nos serve de medida, nosso ser, não é uma grandeza invariável; nós tempos estados de espíritos e oscilações e, não obstante, deveríamos conhecer-nos a nós mesmos como uma medida fixa para podermos fazer uma avaliação justa da relação de qualquer coisa conosco. Talvez disso tudo decorra que não se deveria julgar em absoluto; se somente viver sem fazer apreciações, sem ter inclinação nem aversão! De fato, toda a aversão está ligada a uma apreciação, assim como toda a inclinação. Um impulso a se aproximar de qualquer coisa ou a se afastar de qualquer coisa, sem um sentimento de querer o vantajoso, de evitar o prejudicial, um impulso sem uma espécie de apreciação, de reconhecimento quanto ao valor do objetivo, não existe no homem. Somos, por destino, seres ilógicos e, por isso, injustos, e podemos reconhecê-lo: esta é uma das maiores e das mais insolúveis desarmonias da existência.
(Nietzsche, F. – Humano, Demasiado Humano)


Baseados no texto acima, podemos ver que julgamentos são injustos, e é fato que isso ocorra, como já foi explicado acima. No trecho: “Nenhuma experiência, por exemplo, acerca de um homem, por mais próximo que esteja de nós, pode ser completa, de modo que tivéssemos um direito lógico para fazer uma avaliação global da mesma;”, tem-se uma situação muito semelhante a um julgamento tradicional, desses que acontecem diariamente em tribunais de “Justiça”.

Também é sabido que determinados temas exigem bastante análise para chegar a uma conclusão (muito embora, qualquer conclusão seja precipitada, já que não temos a faculdade de conhecer a verdade absoluta), e essa muitas vezes é injusta. Ademais, por tratarmos de pessoas, cada caso reside em sabermos avaliar a fim de darmos um veredicto que condiz com a realidade – pelo menos, a mais próxima. A subjetividade é bastante presente, e, portanto, são necessárias reflexões sérias acerca dos dados, procedimentos corretos ao tratar esses, já que existem pesos que nos fazem tender a um determinado lado.

E por não ser expressão exata, um ato nunca poderá ser avaliado corretamente, se morais diferentes forem usadas. Por não existir uma expressão exata de moral, deve-se tentar abstrair o máximo possível, esses pesos, já que o julgamento (simples “inocente” ou “culpado”) será posto sobre outras pessoas. Ainda vale lembrar, que essas pessoas têm juízo sobre “certo” e “errado”, diferentes (ou “distorcidos”, como queiram impor os “eruditos engravatados” dos tribunais). Logo, por exemplo, um pão roubado não se pode equiparar a um roubo de cofre público.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apenas mais um instrumento de manipulação, eu diria, embora ainda possua várias outras utilidades.