sexta-feira, 18 de julho de 2008

Surdo


O céu está limpo; não está tão escuro quanto deveria. As luzes da cidade apagam as estrelas com as quais tanto queria falar. Apertando os olhos, encaro-as. O vento da noite enlaça meu peito nu e os sons da cidade à noite me fazem seresta e fogem. As paredes são frias; toco-lhes e não tenho resposta. Canto um grito de socorro e depois grito um canto de desespero. Não há resposta. Levanto-me e tento abraçar o vento, que dança e se desfaz num arrepio de hipotermia. Encaro novamente o céu à procura de esperança. Vejo o semblante de um deus. Ele tem medo e dá as costas em toda a sua onipotência. Encosto-me no pequeno pedaço de nada que me separa do último vôo e o atravesso. Não há resposta.

4 comentários:

Kondlike disse...

Ótima crítica. Bem contemporânea, inclusive.

Ingrid B. Montenegro disse...

"Encosto-me no pequeno pedaço de nada que me separa do último vôo e o atravesso."

nossa =~
melancolico, hein!

miss you, Phil. =*

Aline Melo disse...

tive a sensação de ouvir sua voz lendo o texto!

adorei :)

Anônimo disse...

"Nossa, que visão pessimista", dizem os tolos. "Não, visão realista mesmo", pensa o sábio.