domingo, 5 de julho de 2009

Pós-contemporaneidade

- As coisas mudam...
- O que quer dizer?
- Na época dos meus avós, era comum conhecer a maioria das pessoas que moravam nas vizinhanças, fosse um bairro ou vilarejo.
- É verdade.
- Meus pais, já um pouco avançados em idade, falam, saudosos, que conheciam todos os vizinhos com cachorro.
- Pelo fato de que saíam à rua pra passear, e encontravam e davam-se bom dia, né?
- No caso do meu pai, sim. Minha mãe não tinha cachorro, mas tinha o sono leve. Cada noite ela lembrava de todos os vizinhos que tinham cachorro.
- Meus pais criavam peixe.
- Ao menos conheciam o cara da venda que fornecia a ração.
- De fato.
- Ninguém hoje costuma lembrar que tem vizinho. Só quando ele dá festa, e só para ficar amargurado ou reclamar do barulho.
- É, as coisas mudam...
- O que quer dizer?
- Antigamente, quando nossos avós eram jovens, era romântico e bonito dizer “eu te amo”.
- Com a revolução sexual, isso passou a ser “eu te desejo”, e, depois das militâncias feministas, “eu te respeito”.
- O que você acha de hoje?
- Me incomodo com tanto pragmatismo.
- Eu também. Minha filha decidiu morar com o namorado quando ele falou: “tudo bem, eu posso comprar o pão hoje, já que você vai trabalhar até mais tarde”.

2 comentários:

Kondlike disse...

Ainda acho que essa história de mulher mulher trabalhar é a parte final de um grande erro. O humano adora se trair. É a burrice coletiva.

Aline Melo disse...

ainda é bonito dizer "eu te amo"