segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Considerações em torno do ato de estudar


Todo livro tem uma intenção fundamental de quem o elabora que é o desejo de despertar em quem ler o interesse pelo tema abordado de maneira que facilite, assim, o aprendizado. Entretanto, a relação entre o estudo-aprendizado é mais uma relação de interesse e do despertar deste nos leitores do que apenas a leitura pura e seca; já que, se assim for, a bibliografia tornar-se-á inútil.

A observação dos títulos citados ou a leitura só com olhos deixa a desejar, pois quem recebe o que foi escrito deve tê-lo como uma fonte de pesquisa e de desafio. Pesquisa porque ele é a fonte primária de onde nascem os interesses para busca de outros títulos que apresentem o mesmo tema só que abordado de maneira diferente. Desafio porque quem estuda sente-se desafiado a apropriar-se de seu significado.

O ato de estudar não está apenas em responder questionamentos, fazer resumos e leituras, mas sim em apresentar uma postura crítica sobre todos os temas estudados, pois só assim o conteúdo é fixado com idéias próprias e não copiadas. A disciplina intelectual que é exigida no estudo só se ganha praticando.

Esse princípio de deixar o estudante livre à críticas e pronto para montar sua própria resposta é o contrário do que a “educação bancária” estimula, já que esta mata a curiosidade e não propõe crítica, mas sim um conhecimento “ctrl C, ctrl v”, diminuindo o papel do individuo frente aos textos, disciplinando-os para a ingenuidade. Na “educação bancária” o estudo torna-se mecânico porque o que é pedido não é a compreensão do conteúdo, mas sim sua memorização.

Então, o estudo que desafia não deixa o estudante magnetizado às palavras do autor, ele não é uma “vasilha” que guarda apenas as palavras do autor. Quem estuda seriamente, recria, reinventa, reescreve. A atitude crítica do estudo deve assemelhar-se a da realidade, pois nela o sujeito deve adentrar-se de maneira a tornar o que é estudo lúcido.

Nesse universo, os livros são mediadores dos indivíduos com o mundo, expressam as idéias e criam novas; E esse é o ponto fundamental, o molde do pensamento para que este nasça livre e com o propósito de criar um novo.

Outro fato interessante é a junca da teoria com a prática visto que a teoria pura funciona apenas como conhecimento mecânico – e com isso volta-se para uma educação bancária. O instrumento da prática possibilita a percepção e a união das idéias em torno da realidade e, assim, capacita o individuo a fazer questionamentos e participar destes enriquecendo a todos.

Frente à realidade o individuo deve ter um estudo de uma bibliografia a cerca do tema abordado para que, junto a outros que também tenham, possa jogar as idéias e uni-las formando um pensamento concreto e, o mais importante, com fundamentos. Para que as idéias retiradas da teoria sejam postas em prática de maneira clara e correta, deve-se estabelecer uma discussão com o autor do texto, ou seja, uma interação crítica feita durante a leitura.

E, lembrar-se de que desde outros tempos foi dito em relação ao ato de estudar, a humildade que se faz necessária para tal. Se não devemos nos sentir diminuídos ou envergonhados para com o conhecimento apresentado nos textos, também não é coerente sentirmos maiores. O entendimento nem sempre acontece rapidamente, mas se o fizer devemos ver nisso apenas o prazer de saber um pouco mais do assunto e não achar que alcançamos um patamar mais elevado apenas pelo rápido entendimento de algo.

“Estudar não é um ato de consumir idéias, mas de criá-las e recriá-las.”

FREIRE, P. R. N. Considerações em torno do ato de estudar. IN: Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 5. Ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1981.

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