segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Liberdades

Ao nascer do sol, o soldado puxava as primeiras notas de Alvorada. O grupo marchava. Não era um dia como outro qualquer. As notas do dobrado ecoavam não como raios de sol, mas como lamentos de quem tem que as ouvir todos os dias e parecer igualmente radiante. Não pondendo parar, nem, pois, parar pra pensar, instintivamente tocou uma nota que fugiu ao conjunto de sempre. O que o acompanhava no instrumento olhou-o rapidamente e trocaram um sorriso. A segunda nota de Dixie foi puxada. O oficial preferiu não ouvir o instante surdo que se seguiu. Continuando a marchar, a tradicionalíssima Dixie foi entoada naquela manhã não mais tão monótona de segunda-feira. O oficial responsável parou e permaneceu à frente, de costas. As notas eram familiares... Pesquisou à mente; não era Cisne Branco, nem Barão do Rio Branco, obviamente... Seria... Dixie? Quando deu por si, de vários cantos, os músicos de coração que eram soldados também, foram chegando e se agregando ao grupo, numa composição sonora de verdadeiro improviso gozoso. O oficial, querendo também ele gozar, dispersou os desobedientes e alguns passaram dias vendo o sol nascer quadrado - e, nesses dias, com as notas que eles queriam ouvir e acrescentar.

***

- Mãe, o que é sexo?
- Agora, meu filho? Tou ocupada, pergunte depois.
- Mas, mãe, e o que é fissão nuclear?
- Depois, meu filho, depois.
- E capitalismo, mãe?
- Tá, meu filho. Eu vou responder uma pergunta e você pára de encher o saco que mamãe tá trabalhando, viu? Qual vai ser?
- Mãe, o que é modernidade?
- Hm... É assim... ... Tem certeza que não quer saber o que é sexo?

Um comentário:

Anônimo disse...

modernidade é não ter frescura pra falar de sexo, não dar a mínima pra fissão nuclear e rir de como o capitalismo é primitivo