segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Vizinhança

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De um lado, um vizinho. Do outro, outro vizinho. No meio, eu, duplamente vizinho, vizinho esquerdo de meu vizinho direito, direito de meu esquerdo. Viro pra um vizinho e falo “vizinho!”, mas os três olhamos. Falo para mim mesmo "eu não, ele", ao que os dois ele respondem "quem de nós?", ao que explico "o da direita". Do outro lado da rua meus vizinhos da frente perguntavam, com um grito que atravessava a rua, "a nossa direita ou a sua direita?" Os de trás, que ninguém tinha visto por estarem atrás, respondem "Da nossa!", até que o vizinho de cima se perguntou de que janela de que lado ele conseguiria entender quem estava de que lado da rua, e o de baixo, indignado, sem saber se era vizinho de cima, vizinho de lado, vizinho de outro ou se ele mesmo era vizinho, resolveu mudar de vizinhança e fez uma rápida viagem ao chão, 12 andares depois.
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[1A]
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O vizinho de baixo, indignado, sem saber se era vizinho de cima, vizinho de lado, vizinho de outro ou se ele mesmo era vizinho, resolveu mudar de vizinhança e fez uma rápida viagem ao chão, 12 andares depois que o vizinho de cima se perguntou de que janela de que lado ele conseguiria entender quem estava de que lado da rua. Os de trás, que ninguém tinha visto por estarem atrás, respondem "Da nossa!". Do outro lado da rua meus vizinhos da frente perguntavam, com um grito que atravessava a rua, "a nossa direita ou a sua direita?". Viro pra um vizinho e falo “vizinho!”, mas os três olhamos. Falo para mim mesmo "eu não, ele", ao que os dois ele respondem "quem de nós?", ao que explico "o da direita". De um lado, um vizinho. Do outro, outro vizinho. No meio, eu, duplamente vizinho, vizinho esquerdo de meu vizinho direito, direito de meu esquerdo.
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De um lado, um vizinho. Do outro, outro vizinho. No meio, eu, duplamente vizinho, vizinho esquerdo de meu vizinho direito, direito de meu esquerdo. Viro pra um vizinho e falo “vizinho!”, mas os três olhamos. Falo para mim mesmo "eu não, ele", ao que os dois ele respondem "quem de nós?", ao que explico "o da direita". Do outro lado da rua meus vizinhos da frente perguntavam, com um grito que atravessava a rua, "a nossa direita ou a sua direita?" Os de trás, que ninguém tinha visto por estarem atrás, respondem "Da nossa!", até que o vizinho de cima se perguntou de que janela de que lado ele conseguiria entender quem estava de que lado da rua, e o de baixo, indignado, sem saber se era vizinho de cima, vizinho de lado, vizinho de outro ou se ele mesmo era vizinho, resolveu mudar de vizinhança e fez uma rápida viagem ao chão, 12 andares depois. Ao chegar ao elevador, hesitou ao responder à simples pergunta do ascensorista "sobe?" e recebe como resposta: "minha subida ou a sua?". A essa altura se indagou se o céu era realmente em cima ou se ali não era na realidade o inferno, ou se o purgatório era em cima ou do lado, ou se a terra ficava no meio. Na sua condição cadavérica de recém-defenestrado perguntou ao seu vizinho no elevador pra que lado ficava o inferno, "O inferno são os vizinhos".

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[2A]

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“O inferno são os vizinhos,” disse ao ser indagado por um cadáver recém-auto-defenestrado onde ficava o inferno. Ele se perguntava se o céu era realmente ali em cima ou se ali não era na realidade o inferno, ou se o purgatório era em cima ou do lado, ou se a terra ficava no meio. Ao chegar ao elevador, hesitou ao responder à simples pergunta do ascensorista "sobe?" e recebe como resposta: "minha subida ou a sua?". Pegava o elevador após 12 andares de defenestração, numa tentativa indignada de mudar sua vizinhança, já que não sabia se era vizinho de cima, vizinho de lado, vizinho de outro ou se ele mesmo era vizinho – enquanto o vizinho de cima se perguntava de que janela de que lado ele devia se debruçar para conseguir entender quem estava de que lado da rua: os vizinhos de trás gritavam “Da nossa!”, respondendo à pergunta dos vizinhos do outro lado da rua, que com um grito que atravessava a rua indagaram “a nossa direita ou a sua direita?”. Eu me dirigia ao meu vizinho da direita; disse-o quando os três perguntaram: “quem de nós?”. Perguntaram-no pois havia dito “eu não, ele”, explicando a mim mesmo, depois dos três terem virado quando me virei para um deles e falei “vizinho!” De um lado, um vizinho. Do outro, outro vizinho. No meio, eu, duplamente vizinho, vizinho esquerdo de meu vizinho direito, direito de meu esquerdo.
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Co-autoria de Matteo Ciacchi.

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